A selvageria com que o senhor diretor Alexandre Andriolo respondeu a uma simples ação coletiva da comunidade escolar diz muito sobre o caráter de sua gestão. Por Passa Palavra
Contra mandos e desmandos de um diretor autoritário, alunos, pais, professores, funcionários e apoiadores da Rede Extremo Sul realizaram um protesto hoje, pela manhã, em frente à Escola Municipal de Ensino Fundamental João da Silva. Localizada no Jardim Lucélia, região do Grajaú, na zona sul de São Paulo, a unidade de ensino comporta cerca de 1.000 estudantes do 1º ao 9º ano e tem apresentado as piores posições no ranking das escolas municipais nos últimos períodos.
Assédio moral e negligência
Durante esse semestre muitos pais e alunos dirigiram-se ao Conselho Tutelar para relatar casos de negligência e abuso de autoridade por parte do diretor da escola, Alexandre Andriolo. Mas reclamam que o órgão nada fez para encaminhar uma solução para o problema. A partir destas queixas, alguns professores aderiram à mobilização, já que também acumulavam desde há três anos uma série de reclamação não atendidas. Dois professores que não quiseram se identificar contam que a situação piorou muito nesse último período. “A gente tá questionando a qualidade” – disse um deles – “mas nas reuniões não se trata mesmo dos assuntos que precisam pra mudar”. Os discentes se queixam de que não há transparência na administração da instituição, principalmente em relação ao uso de verbas, e que todo funcionário que levanta qualquer questão é pressionado para sair da escola. “Todo professor que tenta um diálogo, apresenta uma reclamação, é punido […] ele [o diretor] chama de ‘orientação'”.
Sobre os professores mais novos as pressões são ainda maiores, já que estes “não têm nenhum poder de falar”. Sem conseguir suportar o quadro de “autoritarismo geral”, muitos deles deixam a escola. Isso faz com que a rotatividade de docentes seja muito grande, não tendo tempo hábil para desenvolver qualquer projeto pedagógico para a unidade.
Outro professor, que também preferiu não se identificar, afirmou: “Chegou no limite. Fico satisfeito de saber que a comunidade assumiu isso. O que era pra ser a referência do bairro virou uma referência ruim”. Ele relata que o que mais o indigna é o desrespeito que a direção tem com muitos funcionários antigos, “que foram descartados que nem lixo”. Ele mesmo diz ter sido “cuspido” de uma função que ocupava há três anos sem motivações claras: “não tem um perseguido, pode ser qualquer um”.
Para o professor, o diretor “tem a escola como algo dele, não como algo público”. Essa informação é confirmada por algumas fotos que fazem parte da denúncia que a comunidade está encaminhando à Secretaria Municipal de Educação e à Diretoria Regional de Ensino da Capela do Socorro. As fotos mostram espaços das escola sendo utilizados para festas particulares. “Eu não reconheço mais a direção da escola” – afirmou.
Alunos contra o autoritarismo
Desde antes do horário de entrada da turma do matutino, às 7h, os alunos estendiam faixas e distribuíam panfletos para os colegas que chegavam à rua Conquista Popular. Não demorou muito para que, com a presença de alguns pais e outros apoiadores da comunidade, uma forte manifestação se armasse à frente do portão principal da escola.
Um estudante do 7º ano reclamou que o pior problema da atual direção é a ignorância: “esse ano começou a marcação, toda vez que o senhor Alexandre [o diretor] vem na escola é uma suspensão por nada”. Ele se refere à perseguição sistemática que a direção promove contra alguns estudantes. Em relação à estrutura da escola, ele enumera alguns dos problemas: “não tem ventilador, carteiras quebradas, vidros quebrados, cortinas rasgadas”. O aluno ainda falou que, ao pedido de uma professora para que se consertasse um ventilador, o diretor retalhou retirando todos de uma vez.
Enquanto conversávamos com o estudante, era possível ouvir a reclamação dos vários de seus colegas que foram se revezando ao microfone ligado no carro de som: “água barrenta”, dizia um em relação à troca dos filtros que não é feita há mais de 3 anos; “chove mais dentro do que fora”, dizia outro, queixando-se das goteiras e infiltrações que existem no prédio. A merenda, as condições do prédio e, sempre, a ignorância do diretor no trato com os alunos foram pontos levantados por todos eles. Numa conversa, uma professora contava as dificuldade que os professores de Educação Física tinham para dar aulas porque a quadra de esportes estava “cheia de cocô de pombos” e buracos.
Pouco depois, ao som do alto-falante, uma antiga aluna da EMEF João da Silva perguntou ao diretor, que assistia a tudo de dentro da escola, o que ele tinha feito com o conselho escolar, espaço de participação onde deveriam ter voz professores, alunos, pais e funcionários.
Uma das denúncias mais graves foi apontada por outro estudante, que lembrou do caso em que, ao fazer uma reclamação à inspetora, foi derrubado por ela no chão e sofreu chutes na barriga; e que, posteriormente, mesmo com a presença dos pais, a direção nada fez sobre o assunto, limitando-se a dizer que o problema não lhe dizia respeito. Foram reiteradas as reclamações por conta da direção da unidade chamar a polícia para intervir mesmo em pequenos conflitos do cotidiano das atividades escolares.
Escola não é zoológico
Todos estes relatos poderiam parecer absurdos ou exagerados, não fosse a maneira pela qual a direção da escola optou por responder ao protesto. Não houve qualquer esclarecimento oficial por parte do diretor. Ao contrário, foram acionadas pelo menos 5 viaturas policias para conter uma manifestação de cerca de 100 pessoas, sendo sua imensa maioria composta por pré-adolescentes. Dois carros da Polícia Militar, um da Guarda Civil Metropolitana e outros dois da Guarda Ambiental formaram um cerco nas duas pontas da Rua Conquista Popular. Sim, Guarda Ambiental! Daria o que pensar como reagiriam os pais de um colégio de uma área nobre da cidade que tivessem seus filhos intimidados por policias da Guarda Ambiental. Afinal, por mais que a falta de cuidado dê ao prédio da EMEF José da Silva um aspecto de selva, nada justifica que uma instituição de ensino fundamental seja abordada como se fosse um zoológico.
Logo ao sair da viatura, um dos guardas ambientais assediava os jovens dizendo que as ruas estavam cercadas e que os levaria para a FEBEM. Ele adentrou as dependências da escola e, pouco depois, já por volta das 8h, voltou informando que os estudantes que haviam participado do protesto não poderiam entrar e retomar as atividades normalmente, como era a intenção de todos. Em nome da direção, o policial argumentava que o horário de fechamento do portão era às 7h10, e que todos os que não tivessem entrado até este marco não poderiam mais entrar. A atitude, tomada em conjunto com a direção da EMEF, ignorava inclusive aqueles alunos que vieram de peruas escolares por morarem em outra região. “Eles não entraram porque não quiseram, agora o problema é deles” – dizia o guarda ambiental. O Conselho Tutelar chegou a ser chamado para contornar a situação, mas alegou não poder comparecer no local por problemas de logística. Na prática, por simples ato de castigo, e numa demonstração de total irresponsabilidade por parte da direção e da polícia, estes jovens teriam de ficar na rua esperando o horário da sua volta para casa, sob os olhares intimidadores do efetivo policial.
Já por volta das 8h30, alguns alunos atendiam seus pais ao telefone, que lhes contavam que a direção da escola estava ligando para casa de alguns deles e acusando-os de “vandalismo”. Para evitar possíveis represálias, a manifestação seguiu pelas ruas do bairro até o ponto final de uma linha de ônibus e foi se dispersando aos poucos.
Toda atenção agora se concentra para que nem alunos nem professores nem funcionários sejam perseguidos ou punidos por participarem da atividade, que foi pacífica, e até divertida, do começo ao fim. No mais, a pequena passeata improvisada de finalização serviu para tomar conhecimento de que boa parte da comunidade compartilha do descontentamento com a atual direção. “Tem que pegar ele pelo pescoço” – brincava um comerciante enquanto ajeitava um macinho de panfletos para ser distribuído em seu estabelecimento.
A selvageria com que o senhor Alexandre Andriolo respondeu a uma simples ação coletiva diz muito sobre o caráter de sua gestão. Por isso, novas atividades estão sendo organizadas para dar prosseguimento à luta pela derrubada do diretor e a implementação de uma forma de administração escolar em que haja maior participação da comunidade .
Tanto a revolta destes pais e alunos pode ser lida como o germe revolucionário que finalmente parece romper a apatia popular, quanto a prática efetiva daquilo que afinal o Estado espera da sociedade no que se refere ao ensino público.
Apatia popular não rima com revolução nem com capitalismo (pelo menos o contemporâneo, e isso o João Bernardo já tem vindo a mostrar em diversos artigos aqui no PP).
Se eu bem entendi como se estrutura o sistema educacional brasileiro, esta revolta não vai além do que o Estado já espera, afinal, da sociedade, quando define (ele, o Estado) diretrizes (as Diretrizes Curriculares Nacionais) e parâmetros (os Parâmetros Curriculares Nacionais), mas se isenta de os implementar, deixando isso a cargo dos entes federativos (Estados e Municípios) e da própria sociedade.
Como se lê em Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental,
“Art. 20 As escolas deverão formular o projeto político-pedagógico e elaborar o regimento escolar de acordo com a proposta do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, por meio de processos participativos relacionados à gestão democrática.
§ 1º O projeto político-pedagógico da escola traduz a proposta educativa construída pela comunidade escolar no exercício de sua autonomia, com base nas características dos alunos, nos profissionais e recursos disponíveis, tendo como referência as orientações curriculares nacionais e dos respectivos sistemas de ensino.
§ 2º Será assegurada ampla participação dos profissionais da escola, da família, dos alunos e da comunidade local na definição das orientações imprimidas aos processos educativos e nas formas de implementá-las, tendo como apoio um processo contínuo de avaliação das ações, a fim de garantir a distribuição social do conhecimento e contribuir para a construção de uma sociedade democrática e igualitária.
§ 3º O regimento escolar deve assegurar as condições institucionais adequadas para a execução do projeto político-pedagógico e a oferta de uma educação inclusiva e com qualidade social, igualmente garantida a ampla participação da comunidade escolar na sua elaboração.” (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, Ministério da Educação / Conselho Nacional de Educação, 14/12/2010)
Neste contexto, uma figura autoritária como a do diretor aqui retratado é a de alguém que ainda não entendeu o espírito do seu tempo (neoliberal, bem entendido)
No trecho:
Ele mesmo diz ter sido “cuspido” de uma função que ocupava há três anos sem motivações claras: “não tem um perseguido, poder ser qualquer um”.
creio ter havido um erro de digitação, sendo, na última frase, “pode” ao invés de “poder”.
Marcus,
Obrigado pelo aviso. Já fizemos a correção.
Gustavo, esta estrutura participativa que você aponta é fruto não da iniciativa dos gestores, mas de uma concessão que fizeram após décadas de lutas parecidas com esta que o artigo narra.
É verdade que estas lutas terminaram sendo transformadas em outra coisa: disputa de vagas em conselhos, participação popular com temas e alcance pré-determinados, fragmentação das instâncias participativas etc.
É verdade também que o diretor da EMEF João da Silva, Alexandre Andriolo (http://badoo.com/pt/01131699626/), também me pareceu estar deslocado no tempo e no espaço quando age da forma narrada.
Mas pergunto: é só porque a participação popular já está prevista em lei que a revolta dos estudantes, pais, professores e comunidade pode ser deslegitimada? Não acho que o Estado — na prática, a Prefeitura ou o Governo de SP — “esperasse” algo assim, muito pelo contrário: toda a parafernália participativa se dá exatamente para que mobilizações como esta não aconteçam, ou tenham alcance reduzido.
Manolo
é só porque a participação popular já está prevista em lei que a revolta dos estudantes, pais, professores e comunidade pode ser deslegitimada?
Não necessariamente. Na verdade, estou mais interessado, com o meu comentário anterior, na narrativa que se faz da luta (com este texto aqui), do que na luta propriamente dita.
Por outro lado, quando você chama esses mecanismos participativos já estabelecidos em lei de “parafernália participativa“, e diz que eles só existem para que mobilizações como esta não aconteçam, você também não estaria desligitimando as tais décadas de lutas que culminaram na instituição desses mecanismos sob a forma de lei (mecanismos esses, portanto, agora, e finalmente, depois de décadas de luta, à disposição de quem queira as mudanças)?
No caso desta escola, o processo de luta previu a utilização desse direito adquirido de participação democrática como forma de ver atendidas as suas revindicações? Como se deu isso? Que resultados teve?
Poxa bacana! Que bom pelo posicionamento da comunidade e dos próprios alunos de reivindicar melhorias para a escola. Meu maior desejo é que após a queda desse ditador a comunidade torna-se presente nos rumos de decisões da EMEF João da Silva (Elaboração do Projeto Politico Pedagógico, Conselho de Escola…) no que leve a transformação da comunidade escolar e delimitação dos problemas e que de fato exerça no interior da escola a democracia.
Gustavo, eu infelizmente não tenho como dizer se a manifestação usou ou não a parafernália participativa a que me referi.
Em compensação, já que falei em parafernália participativa, não vejo a contradição a que você se refere, muito pelo contrário. A existência de instâncias participativas é fruto da luta, sim, basta olhar a História; mas o fato de elas existirem não quer dizer que existam exatamente da forma desejada por aqueles que lutaram por sua existência, ou que trate dos problemas que eles apontavam como fundamentais.
Estas instituições participativas (conselhos, conferências etc.) são espaços institucionais, criados pelo Estado, e não conheci até hoje um burocrata que jogasse para perder. E surgiram exatamente como um “canal” através do qual as reivindicações populares “podem” ser encaminhadas às autoridades sem se fazerem necessárias “badernas” ou “distúrbios” potencialmente deslegitimadores do status quo, ou do próprio Estado.
Em suma: foram criados na convergência de interesses contrários, e disto saiu algo em que quem tinha maior margem de manobra (os burocratas do Estado) deu as regras do jogo.
Isto deslegitima as lutas que lhes deram origem? Acho que não. Pelo contrário, mostra que ainda é preciso lutar mais para que as coisas saiam diferente do jeito que os burocratas querem.
Neste exato momento um professor acaba de sair de SAMU da escola onde trabalho. Coração disparou por conta do contexto tenso, de disputa. “Não me deixem morrer, não me deixem morrer” dizia ao deitar no sofá.
Nunca ví um texto sobre o assunto, mas dentre o professorado, além de uns 50% que tomam calmantes, antidepressivos e ansiolíticos, há um quadro de alcoolismo e não poucos suicídios. Mas nunca foram abordados de uma forma conjunta. Cansei de ver professora chorando por conta de direção autoritária numa escola que trabalhei em 2010.
Não é só lá que não aparece as verbas, no jardim eliana diretor mau aparece na escola qto mais dar explicação de verbas, os filtros de água desta emei tbém estão um nojo,qdo procuramos a direção no seu horário de trabalho, a funcionéria da sempre a mesma rresposta não esta, não sei que horas vem, só nós temos que cumprir horário no tyrabalho, só as professoras tem q trabalhar e sem subsídios ou material adequado( a mais de seis meses tento falar c a direçao as 7 h que é o horário q posso e nunca esta)
Este diretor não parece estar fora do espaço e do tempo: aqui no extremo sul de SP (e imagino que em outras periferias de grandes cidades) há alguns casos de organização – seja estudantil ou de toda comunidade escolar – para arrancar diretorias privatistas e cujos traços de autoritarismo se manifestam em diversas formas de violência e abuso de poder. Mas além destas escolas em que a indignação se transformou em protestos e lutas, há inúmeras outros casos sobre os quais há reclamações e denúncias por parte de alunos, mães de alunos e militantes nas comunidades.
Neste quadro, diante do cotidiano extremamente violento das escolas públicas periféricas, e diante da própria tendência à burocratização das organizações e instituições estatais, que se exacerba neste momento da conjuntura conservadora e conformista; um processo de organização para criar novas formas de participação popular na educação pode ter sua importância. Não porque indica um processo revolucionário, como quis esclarecer o primeiro comentador, mas porque transforma a indignação individual em coletiva. E principalmente porque é um processo de organização popular, que precisa de um ponto de partida para começar (ou recomeçar), mas que pode terminar na criação de formas de organização permanentes e autônomas, cada vez mais críticas e radicais, o que depende mais do modo como os integrantes de tais processos conseguem encaminhar as lutas, do que do conteúdo que fora seu ponto de partida.
eu sou do 4° ano e concordo que fassam isso pois o alexandre é uma merda de diretor!!!
Agora, o jeito é torcer para que a merda não se ofenda…
essa escola e uma porcaria
eu to 4 ano a esco e eu merda e a comida tambem eu com cordo
a escola e´boa sim
a comida