3º aniversário da Casa da Achada
Sábado, 29 de Setembro, a partir das 15h
Nesta data faz 3 anos que a Casa da Achada – Centro Mário Dionísio abriu as portas a toda a gente, e faz 4 anos que se formou como associação. É um dia como os outros, mas também um dia especial, e por isso será um dia preenchido com discussões, coisas novas para ver e ouvir.
Às 15h começa uma maratona de intervenções de amigos e colaboradores da Casa da Achada sobre a sociedade, a actividade cultural e a arte que temos, não temos, desejamos ou sofremos, a que chamámos «Máscaras, prisões, liberdades e cifrões».
Quem vai tomar a palavra: Ariana Furtado, António Loja Neves, Diana Dionísio, João Rodrigues, Jorge Silva Melo, Luis Miguel Cintra, Luiz Rosas, Maria Alzira Seixo, Maria João Brilhante, Miguel Castro Caldas, Miguel Serras Pereira, Natércia Coimbra, Pedro Rodrigues, Pedro Soares, Pitum Keil do Amaral, Regina Guimarães, Rui Canário, Rui-Mário Gonçalves, Serge Abramovici (Saguenail), Vítor Silva Tavares, Youri Paiva.
Depois das discussões é altura, pelas 19h, de olhar com maior atenção para a exposição que vamos inaugurar neste dia: «Artistas amigos de Mário Dionísio – reconstituição das paredes duma casa». Nesta exposição mostramos obras de artistas de várias correntes, pertencentes ao espólio de Mário Dionísio e que lhe foram oferecidas.
A exposição conta com obras de Abel Salazar, Álvaro Cunhal, António Augusto de Oliveira, António Cunhal, Avelino Cunhal, Betâmio de Almeida, Boris Taslitsky, Cândido Costa Pinto, Cândido Portinari, Carlos de Oliveira, Carlos Scliar, Cipriano Dourado, Germano Santo, João Bailote, Joaquim Arco, Jorge de Oliveira, José Huertas Lobo, José Joaquim Ramos, José Júlio, Júlio, Júlio Resende, Manuel Filipe, Manuel Ribeiro de Pavia, Maria Barreira, Raul Perez, Rogério de Freitas e Vieira da Silva.
À noite, às 21h, vamos ouvir o Coro da Achada cantar, incluíndo algumas canções novas a partir de poemas de Mário Dionísio.
MÁSCARAS, PRISÕES, LIBERDADES E CIFRÕES
Sábado, 29 de Setembro, às 15h
Maratona de intervenções de amigos e colaboradores da Casa da Achada sobre a sociedade, a actividade cultural e a arte que temos, não temos, desejamos ou sofremos.
Ponto de partida:
No dia 29 de Setembro a Casa da Achada vai fazer 3 Anos. Em torno do espólio de Mário Dionísio, partindo da sua obra de escritor, pintor, professor, da sua atitude perante a vida e da sua relação com o mundo e com os outros, da obra de outros artistas seus amigos, da quantidade de temas de toda a ordem e de questões que a sua obra convida a pensar e repensar, muita coisa se passou na Casa da Achada com mais ou menos gente presente, mais ou menos interesse, sempre com esforço, mas com muita alegria de trabalhar e de juntar pessoas. É com algum orgulho e até alguma surpresa que nos damos conta do que se fez em 3 anos e da quantidade de gente de áreas diferentes que por aqui passou, participou, se conheceu.
Independentemente da natureza de cada uma das realizações e sem pensar muito nisso, a própria Casa acaba por definir uma «personalidade própria», uma maneira de estar na chamada Cultura que é afinal aquilo que reúne tanta gente diferente e que em tudo se opõe ao «mercado cultural» que, com crise ou sem crise, vai minando a própria ideia, função e lugar da arte, do conhecimento, do pensamento, do prazer, na vida das pessoas, tudo englobando na lógica do dinheiro ou da falta dele. Sentimos que uma das razões principais por que as pessoas gostam de cá vir é justamente por este espaço ser uma ilha de «civilização» no supermercado cultural, e corresponder de forma espontânea e natural afinal a um sentimento político comum a tanta gente, que aqui se sente bem, a uma verdadeira necessidade de encontrar cúmplices de oposição à lógica tecnocrática, inculta, mercantilista, desumana, em que o sistema político em que vivemos nos quer prender.
A «crise» está a tornar em fatalidade uma barbárie que muita gente recusa, e que é decorrente do próprio sistema de valores sobre o qual a sociedade agora se rege; o tema da própria progressiva desresponsabilização do Estado pela actividade cultural muitas vezes encobre a interiorização na vida artística dos critérios de mercado ou a ignorância a que os sistemas educativos condenam a actividade intelectual.
Já que a Casa da Achada tem juntado tanta gente solidária neste sentimento de oposição, pensámos que seria oportuno celebrar os seus 3 anos de existência com uma tomada de posição, uma tentativa de primeiro manifesto. Pensámos que podíamos programar uma maratona de pequenas intervenções de 10 minutos de colaboradores da Achada, pessoas de muitas áreas diferentes e de diferentes idades, em que, cada um à sua maneira desse conta do mal-estar que sente na vida cultural, fizesse um diagnóstico de erros, desse sugestões, falasse das relações do dinheiro com a prática, das aspirações, dos problemas de formação artística, de cultura e educação, cultura e escola, desencantos e alegrias, formas de organização. Gostaríamos de reunir testemunhos pessoais ou colectivos, pequenos textos que no seu conjunto acabassem por dar conta de como a vida política afecta a actividade cultural e como a vida cultural pode ou não influenciar a vida política nesta já segunda década do século XXI e ser ela própria actividade política prioritária. Com o mesmo carácter livre e espontâneo com que tanta gente tem colaborado nas actividades da Casa, seria uma tentativa de prestar testemunho de como na Casa da Achada existe, em cada momento de trabalho, em cada conversa, em cada sessão em que participamos, um ideal de vida que é contrário ao que as democracias europeias estão a querer solidificar mas que gostaríamos que cada vez mais recusassem.
A Casa da Achada não corresponde a nenhum dos modelos culturais previstos. Em vez de isso nos empurrar para uma atitude defensiva, gostaríamos de a afirmar como vontade de criação de um espaço de combate ou de afirmação de alternativas. Desafiamo-lo a ser um dos que na tarde de dia 29 tomasse a palavra. A ideia seria dedicar a tarde a essa sequência de intervenções e conseguir depois editar como livrinho esse conjunto de textos. Jantaríamos por lá e ainda cantaria o Coro da Achada.