Em cada escola, vivemos todos um dia-a-dia parecido: temos que chegar no horário, assistir aulas, fazer provas e lições, passar de ano, obedecer aos professores e diretores. Também é na escola que encontramos amigos e colegas, e é junto deles que nos divertimos e enfrentamos nossos problemas.
Os problemas são inúmeros, vão desde as dificuldades de cada aluno (a prova de amanhã, chegar atrasado, as aulas chatas…), até questões estruturais do colégio (a situação do material didático, do espaço…). Embora não pareça, tudo isso tem algo em comum: os estudantes não participam das decisões sobre a educação deles mesmos. Diretores e professores mandam. O aluno só obedece.
Contudo, quando os estudantes se organizam entre si, eles mudam essa situação. Ao fazer algo por eles mesmos, sem depender de superiores, criam espaços onde eles próprios decidem. Pode ser um grêmio estudantil, uma atividade cultural, um protesto, um debate, um grupo de estudos, etc.
Essas diferentes formas de organização dos alunos acontecem o tempo todo, em vários lugares, e são jeitos de lutar para que tenhamos mais voz dentro da escola. Porém, muitas vezes essas lutas se perdem por ficarem isoladas dentro dos muros de seu colégio ou por não serem transmitidas de uma geração pra outra.
A proposta de “O Mal-Educado” é não deixar essas histórias se perderem. Queremos registrar e divulgar algumas experiências de luta e organização vividas por alunos de diferentes escolas. Acreditamos que essa troca pode inspirar mais estudantes, que poderão aprender com os erros e acertos dos outros e pensar em formas de agir para enfrentar seus problemas.
Acrescentamos que este jornal não é um simples panfleto, para ser lido e descartado. Deve ser lido, debatido entre os alunos e discutido nas escolas. O que a derrubada da diretora pelos estudantes da E.E. José Vieira de Moraes tem a dizer sobre a realidade que vivemos em nosso colégio? Em nossas tentativas de se organizar, será que não enfrentamos situações parecidas com as do grêmio da ETEC São Paulo? E o problema do machismo, está restrito à EMEF Antenor Nascentes?
O coletivo editor do Mal-Educado realiza atividades em escolas, debatendo questões sobre luta e organização dos estudantes e auxiliando a formação de grêmios estudantis. Caso alguém queira organizar uma atividade junto conosco em sua escola, ou simplesmente queira pedir uma quantidade de jornais para distribuição, entre em contato por email: [email protected]. Em caso de pedidos em locais fora de São Paulo, sugerimos que os interessados imprimam cópias em suas cidades, e então nos mantemos em diálogo por email.
Visualização da edição.
Para mais informações.
Nesta edição:
“Estudantes e professores derrubam direção autoritária”
“Festival de filmes produzidos por estudantes reúne centenas”
“Grêmios organizam manifestações contra o aumento na tarifa de ônibus”
“Grupo de estudos feministas luta contra o machismo na escola”
“Um grêmio em ação: ‘Não vamos deixar de fazer o que queremos”(entrevista com o Grêmio Livre Bertold Brecht, da ETEC São Paulo)
“Estudantes organizam boicote ao SARESP”
“Pra que serve este jornal?”
No texto sobre feminismo: eu acho curioso que toda vez que se fala de educação autoritária as pessoas falam como se as escolas fogem geridas por homens. Não são. A esmagadora maioria, talvez uns 95%, das direções são controladas por mulheres. O mesmo para as chefias e supervisões. As professoras, em alguns niveis, chegam a ser 90% do total, embora professores não mandem nas escolas, como diz o texto. Professores são subordinados, peões da educação. Então, a tal da educação autoritária é, no Estado de São Paulo, algo arquitetado, implementado e gerido por mulheres. Aliás, caberia até observações sobre como a fofoca é o principal instrumento de análise do trabalho pedagógico. Não minto nem exagero.
Não se pode afirmar que o machismo predomine em todas as escolas. Isto é uma generalização sem base. O Estado possui 5.400 escolas e em muitas delas as meninas é que comandam. Na que eu trabalho, por exemplo, há revezamento e meninos e meninas usam a quadra. Aliás, as meninas entram até no banheiro masculino. Elas dominam todas as salas, exceto uma, sendo lideranças até em brigas e confusões. Quem assistir o filme Pro Dia Nascer Feliz http://passapalavra.info/?p=19335 vai perceber a presença forte das meninas em toda a narrativa e, no final, a descrição sobre como uma delas assassinou com tesoura uma outra dentro da escola e também como duas outras ameaçaram outra de surra. Em muitas escolas há uma verdadeira femocracia, em muitos casos acompanhadas de violências várias contra os meninos feios, as meninas tímidas, os mais pobres, os sujos. Aqui segue uma pequena demonstração de certa violência femista
http://www.youtube.com/watch?v=6djykRZLA7M
Renata, concordo com você que o autoritarismo nas escolas tem sido gerido sobretudo por mulheres. Basta ver por exemplo o texto sobre a E.E. José Vieira, que derrubou a diretora devido às suas medidas autoritárias. No entanto, cabe ressaltar que em diversas escolas, mesmo sendo a direção composta por mulheres, muitas medidas são exatamente contra as meninas. Por exemplo, em muitas escolas as meninas (exclusivamente) são proibidas de usarem certas roupas, enquanto que aos meninos tudo é permitido. Meninas grávidas sofrem muita discriminação (mesmo por professoras), e muitas vezes são obrigadas a abandonar os estudos por falta de apoio. Os afazeres domésticos também pesam no rendimento escolar das meninas. Isso entre muitas outras coisas. Assim, a discussão sobre o feminismo nas escolas não deixa de ser relevante só porque mulheres têm poder dentro da escola, porque não se trata de quem está no poder, mas do que se faz com ele.
Emerson, se você mesmo situa que várias opressões partem das mulheres então não se trata simplesmente de machismo, certo? A Geise da Uniban, por exemplo, foi inicialmente hostilizada por mulheres. No caso, temos mais propriamente a opressão de mulheres conservadoras sobre outras do que um machismo.
Em muitos casos se confunde a opressão exercida pelas mulheres conservadoras com o machismo. É bom olhar bem as coisas.
Me parece que existe uma resistência das mulheres em reconhecer que elas próprias podem reproduzir as práticas machistas.
Renata, qual diferença que você estabelece entre “opressão exercida pelas mulheres conservadoras” e o machismo?
Renata, o problema é que a opressão exercida pelas mulheres conservadoras pesa sobretudo sobre as outras mulheres. Aqui está o machismo, independente de quem o exerce.