Por Passa Palavra
De 10 a 14 de outubro, cerca de mil integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), de diversas regiões da Bahia, acamparam em frente à Secretaria Estadual de Educação, localizada no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador.
A ação fez parte da Semana Pedagógica [1], organizada para discutir a educação nas escolas rurais e reivindicar melhorias na estrutura educacional e a construção de mais escolas nas comunidades de assentamentos. Também integra a “Campanha Fechar Escolas é Crime”, lançada pelo MST, e na qual se pode assinar um manifesto contrário ao fechamento das escolas. Entre 2002 e 2009 mais de 24 mil escolas do campo foram fechadas, reduzindo de 107.432 para 83.036 escolas (dados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais [Inep], do MEC).
Um dos lemas repetidos pelos manifestantes era:
“Educação do campo, direito nosso, dever do Estado”.
(De fato, conforme a Constituição Federal do Brasil, Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo III, seção I a educação é um direito de todos e dever do Estado).
Uma das características deste acampamento/manifestação foi a forte e constante presença cultural.
Em diversos momentos as várias regiões de assentamentos e acampamentos disputavam entre si para saber qual era a mais animada e festeira.
O tradicional carro-de-som, quase ao centro do acampamento, desta vez era usado para tocar desde canções populares do campo e do sertão até reggae, passando por repentes, contos e poemas, como os de Patativa do Assaré.
No último dia, Seu Rosalvo – que possuía um mostruário onde disponibilizava bons filmes clássicos e contemporâneos (como Estômago, O Sétimo Selo e todos do Bruce Lee) e músicas de artistas como Victor Jara, Pablo Milanés, Mercedes Sosa e Racionais MC’s, além de canções do MST e os poemas de Patativa, em coletâneas organizadas por ele mesmo, pois “colecionador de filmes e músicas” – pegou a viola e foi acompanhado por companheiros e companheiras embalando a noite cultural que encerrava o acampamento.
Seu Rosalvo está na luta pela terra desde 1984, e nos disse que, naquela época – da Ditadura Militar e início da democratização nacional – a coisa era mais feia, pois, no sul da Bahia, por causa da violência dos jagunços e fazendeiros, também era preciso andar armado.
Para Márcio e Solange, da coordenação estadual e do setor de educação do MST, esta foi uma semana de aula, educação e luta que recolocou na pauta do governo da Bahia a reforma agrária e a situação dos acampamentos. Para eles, a jornada foi vitoriosa, pois, entre outras coisas, há mais de quatro anos debatiam com a Secretaria de Educação, mas só agora obtiveram a conquista de alguns compromissos, tais como:
– Garantia de construção de 8 escolas (Baixo Sul, Nordeste, Oeste, Norte, São Sebastião, Riachão das Neves, Juazeiro, Venceslau Guimarães);
– Decreto de construção de 4 escolas estaduais (Chapada, Sudoeste, Recôncavo e Extremo Sul);
– Retomada das construções que estavam paralisadas;
– Entrega dos mobiliários (deve-se levar em conta que, conforme informações do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica [Ideb], as escolas no campo sofrem com infra-estrutura precária, como a falta de cadeiras e mesas, luz elétrica etc.);
– Construção de um projeto específico para educadores do campo;
– Criação de uma comissão para encaminhar as questões próprias dos assentamentos na Secretaria de Educação.
Os manifestantes reafirmaram a disposição de lutar caso os acordos não sejam cumpridos.
Nota:
[1] Ocorreram também outras manifestações pela Jornada Nacional dos Sem Terrinhas, em variadas localidades como MA, SP, MG, RJ, ES, AL ver aqui, aqui e aqui.
Fotos: Passa Palavra
Belíssimas mobilizações/formação!
A educação no meio reural nunca foi prioridade de nossos governos e o MST deu importantes passos nesta área ao inovar com as Cirandas Infantis permanentes e itinerantes. Mas não dá para desresponsabilizar o Estado da tarefa de implantar escolas no campo e garantir o acesso à educação a tod@s!
Parabéns por estarem atentos e nos brindarem com estas informações.
Tenho várias fotos para do acampamento na SEC no Centro Admistrativo tiradas do alto do prédio, quero entregá-las ao MST na Ba, mande-me o endereço pelo meu e-mail
Grata, Luiza