PAZ E JUSTIÇA DESATA A GUERRA EM SAN PATRÍCIO, DIZ O CDMCH
Hermann Bellinghausen. La Jornada, 19/09/2011.
San Cristóbal de las Casas, Chiapas, 18 de setembro. O Centro de Direitos da Mulher de Chiapas (CDMCH) responsabilizou “os paramilitares de Paz e Justiça”, o PRI e o PVEM (1) “pelo clima de guerra contra-insurgente, desatado no dia 7 e elevado com violência inusitada no dia 13 contra a comunidade San Patrício, município autônomo La Dignidad”, por parte dos moradores dos municípios oficiais de Sabanilla e Tila.
A situação de cerco armado e hostilidade contra San Patrício, na região norte do Estado, tem gerado vários pronunciamentos de alerta e solidariedade e a convocação da Rede contra a Repressão para realizar uma mobilização nacional e internacional no próximo dia 22.
As mulheres do CDMCH se uniram aos protestos “contra estas agressões que aterrorizam os habitantes da região e pretendem tirar dos companheiros zapatistas as terras que recuperaram dos latifundiários e que cultivam para seu sustento diário”.
A entidade afirma: “Denunciamos especificamente Paz e Justiça que, com o apoio do governo e do exército federal, tem assolado a região norte durante 15 anos, atacando as comunidades organizadas e as zapatistas, transformando as mulheres em botim de guerra, para pôr fim à justa rebeldia zapatista e de todos os camponeses que se opõem às políticas neoliberais”.
Segundo o CDMCH, “diante da conjuntura eleitoral, grupos Priistas, como Paz e Justiça, assumem uma posição beligerante para retomar o poder da região e do Estado, dando a conhecer, com os fatos ocorridos em San Patrício, as intenções do PRI, aliado do PVEM, de recuperar com violência e a qualquer preço, o poder político nos municípios e regiões habitadas pelos zapatistas”.
Por sua vez, a Rede contra a Repressão, integrada por coletivos da Outra Campanha, rechaçou as agressões e afirmou que “a violenta pressão que os paramilitares exercem com impunidade” é para que as bases zapatistas abandonem suas terras. “A ameaça de que serão assassinados é mais uma amostra da estratégia paramilitar, sobreposta por todos os níveis de governo”, para continuar a guerra contra os povos zapatistas.
“Aqueles que, de vários lugares do México e do mundo, como nós, admiram e respeitam o digno caminhar zapatista, têm visto que as instituições só sabem gerar violência e guerra, e sabemos que os responsáveis do que vier a ocorrer em San Patrício são os governos federal e estadual e os prefeitos municipais de Sabanilla, Jenaro Vázquez López, e de Tila, Sandra Luz Cruz Espinoza”. Em sua convocação para uma “ação nacional e internacional” esta semana, a Rede denuncia o aumento das agressões contra as comunidades zapatistas. “De julho até agora, as Juntas de Bom Governo têm divulgado mais de seis agressões realizadas por grupos de corte paramilitar ou com dirigentes paramilitares como a ORCAO”.
O caso de San Patrício “é muito grave, já que os companheiros encontram-se sitiados por forças paramilitares e se teme por sua vida”. Isso “contrasta com as declarações do governo estadual no sentido de ter avançado na solução pacífica dos problemas e com o desarmamento dos velhos grupos armados, que agora marcam presença com outros nomes e siglas, mas com as mesmas pessoas em sua direção e com a complacência de policiais e dos titulares dos maus governos”.
Para a Rede, “este clima de ameaça física pretende acabar com a autonomia zapatista, que golpeia o rosto daqueles que estão à frente das instituições, já que, enquanto gastam bilhões de Pesos numa guerra supostamente contra a insegurança, são os territórios zapatistas as áreas mais seguras do país e as que saem da miséria em que mergulharam comunidades e povos indígenas”.
No último dia 15 de setembro, durante a celebração na embaixada mexicana, em Paris, do “grito da dependência”, conforme disseram, vários coletivos franceses divulgaram entre as centenas de participantes informações “sobre o que há por trás da guerra do governo Calderón e sobre as agressões paramilitares contra as bases zapatistas em San Patrício”.
(1) PRI: Partido Revolucionário Institucional; PVEM: Partido Verde Ecologista do México.
DENUNCIAM INVASÃO DE “INDEPENDENTES” EM TERRAS RECUPERADAS POR ZAPATISTAS.
Hermann Bellinghausen. La Jornada, 22/09/2011.
San Cristóbal de las Casas, Chiapas, 21 de setembro. Do caracol zapatista Resistência Rumo a um Novo Amanhecer, em La Garrucha, a Junta de Bom Governo (JBG) O Caminho do Futuro acusou os governos federal, de Chiapas e dos municípios oficiais de “organizar paramilitares”. E afirma: “Está claro que o dinheiro dado pela ONU através da PNUD é para armar paramilitares contra nossas bases de apoio e destruir a autonomia”.
Isso, ao denunciar provocações e expropriação de terras recuperadas do povoado Nuevo Purísima (município autônomo Francisco Gómez) por parte de pessoas procedente dos bairros Puerto Arturo e San José las Flores na cidade de Ocosingo, que dizem não pertencer a nenhuma organização, apesar de receber um apoio evidente da prefeitura panista.
A JBG diz que “Felipe Calderón Hinojosa e Juan Sabines Guerrero são os principais dirigentes dos paramilitares”. E questiona: “Onde está a paz da qual tanto falam? Que paz é esta que manda pessoas armadas desalojar-nos de nossas terras? È este o desenvolvimento dado pelas Nações Unidas?”. Os governantes “não fazem nada porque são eles mesmos os organizadores, os que planejam com o dinheiro dos impostos do povo do México e da ONU, gastam para destruir a paz digna que nós zapatistas queremos”. A JBG adverte: “Não queremos morrer, mas os maus governos nos obrigam a morrer, porque, que fique claro, vamos nos defender”.
E acrescenta: “Sabemos muito bem que são seus planos, com as mesmas manhas, estão sempre nos prejudicando; organizam pessoas para nos provocar; fabricam escrituras das terras recuperadas, ou seja, provocam conflitos para obstaculizar nossa autonomia”.
Os “manipuladores” que propiciam as provocações “são os prefeitos municipais que pagam os dirigentes”, que, segundo a JBG, “são os mesmos que estão falsificando os documentos das terras recuperadas”.
No último dia 18 um grupo de 45 pessoas, que dizem ser “independentes”, chegou a “se posicionar” no povoado Nuevo Purísima, num terreno recuperado de 178 hectares onde trabalham bases de apoio zapatistas. “Estas pessoas são gentes organizadas pelo mau governo e se prestam a provocar as bases de apoio do EZLN. Inclusive, essas pessoas foram transportadas em duas camionetes de três toneladas da prefeitura de Ocosingo, chefiada por Arturo Zíñiga Urbina”.
Ao ser interrogada sobre a organização a que pertencem, a senhora Angélica Matilde, de Ocosingo, que encabeça o grupo, “respondeu de forma muito ameaçadora, e todos responderam que não têm organização e disseram que estão para o que der, que têm documentos; todos estão armados de facão”.
No dia 19, por volta das 8 horas, outro grupo de 100 pessoas dos ranchos Las Conchitas e do ejido P’ojcol (município de Chilón), “que são paramilitares”, assinala a JBG, “também entraram para posicionar-se num terreno recuperado onde trabalham e estão nossos companheiros bases de apoio do povoado Nuevo Paraíso, que pertence ao município autônomo Francisco Villa”. Carregando armas de fogo, estas pessoas “começaram a medir os arredores do terreno recuperado”.
A JBG garante que defenderá “todas as terras recuperadas pelo EZLN, custe o que custar; e o mau governo sabe muito bem que as terras recuperadas já foram pagas em 1994, e não vamos permitir que venham tirar nossas terras nem que saiam expropriando e ameaçando nossos companheiros”.
Tradução: Emílio Gennari