Por qualquer que seja o meio ou jeito, comunicar é inerente ao ser humano. Contudo lutamos pela nossa liberdade de expressão como se tentássemos escapar dos leões. E a digníssima expressão é declarada direito nas constituições, tamanha é capacidade da sociedade em negar aquilo que a humanidade criou.
Obstante as constituições, os leões seguem tocando o terror. São eles, os donos do poder, monopolizadores da mídia, latifundiários do ar, políticos, padres e pastores, cínicos de toda espécie. Nós somos somente criaturas indesejáveis ocupando os meios, movendo-se.
Quando falamos em comunicação, não estamos falando da parafernália das grandes emissoras de TV, rádio, jornais e mega servidores privados na internet. Isso não é comunicar. Para nós, comunicar implica o diálogo horizontal entre seres humanos. A troca de experiências e de conhecimentos horizontalmente é o que move o ideal de uma comunicação livre, e não uma profusão de informações que se acumulam a partir de um único transmissor – lógica irracional que serve apenas ao capital.
Negamos as relações verticais nos meios de comunicação livre: Não há editor chefe ou patrão que dite o conteúdo a ser veiculado; rejeitamos a verticalidade nas decisões do coletivo, comum nos meios de comunicação comerciais. A prática na comunicação livre é coletiva e é autogestionária.
Não entram nos horizontes da comunicação livre propagandas com fins comerciais, relações comerciais de patrocínio ou financiamento, para qualquer que seja o fim.
Acreditamos que a horizontalidade nos meios de comunicação livres permite uma prática enriquecedora na experiência da comunicação – a prática da autogestão nos meios de comunicação livre significa a experiência da atuação direta. A ideia é “produzir recebendo” e “receber produzindo”: nada de divisão dos papéis, onde uns transmitem e outros recebem. Somos programadores e ouvintes ao mesmo tempo.
Para o indivíduo que se coloca politicamente perante a sociedade, a comunicação livre se realiza como uma atividade anticapitalista, pois nega o modo como se produzem as relações sociais no sistema. Faça você mesmo ou morra!
Contudo, toda e qualquer atividade que vá contra o capital ou é rapidamente assimilada pelo mesmo, ou, no caso de resistência, é reprimida das maneiras mais brutais possíveis. Estamos assistindo a uma intensa repressão as rádios comunitárias e livres no país: têm sido costumeiro o fechamento de rádios e o roubo de seus equipamentos pela Polícia Federal e Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
O argumento de que as rádios ilegais interferem em outras ondas, como a da comunicação entre aviões, não passa de conto da carochinha; A legislação do país para a legalização das milhares de rádios que existem por todo o território serve a tudo, menos para o exercício do direito à comunicação e à liberdade de expressão. Então, vamos logo avisando: roubem uma antena, duas surgirão. Destruam um transmissor, faremos dois! O Movimento de Ocupação do Latifúndio Eletromagnético não cessará enquanto o ar não for livre e deixar de ser quintal das grandes corporações midiáticas que o Estado com tanto afinco defende.
A RÁDIO VÁRZEA LIVRE DO RIO PINHEIROS (107, 1 fm)
Fazer rádio livre não é caçar ouvintes, não é se preocupar com quantos estão ouvindo cada música, cada ideia, se assim fosse não valeria a pena (sabemos que não atingimos multidões com nossos parcos e fracos equipamentos). É o florescimento de um meio! Muito mais do que um código ou conteúdo a ser veiculado, é o veículo. Não importa o que, o importante é onde para o que acontecer. A rádio livre é isso, é o espaço livre onde a expressão se realiza, onda a palavra é tomada, é ruída! Se estivéssemos em busca de audiência deveríamos antes de tudo ter um daqueles medidores de ibope como tem os Gugus, as novelas e os JNs da vida. Fazer rádio livre é buscar, angariar a liberdade em um mundo de repressão: é lutar contra o famoso (e tenebroso!!!) latifúndio eletromagnético. As rádios livres só existem porque sabem sentem que não há liberdade!
A Rádio Várzea é só mais uma (mas não é só uma) nessa luta. Como qualquer várzea ela enche e esvazia com as cheias e secas, ela não é constante (quem se pretende constante é a Globo, Record e todas as outras com seus padrões mercadológicos de “”“qualidade”””). Mas como qualquer rio, o nosso também transborda e nossa enchente leva nomes como Osama Bin Reggae, ocupação da freqüência da rádio Bandeirantes no meio de um jogo de futebol (2005), em que foi lido um manifesto, corres com Fábricas ocupadas, com Sem tetos e Sem terra, oficinas pela cidade, ajuda na montagem de rádios, entre tantas outras fitas. É tru, nosso rio também bagunça quando transborda!!
Assim como a várzea do rio Pinheiros onde ela está situada, ela corre na horizontal, sem hierarquias e verticalidades: em um coletivo de rádio livre ninguém pode ser melhor que ninguém, ninguém caga regras!!
Em tempos de comoção quando morre um filho da puta que encheu o cú de dinheiro, fama e poder produzindo tecnologia para poucos (mas explorando o trabalho de muitos!!!) as rádios livres tem muito mais a oferecer à sociedade do que qualquer novo software ou novo aplicativo. Uma rádio livre (como é a precursora Muda, Pulga ou a Várzea entre tantas, mas tantas outras) é um laboratório aonde se flerta e se testa um novo mundo em que todos os ifones (e seus adjuntos) se curvarão diante do: eu, você, todos nós comunicamos. Quebrando a lógica que rege o mundo, a lógica do espetáculo aonde bilhões de seres (des)humanos são espectadores boquiabertos diante de uma tela qualquer.
Na rádio várzea não há espaço para o profissionalismo. Gaguejar, o sotaque, errar a música, estourar o som, ficar em silêncio, não saber o que falar e o xiado fazem parte do dia-a-dia desse espaço onde o microfone é livre. É a gente mesmo quem faz.
A Rádio Várzea é um espaço de resistência, mas sobretudo de re-existência. Não estamos apenas interessados em negar esse sistema moribundo, nossa luta também é propositiva, é uma reinvenção da vida, do uso da palavra, da transmissão criativa, da comunhão sonora, da diversão, do devir, a imanência radiofônica, o fortalecimento dos vínculos afetivos, das amizades e das trocas de linguagem em torno de uma emissão livre, na freqüência 107,1 FM Livre. Porque o ar é livre! ONDAS LIVRES!
Quer participar da várzea?! Fazer um programa?! É só chegar! Ocupamos uma sala no espaço aquário do prédio da História/Geografia da USP.
O tempo do terrorismo acabou. A Rádio Várzea Livre não mais tolerará sabotagens por parte da Universidade de São Paulo. A discussão sobre comunicação é pública e exigimos um posicionamento da comunidade acadêmica para além da questão da legalidade. Porra, não parece claro que enquanto vigorar o capital, rádio livre será ilegal? Se a universidade não possui espaço para a discussão e reflexão sobre a sociedade, ela serve pra quê então?!?
Outras formas de se comunicar se fazem necessárias e urgentes para uma mudança em nossas vidas. Fortalecer essas formas que temos, criar outras e expandir o debate para dentro e para fora da academia são questões que se colocam a todos os coletivos de comunicação livre! Pra cima deles!
RÁDIO VÁRZEA LIVRE – SINTONIZE E PARTICIPE! 107, 1 FM LIVRE!
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