Por Passa Palavra e entrevistados

As entrevista que se seguem foram realizadas com Pedro Arantes, professor de História da Arte da Unifesp – campus Guarulhos, no dia 12 de junho deste ano, e com uma técnica-administrativa da Universidade de Goiás. Na ocasião da primeira entrevista, professores, estudantes e servidores técnico-administrativos das instituições federais realizavam no centro de São Paulo uma das primeiras atividades conjuntas, a fim de impulsionar a unificação das lutas. Já as respostas da técnica-administrativa nos foram oferecidas no decorrer desta semana.

Atrasamos a presente publicação porque tínhamos a intenção de que as entrevistas fossem uma peça num conjunto de outras. Chegamos a realizar entrevistas e enviar questionários para outros estudantes, técnicos e professores em algumas universidades públicas federais de alguns estados do país. No entanto, por problemas de diversas ordens, não obtivemos resultados.

Nas linhas abaixo, um professor e uma servidora técnico-administrativa, a partir do ponto de vista de suas atuações, comentam alguns aspectos sobre o atual contexto em que se ocorrem as recentes mobilizações, que parecem atingir números históricos. Até sexta-feira, dia 29 de junho, 56 das 59 universidades federais (mais de 90%) encontravam-se com suas as atividades paralisadas. Entre promessas e cancelamentos de reuniões, as lutas dos três setores que compõem as instituições federais de ensino superior continuavam sem nenhuma contraproposta do governo.

Passa Palavra (PP): O que mudou na universidade depois da implantação do Reuni e qual a sua posição sobre isso?

Pedro Arantes (PA): É preciso diferenciar a expansão do ensino público superior e o Reuni. Evidentemente que o Reuni faz parte da expansão, mas isso porque a grande maioria dos professores da rede pública, os estudantes e a sociedade brasileira defendem a expansão, isso é inegável. E há uma inversão de um ciclo que foi fundamental: a herança do Fernando Henrique, e que ainda se manteve no primeiro mandato do Lula, foi de ampliação do ensino privado, do ensino superior como mercadoria, como venda de diplomas, com as universidades se agigantando; inclusive algumas delas sendo vendidas para empresas internacionais de ensino. O PROUNI, que é o sistema de bolsas nessas faculdades particulares, legitimou esse sistema de ensino cada vez mais privatista, de baixa qualidade, e anistiou dívidas e continua até hoje (parece que vai haver uma votação de anistia de mais de 14 bilhões de reais do ensino privado superior). Então, era um grande negócio tanto das empresas quanto dos interesses político-eleitorais. A virada em direção ao Reuni, em direção à expansão do ensino superior público, é um marco histórico e ele tem que ser defendido. Acho que nesse momento vários professores ficam até insatisfeitos quando se critica o Reuni completamente no sentido de descartá-lo como mudança qualitativa e quantitativa estrutural na história do ensino superior brasileiro. Nossa questão é corrigir problemas do Reuni que, inclusive, está se encerrando agora; vai ter um novo ciclo de expansão. Têm questões tanto ligadas à carreira docente, à infraestrutura dos campi, à maneira de expandir, de tornar pública essa situação e envolver a sociedade, de amplificar, digamos assim, o debate sobre que formação que queremos para nossos jovens, não só responder às demanda do mercado ou às demandas particularistas. Então nossa mobilização agora é construtiva, não é antagônica; e não é à toa que não só no ministério da educação como nas reitorias percebem que é uma luta necessária e que a expansão não pode se dar com precarização. Nossa luta é para que a expansão se dê com qualidade, tanto salarial quanto de condições de ensino e, fundamentalmente, para que a gente se pergunte qual é a universidade pública que queremos no Brasil, no século XXI, sabendo que vários desses campi estão sendo instalados em regiões que nunca tiveram ensino superior antes. Então tem uma questão de abrir novas fronteiras para a formação universitária, que implica em novidade do ponto de vista do ensino, da pesquisa e da extensão, muitos desafios que a expansão do ensino superior público coloca e que vão evidentemente para além da questão salarial; mas essa, como a gente sabe, está na base da qualidade de qualquer política educacional.

PP: Na sua opinião, a expansão promovida pelo Reuni, que levou a implantação de alguns campi em periferias e regiões do país antes pouco equipadas, acarretou que tipo de mudança no plano das mobilizações recentes?

PA: A expansão do ensino superior público mudou qualitativamente a universidade no sentido de que ela deixou de estar nos espaços das elites para estar nas periferias, nas quebradas; os estudantes vêm de periferias, de ensino público, são majoritariamente negros e mestiços, mulatos. Então, a gente tem uma nova turma de estudantes que vai fazer diferença, ou pelo menos a gente espera poder formá-los para fazer a diferença. Não é fazer o ensino raso, modelo Bologna, instrumental, para jogá-los no mercado. Acho que são muitos professores que estão na expansão do ensino superior que estão ainda interessados em ampliar o campo do pensamento crítico radical, ampliar o campo das pesquisas em áreas que até hoje foram desprezadas ou pouco incorporadas no debate político e acadêmico. Enfim, têm muitas tarefas e nós estamos no início de um ciclo.

PP: No campus de Guarulhos, onde você dá aula, depois da reintegração de posse  em que situação ficou a mobilização? [*]

Nós, professores, queremos manter a greve, pois consideramos ela legítima, necessária, e conseguir constituir de fato um melhor entendimento entre professores e estudantes, porque a ocupação e as ações que antecederam ela esgarçaram demais as relações. Nós consideramos que a unificação das paralisações e atividades conjuntas e o reconhecimento dos erros dos dois movimentos podem servir para que a gente saia dessa greve mais fortes, mais capazes de retomar o sentido público, político e pedagógico do nosso campus.

[*] Nota do Passa Palavra: Salientamos que a entrevista com Pedro Arantes ocorreu no dia 12 de junho, 6 dias após a Polícia Militar e a Polícia Federal terem realizado a ação de reintegração de posse do campus da Unifesp de Guarulhos, que encontrava-se até então ocupado pelo movimento estudantil. Portanto, o contexto da conversa encontrava-se fortemente marcado por estes últimos acontecimentos.

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Passa Palavra (PP): No dia a dia da universidade, o que mudou desde a implantação do Reuni do ponto de vista da atividade que você executa?

Técnica-administrativa (TA): A atividade que eu executo não é algo fundamental para a vida universitária. Não na minha opinião. É tarefa de divulgação e difusão de conteúdo. Comunicação. E noto que as Assessorias de Comunicação das universidade se estabelecem conforme a visão de mundo dos gestores. Na universidade em que trabalho, o setor de Comunicação tem sido encarado como importante para que se tornem públicas (ou publicadas), essencialmente, as ações da equipe gestora. É preciso dizer que se está fazendo e prestando contas. O que, no dia a dia, faz os trabalhadores ficarem reféns do entendimento que seus chefes têm sobre a prática comunicativa (para que serve a comunicação dentro da universidade?) e sobre o relacionamento da comunidade universitária (é preciso falar de problemas ou somente dos “bons” resultados?). Eu já fui censurada sutilmente algumas vezes, pelo simples fato de a chefia entender que aquele tipo de tema não deveria ser abordado pelos veículos de comunicação da universidade, que não deveria ser escancarado sob pena de queimar a imagem da universidade como um lugar de virtude e de formação humana. Na minha opinião, a vida universitária está longe de ser virtuosa e voltada plenamente para a formação humana. Pelo contrário, cada dia estamos mais expostos ao esquema de competição e treinamento que vigora no Mercado. Isso faz com que as contradições sejam bastante evidentes no nosso dia a dia. Então, por que não podemos discutir com franqueza os papeis que a universidade não cumpre? Os rótulos que a universidade construiu para ela mesma (“pública, gratuita e de qualidade” ou espaço de “construção de saberes”, “democrático”, “de debate” etc.) impedem que a comunidade universitária faça autoanálise. E isso é reforçado grandiosamente pelas Assessorias de Comunicação. “Está tudo indo bem”, dizem os jornais internos, ainda que o sufocamento entre as pessoas seja enorme.

E o que o Reuni tem a ver com isso? Indiretamente, vejo que o número de vagas cedidas para as universidades e a visão das instituições de que as Assessorias são necessárias fizeram com que muitas vagas específicas para jornalistas, redadores, produtores, designers e fotógrafos fossem criadas. Não sei se há alguma orientação do MEC nesse sentido. Algo do tipo: “vamos estruturar os setores de comunicação das universidades”. Mas notei que, num prazo de cinco ou seis anos, quase todas as universidades brasileiras criaram vagas para comunicadores visando estruturar assessorias. Eu mesma fiquei em dúvida se faria uma rodada de concursos por várias capitais brasileiras. De modo geral, no que diz respeito à minha prática atual, sinto uma sobrecarga tamanha. Sou repórter, redatora, atendente de demandas da imprensa local, produtora e até em organização de evento já me envolvi. Desde que entrei na universidade pública brasileira como servidora técnico-administrativa, há três anos e quatro meses, trabalho mais de oito horas diárias, não recebo hora extra, apenas posso fazer um banco de horas e sinto que os pedidos por cobertura da comunicação só crescem. Fiz meu mestrado trabalhando e, na ocasião, consegui reduzir minha jornada de trabalho para seis horas, com redução do salário, e ainda assim minha chefia por pouco não autorizou que isso acontecesse. Já cheguei a trabalhar em casa, à noite e também aos finais de semana e feriados, porque as demandas sempre aparecem como “urgentes”. É urgente anunciar tais e tais e tais iniciativas das unidades acadêmicas. E nem sempre os chefes reconhecem que trabalhamos a mais do que o previsto nos editais que nos “contratam” ou que nos fazem servidores públicos.

No último evento em que participei, prestando “assessoria de comunicação”, cheguei a participar de panfletagens em feiras no sábado pela manhã, sem que a minha chefia tivesse tomado ciência. E simplesmente porque os meus “clientes” (sim, as pessoas na universidade se sentem meus “clientes”!) e organizadores do tal evento entenderam que assim teria que ser, que seria necessário para a divulgação do evento esse tipo de ação. Esses “clientes” normalmente são professores e, ao que tudo indica, para os professores está tudo bem trabalhar nos períodos de denscanso. Nesse caso específico do exemplo que estou dando, da panfletagem, não condeno o entendimento do “cliente”, mas sim a total “ignorância” por parte da minha chefia com relação ao que estive fazendo. Nunca fiz corpo mole sendo servidora técnico-administrativa e sei que meus colegas também não. Acho que não pegamos essa fase de barnabés. Por outro lado, já passei também por fases de total apatia em serviço, tendo ainda assim que cumprir horário. Os meses de janeiro e julho, quando estudantes e professores entram de férias, são completamente apáticos para os técnicos, a “área meio”, sempre “a serviço” das demais categorias. Então é esse o tempo que temos para nos organizar, estudar, planejar a tarefa do ano todo. Na minha seção, isso nunca é feito com tranquilidade. Então, fico na dúvida se a sobrecarga do meu trabalho se dá por desorganização no meu setor, por dificuldade dos gestores de agirem como gestores, de fato, ou porque os tempos na universidade são de trabalho sem reflexão, tal e qual o Mercado.

E o Reuni? Acompanhei a implantação do Reuni em outra universidade em que trabalhei, meu primeiro concurso, seis anos atrás. Lá eu era servidora docente. E estava bastante crua e perdida nesse mundo acadêmico, pois entrei nesse meu primeiro cargo público dois anos depois de formada e apenas iniciando a longa “jornada” de formação continuada e pós-graduação. O que notava é que os professores colegas meus, mais experientes, queriam implantar o Reuni a qualquer custo pelo simples fato de que a universidade receberia mais vagas de professores e mais verba. Mas, notava também que o interesse nessas vagas e nessa verba não necessariamente era para fazer a universidade crescer, para criar cursos que a comunidade necessita, mas sim para que as pessoas tivessem ganhos pessoais. Na primeira universidade em que trabalhei, o Reuni era usado claramente como barganha política. Na atual universidade onde trabalho, não sei como se deu esse processo. Mas imagino que ele também não foi amplamente debatido. Não com franqueza. Eu fico bastante em dúvida quanto ao espírito servil dos gestores da maioria das universidades públicas brasileiras. Questionam pouco a entrada da Mitsubish ou da Nokia ou da Bayer em seus campi, porque, afinal, é dinheiro. “Dinheiro é coisa séria”, disse certa vez, simbolicamente, uma líder sindical, em assembleia. Os gestores pouco são capazes de dizer ao governo federal: “desse jeito eu não quero”. Foi assim também com as (re)estruturações universitárias que ocorreram em 1968 e em 1989. Me incomoda muito os reitores assumirem, via de regra, uma postura favorável ao que determina a macropolítica. A minha conclusão é que o Reuni interfere indiretamente no meu trabalho, mas que algo maior que ele e que é preponderante para a tentativa de instalarem uma linha de produção de comunicação em massa na universidade é o pensamento hegemônico do produtivismo. Posso estar enganada.

PP: Como estas mudanças têm impactado nas formas de mobilização e luta dentro da universidade?

TA: Grosso modo, o que posso dizer é que se você recebe muitas tarefas, seja em que setor for, você fica tão louco para executar tudo e encerrar temporariamente o trabalho (e depois receber mais tarefas) que não há muito tempo para fazer reflexões e também se unir ao grupo que trabalha ao seu lado. Você sequer tem grande tolerância com esse grupo e esse grupo com você. Por exemplo, eu estava vivendo um clima de forte tensão nos últimos meses, em razão de um grande evento que muitos setores da universidade estavam organizando. Havia uma obrigação atribuída a mim, e estabelecida entre as pessoas envolvidas na realização desse evento, de que eu deveria por todo o custo atrair a mídia e o público geral para o tal evento. Isso impediu que as bases do evento fossem discutidas entre mim e o grupo. E impediu também que os reais motivos de sua realização fossem escancarados. Quando o evento ocorreu, entramos em greve. E resolvemos seguir com sua realização. Solicitei que as pessoas que encabeçavam a comissão organizadora declarassem por escrito seu apoio ou não à greve. Isso não foi acatado pelo grupo, com o argumento de que não haveria tempo hábil para a tal escrita. E me parece que o grupo sequer procurou o comando de greve para conversar. Esse exemplo que estou dando é para dizer que: 1. A obrigação de que seja realizado um trabalho aos moldes do Mercado, tal e qual um espetáculo midiático (eventos são espetáculos, não?), impedem que as pessoas destinem seu tempo para questionamentos e para reflexões mais básicas do tipo “por que eu estou aqui?”. 2. Não há tempo, também, de fazer análises de conjuntura que enlacem a tarefa diária ao todo social e ao todo da vida universitária. 3. Ainda que o tempo exista, muitas vezes não há disposição para que a vida universitária seja levada em sua plenitude. As pessoas querem realizar suas tarefas e irem se guardar em suas vidas privadas. Eu também quero isso, às vezes.

Há, por outro lado, um mito entre as pessoas que trabalham e estudam na universidade de que elas são muito engajadas e que só de estarem vivendo no ambiente universitário são privilegiadas e devem, então, cumprir sua “função social” de “repassar” a “luz” que recebem e aspiram. Isso, na minha opinião, esse fetiche com a própria prática e o próprio posicionamento social, também atrapalha a luta. Pois as pessoas não querem muito parar para fazer autoanálise e refletir sobre os processos. Querem resultados de glória. O que mais me incomoda são os processos sempre massacrantes, cansativos e até mesmo humilhantes para que tal resultado de glória ocorra. Somos levados a perder a paciência e a brigar uns com os outros sempre, no trabalho e na militância. Então, tudo perde o sentido. Fugi da questão? Não sei se somente as mudanças provocadas pelo Reuni fazem com que venhamos perdendo a vontade de construir um ambiente aprazível. Penso que o Reuni é um detalhe em um processo maior de vida desenvolvimentista e toyotista (não sei ao certo se estou equivocada quanto a esse termo-conceito) que o Brasil constrói para si, nesse nosso tempo. É uma grande ilusão, me parece. Me parece muito inútil defender o “crescimento” da universidade pública brasileira, que está subindo no ranking mundial de pesquisas e recebe cada dia mais gente em suas dependências. Inútil porque isso nos desgasta e não temos tempo de buscar respostas plausíveis e mínimas para a simples questão: “para quê?”.

PP: Por outro lado, por que o movimento de luta nas universidades ainda é incapaz de dialogar com a sociedade, com os que estão “de fora” dos muros universitários?

TA: Olha, sinceramente, eu acho que esse diálogo com a sociedade não vai acontecer enquanto tiver gente dentro da universidade pensando que tem uma “função social” a cumprir, que tem que levar a luz para a comunidade. Enquanto o espírito extensionista não for revisto, enquanto as pessoas que trabalham e estudam na universidade não se despirem de suas vaidades intelectuais, não abandonarem a ideia de que necessariamente devem levar alguma “melhoria” para a sociedade, não vai ter diálogo, de fato. Outro dia eu fui levar uma gravação que eu queria que divulgassem na rádio do Mercado Aberto, aquele conjunto de camelôs que tem no centro da cidade, e a pessoa responsável pela rádio livre me perguntou: “Você é da PUC? Da Anhanguera? Ah, da Federal. Dá no mesmo, né? É tudo faculdade”. É assim que as pessoas pensam cá fora. Chegamos nos ambientes e as pessoas nos olham como prepotentes desligados da vida real e automaticamente nos tratam com desdém. Isso, na minha opinião, é um reflexo de como a universidade pública brasileira historicamente está acostumada a estender suas ideias e seus ideias a um grupo muito restrito de pessoas e a pensar que está fazendo muito, que é parte importante para o desenvolvimento humano e social – quando é uma fábrica de diplomas, de atores sociais medíocres ou, no muito, de “intelectuais do poder”.

Esse espírito do burguês iluminado é que acaba com todas as possibilidades da universidade. Me parece mais sincero o teórico ou pesquisador que não tem o objetivo de contribuir com a comunidade do que o que tem. Porque o que tem pensa sempre que “leva” algo. Dificilmente ele quer receber, pouco há de troca ou, se há, é raro que essa troca seja sincera. E, falando nos movimentos de luta da universidade, não podemos nos esquecer que eles estão tão cooptados pelo sindicalismo burocratizado como os outros movimentos de luta que temos no Brasil de hoje. Estou generalizando, não deveria, sei que os movimentos são também espaços ricos de debate e contradições. Mas é triste ver também a manutenção de movimentos confortavelmente atrelados ao governo. Não podemos esquecer também que as frentes de luta da universidade, entre si, não se entendem, não têm um objetivo comum e não abrem mão da politicagem e dos arranjos internos. Parece que este ano de 2012 o quadro está um pouco diferente, não sei. Nesse momento de greve, acho que tínhamos de fazer debates lançando uma única questão: “por que fazer greve?”. E fazer esse debate na rua, para ouvir o que as pessoas têm a dizer. Dificilmente a universidade quer ouvir o que a comunidade externa tem a dizer. Ela só quer dizer da e para a comunidade. Aí não tem diálogo sincero, né?

PP: Há algo mais que queira dizer?

TA: Não sei… Acho que disse muito. As angústias são muitas e o desânimo, nesse momento, também é grande. Me incomoda muito uma greve por salário. Eu queria uma greve para pensar “por quê?”, “para quê?”. Entre os técnicos, a greve é claramente por salário. Há outras pautas, claro, uma pauta nunca é única, mas em grande parte nós estamos preocupados com o nosso salário de amanhã. Todo ano faremos greve por salário? E se conseguimos nosso aumento e nossas políticas de carreira e progressão? O que faremos depois? Gosto da bandeira de questionar a expansão da universidade. Isso me parece mais forte entre estudantes e professores. Mas ainda não consigo imaginar a universidade pública brasileira se desenvolvendo por si própria, com base em um entendimento que saia de suas “bases”. Todas as outras vezes que a universidade pública brasileira recebeu recursos para “crescer” e para se formular ou reformular, foi porque um acordo internacional foi feito ou porque o governo tinha uma “política” para mandar fazer. Talvez o pessimismo seja uma limitação minha. Tomara. Seria possível cada instituição de ensino parar um pouco e apontar de que forma quer, simplesmente, “ser”?

Ainda aguardamos as manifestações daqueles com quem entramos em contato e, tal como está indicado na coluna da direita de nossa página, convidamos outros voluntários a enviarem contribuições sobre o mesmo assunto.

3 COMENTÁRIOS

  1. E vem aí o PRONATEC, que ninguém está dando atenção. Já está sendo chamado de “PROUNI dos Institutos Federais”. Tem um debate esclarecedor em pdf, no site do Sinasefe-sc:

    http://www.sinasefe-sc.org.br/

    Ver Documentos/seminário sobre o Pronatec

  2. Vale ressaltar o artigo publicado hoje, no jornal Folha de São Paulo, do economista Antônio Delfim Netto – chamando a atenção para o que é fundamental, ou seja, o papel de Gilberto Carvalho no encaminhamento das negociações:

    ***

    Em segundo lugar, a posição firme da presidenta Dilma Rousseff em relação ao aumento dos servidores públicos. A tragédia europeia já deveria ter acendido a luz vermelha nos sindicatos e no Congresso. A prodigalidade fiscal sempre termina mal. Cabe ao ministro Gilberto Carvalho, companheiro enturmado, convencê-los de que o aparente “bem maior de hoje” é um seguro “mal maior de amanhã”.

    ***

    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antoniodelfim/1118082-pragmatismo.shtml

  3. Engraçado… Dezenas de categorias do serviço público em greve e numa campanha unificada. Por que o Passa Palavra só fala das universidades? Vocês não tem interesse nos outros trabalhadores? Ou o coletivo só atinge a academia?

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