Por Anônimo

Como várias vezes já foi tematizado por aqui, tem sido uma tendência dominante que, na era das redes, da web 2.0, do espetáculo, do trabalho imaterial, da lógica da inovação, etc., etc., ideias contestatórias ou subversivas acabem sendo assimiladas pelos mecanismos do capitalismo, se tornando elemento de sua própria renovação e valorização. Não que isso seja uma novidade de nossa época, mas convém reconhecer que o inverso também acontece: quando algo é criado para funcionar dentro de certos parâmetros e acaba escapando mesmo às normas mais cautelosas. Vejam que situação curiosa.

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Em agosto deste ano foi inaugurada às pressas a Escola Técnica Jornalista Roberto Marinho, uma unidade de ensino administrada pelo Centro Paula Souza, uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia. Como é bem sabido, todo o processo foi bastante nebuloso. Pouco antes da conclusão do projeto, pequenos blogs de notícia e jornais de emissoras rivais chegaram a publicizar o fato de o terreno no qual a unidade de ensino iria ser construída, apesar de pertencer ao estado, vir sendo ocupado pela Rede Globo, que cercava com seus seguranças a propriedade vizinha à sua sede na capital paulista.

Resumidamente, desta confusão quanto à posse do terreno resultou uma parceria público-privada: a construção de uma escola de nível técnico voltada para a área de comunicação, que oferece, a princípio, cursos de Multimídia e Produção de Áudio e Vídeo. A Globo, interessada em construir no terreno um centro de formação para seus funcionários e candidatos a tal, arcou com a despesa da estrutura do prédio e a manutenção da área verde; ao Estado coube colocar a escola em funcionamento, contratar funcionários, professores, realizar o vestibulinho [preparação para exames de entrada] e estruturar as grades curriculares.

paulo-alexandre-barbosa-governador-etec-roberto-marinho-inauguracaoApesar da realização de uma cerimônia de inauguração, no dia 15 de agosto, a escola ainda não estava completamente estruturada: faltava desde linha telefônica e acesso à internet até aos equipamentos essenciais ao desenvolvimento dos cursos, como câmeras, equipamentos de luz, softwares, etc. – tudo isso em uma escola de comunicação! Porém, para que a solenidade em que estariam presentes os ilustres das instituições envolvidas ocorresse e pudesse ser transmitida pelo telejornal da emissora, vários equipamentos foram emprestados por outras unidades da autarquia, para que o cenário fosse devidamente montado.

Ainda hoje, início do mês de novembro, muitas destas estruturas essenciais continuam faltantes, com a diferença de que parte dos alunos já se cansa de esperar e algo começa a sair do roteiro. Em se tratando de uma escola da área de multimídia, audio e vídeo, o resultado não poderia ser outro:

1 COMENTÁRIO

  1. Sou professor (contratado) da ETEC de São Sebastião/SP há um ano. Neste tempo pude perceber com clareza que as ETEC´s são, na verdade, uma grande jogada eleitoral do PSDB. A cada vestibulinho são divulgadas as ampliações de vaga, números e mais números, mas não há uma só unidade onde não falte algo básico. Por aqui, por exemplo, os professores não têm como tirar xérox de algum material para trabalhar em sala e até chega a faltar tinta para impressão das provas…para não falar dos salários… Se algumas ETEC´s ainda conseguem manter uma certa “qualidade” na educação (sem entrar no mérito do termo, bastante complexo), isto se deve ao compromisso e comprometimento dos profissionais da educação…

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