Por Passa Palavra

 

Como parte da semana de luta 2 de outubro, duas manifestações aconteceram hoje na cidade de São Paulo para lembrar os 20 anos de massacre do Carandiru, episódio em que pelo menos 111 presos foram mortos por uma ação policial naquela que era a maior unidade prisional do país.

A primeira das ações, coordenada pelo Levante Popular da Juventude, a Pastoral Carcerária e a Rede 2 de Outubro, reuniu um grupo de aproximadamente 60 pessoas para escrachar a figura de Luiz Antônio Fleury Filho, governador do estado de São Paulo à época do massacre. Eram por volta das 10h quando aos poucos, com batuques, músicas e cartazes, os manifestantes foram chegando à frente de sua casa, localizada no bairro da Consolação. O objetivo do protesto era denunciar publicamente a responsabilidade do homem que, estando à frente do governo do estado de São Paulo, ordenou que as tropas policiais adentrassem no presídio e dessem início à matança. Atitude que, como foi lembrada por uma das falas, contou com a conivência de outras instâncias do poder público e também da grande imprensa.

“Quem não reagiu está vivo”

Em entrevista concedida ao jornal Estado de São Paulo  na semana passada, ao ser interpelado sobre o episódio de 20 anos atrás, pelo qual é responsabilizado, Fleury foi enfático: “Quem não reagiu está vivo”. A afirmação – que, por um lado, causa indignação pelo seu descaramento – teve a vantagem de evidenciar a sintonia e complementaridade entre a política de encarceramento em massa intensificada nos anos 90 e o regime de concessão para matar em que têm atuado as forças policiais nas periferias e bolsões de pobreza da grande São Paulo. Afinal, para quem não sabe, foi exatamente esta a declaração de Geraldo Alckimin, atual governador do estado, a respeito das 9 mortes causadas por uma ação Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, tropa de elite da PM paulista) no dia 11 do mês passado: “Quem não reagiu está vivo”.

Ação de escracho na manhã de hoje foi breve. Em pouco mais de meia hora, após algumas falas, a leitura de um poema e a leitura dos nomes dos 111 presos cujas mortes foram oficialmente reconhecidas, o grupo já começava a se dispersar, prometendo ser este apenas o primeiro de muitos escrachos a serem feitos a personalidades e autoridades do período democrático.

“Primeiro atiraram, depois conferiram o documento”

A segunda etapa de manifestação começou às 15h. Movimentos sociais, organizações de direitos humanos, representações religiosas e, sobretudo, familiares de presos, organizados pela rede Não Te Cales, e vítimas da violência de Estado, como as Mães de Maio, concentraram-se nas escadarias da Catedral da Sé, o marco zero da cidade. Ali foi realizado um ato ecumênico, seguido de uma sessão de rimas, poesias, músicas e falas que denunciavam as diferentes formas difusas e cotidianas pelas quais  a opressão estatal se faz presente hoje, dentro e fora dos presídios.

A manifestação seguiu em caminhada pelo entorno da praça e fez uma parada em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo. Para encerrar a ação, o grupo se dirigiu à frente prédio da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, onde prestou uma homenagem aos mortos pela polícia em 2 de outubro de 1992,  assinalando a data como o dia de luta contra os massacres.

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