O clima era de contestação. Era o primeiro dia do acampamento e já havia conversas, discussões e debates por toda a praça. Ele, marxista de longa data, multiplicava a sua presença em cada canto, participando com a força que dá a alegria revolucionária. Quando o estômago reclamou, dirigiu-se ao grupo das mulheres:
– Então? São vocês que fazem o jantar, não é?
Mas elas estavam reunidas a discutir feminismos.
– Porra! Anda um gajo a tratar da revolução e não pode comer quente?
Foi então para o bar, comer um petisco e falar com os colegas sobre as mamas dalguma camarada. Passa Palavra
Que gracinha…Elas se reúnem entre elas, pra poder falar, já que por tanto tempo se calaram, para que os homens falassem, sempre falando os homens…agora que encontram a palavra querem mesmo um canto onde não hajam homens para colocar suas palavras no meio do assunto…Não por que queiram estar á parte, mas pra fazer parte elas precisam se organizar entre elas, com eles mas entre elas primeiramente.Certa vez tive um pensamento machista nos grupos de mulheres que faço parte, tipo; “ah nós falamos demais, que nem maritacas no coqueiro”, mas nossa depois pensei, deixe que nos organizemos, ficamos tanto tempo caladas que agora a gente quer mesmo é falar. Por isso falávamos tanto.Agora palavra é nossa (também).PassaAPalavra! rs *E nào nos procurem pra fazer comida mais. Nos procurem pra dividir o assunto homens…e somar.
O clima era de contestação. Era o primeiro dia do acampamento e já havia conversas, discussões e debates por toda a praça. Ela, marxista de longa data, multiplicava a sua presença em cada canto, participando com a força que dá a alegria revolucionária. Quando o estômago reclamou, dirigiu-se ao grupo de empregadas:
– Então? São vocês que fazem o jantar, não é?
Mas elas estavam reunidas a limpar o chão.
– Sim, senhora, somos nós que fazemos o jantar. Serviremos logo mais.
Foi então para junto das feministas universitárias, dentre as quais já se contava uma secretária e uma promotora, avisar que as empregadas serviriam o jantar e a discussão poderia se estender por mais alguns minutos.
Esse aí poderia ser o final da história…quando os homens e as mulheres já estão se comunicando muito bem…Aí as empregadas fazem a comida, os empregados picam as batatas e as cebolas para elas fazerem o jantar e os(as) marxistas(os) revolucionários(as) se lambuzam com a coxas de frango falando com bocas de óleo, suas indignações sobre o mundo e pobreza.
Na universidade, enquanto as professoras discutem feminismo as alunas servem, gratuitamente, a água e o café, mas quando não são elas são as terceirizadas, que ganham 600 reais por mês.
Fico a imaginar o que as terceirizadas devem pensar do feminismo uspiano, por exemplo.
Pois eu conheço feminista cujo namorado não lava uma copo que suja, ela lava tudo. E o pai também não lava e nem o irmão. O feminismo dela é só da rua para fora, não envolve família. Depois fui vendo que essa regra é muito comum dentre as feministas, a família nunca é alvo de crítica e os namorados o são somente depois do fim do relacionamento.
Ora, desejo eu que elas sejam em público o que são em família? Não! Mas se são tão servas com os namorados e pais qual a razão de tal feminismo quando se trata da esfera pública?
Eu realmente não discordo do que aqui foi colocado por todos, mas percebo que na história da mulher, sempre tivemos “amarras”. Essas amarras ainda estão presente na minha criação, e acredito que na de todas mulheres e homens também. “Existe um receio entre ás mulheres da poluição sexual. Nas cerimônias de puberdade, se ensinam as raparigas a serem submissas em relação aos seu maridos. Humilham-se as candidatas exaltando a virilidade dos maridos,se tiver descontente pode sempre ir-se embora, não há mais nada a fazer. Não é punido como seria a mulher, se abandonasse o domicílio conjugal.” (Sobre os Bemba, Mary Douglas- Pureza e perigo). Coloco esse trecho como um pequeno exemplo, não para defender o feminismo, mas para mostrar que as diferenças entre homens e mulheres existiu e ainda existem, e não necessariamente por causa das feministas ou feminismo,e sim por essas construções que devem ser desconstruídas( por isso vemos quem quase sempre leva o café e água nas “convenções feministas” e outras mais são as mulheres). Não defendo a ideia de que as mulheres devem se organizar entre elas somente, não foi essa a mensagem que tentei deixar, pois isso parte de uma soma uma luta única por assim dizer, não de homens ou mulheres, ou mulheres sem homens, mas mulheres e homens… Essa questão que deveria ter sublinhado na postagem. E se o namorado da feminista não lava um copo é por que ele tem essa noção construída de que alguém vai fazer pra ele, e geralmente que fazia e faz ainda é uma mulher, se não é a sua “namorada feminista” será a empregadA que irá fazer para ele. Enfim ainda existe muitas couraças para se afrouxar nos corpos femininos, e o processo para isso está se fazendo passo a passo. Agora se algumas limpam o chão e outras mandam, isso já é algo em comum entre homens e mulheres, precisamos mesmo desenvolver esse comum, para ser mesmo comum de verdade, de fato.
“Agora se algumas limpam o chão e outras mandam, isso já é algo em comum entre homens e mulheres” (Paola)
Paola conseguiu explicitar o núcleo do que é o feminismo atual: liberdade para as mulheres, igualdade para as mulheres, exceto diante dos patrões. É assim que o país se enche de feministas e as mulheres trabalhadoras continuam precarizadas.
Mas é exatamente isso que estou contestando Maria, não estou defendendo essa ideia mas sim contestando, não deu para perceber o tom irônico que utilizei, na escrita isso é mais difícil. Mas é isso que se torna perigoso a contradição e a ambiguidade que soa nas palavras. As mulheres exploram assim como os homens, o que quis dizer foi isso. O patrão ou patroa e explorado ou explorada é algo em comum, entre nós esse é um ponto, por isso disse que devemos desenvolver um comum que seja de fato, para chegar nessa mesma questão que aí está falando e eu realmente tentei. E daí em frente tudo caminha e se constrói.