Suape Sitiada: a revolta operária da última quarta.
Parte dos operários deram nesta última quarta uma aula de política no complexo industrial e portuário de Suape.
A greve continua, diziam muitos que agiam autonomamente. Eles tentaram realizar uma assembleia na manhã de quarta para decidir os rumos da greve, que começaria em ruptura com um sindicato que já deixava claro em que lado estava jogando.
O sindicato já havia declarado a greve ilegítima e queria estudar punições que incluíam até demições. Um dos operários nos contou que o SINTEPAV (sindicato) rasgou a pauta da assembleia e junto com a polícia atuou no sentido de deslegitimar e dispersar os operários. Uma organização sem líderes, numa prova de rebeldia e maturidade política capaz de ameaçar a honra da burocracia sindical e a paz da classe patronal.
Desde há alguns dias muitos operários vinham cultivando uma revolta contra o Sintepav-PE. O motivo é que as lideranças do sindicato burocratizado realizou acordos com a classe patronal sem consultá-los. Alguns deles constantemente afirmavam que o sindicato estava comprado.
Quando chegamos na portaria oeste do complexo, a multidão eufórica já dava seus primeiros avisos: não sigam porque lá tão jogando pedra. ALguns kilometros de estrada engarrafada de ônibus e operários nos separavam do foco da revolta. O local onde os operários, a despeito e contra o sindicato, haviam tentado realizar a assembleia. Quanto mais nos aproximávamos do foco mais corre-corre e tensão poderíamos presenciar, até que o esplendor da fumaça negra que nascia dos ônibus em chamas nos convocou de imediato ao foco.
O presidente da refinaria Abreu e Lima disse ao Jornal Do Commercio que se tratava de uma crise de liderança sindical. Em outras palavras é uma crise de dominação dos operários. Entretanto, não é o fato de que os operários sejam marionetes num processo político que incomoda o Jornal do Comércio, a Folha de Pernambuco e, talvez, toda a grande mídia. Mas sim o fato deles estarem se rebelando contra essa condição.
O que eles chamam de clima de guerra nós chamamos de clima de revolta, de clima de maturidade, de, enfim, clima de consciência política.
Dois operários foram detidos na quarta e hoje já estão no COTEL. É preciso agirmos com solidariedade ou iremos ver dois deles pagarem por todos os danos que foram causados às empresas.
Para a Folha de Pernambuco o dia de quinta amanheceu tranquilo em Suape. A PM, um helicóptero da SDS e o batalhão de Choque estavam lá presentes. Isso é que é tranquilidade para o jornal. Um local de trabalho policiado até os dentes obrigando a força de trabalho voltar ao cotidiano de exploração… Todos de volta ao trabalho! Aquilo foi apenas uma falha no regime de escravidão.
Veja no vídeo a indignação dos operários e as imagens do dia, incluindo imagens produzidas por um operário em seu celular. Escute aqui (em breve) também o programa desta última quarta-feira feito pelo Recife Resiste! para a rádio LAMA.
Por reciferesiste!
Veja o vídeo.
Agora entendi porque o Jornal Nacional fez ontem uma matéria sobre o atraso dos portos brasileiros e as dificuldades dos navios com mercadorias atracarem aqui. Estavam preparando o terreno para culpar, como de praxe, os “irresponsáveis” grevistas…