Em uma cidade onde o foco dos meios de comunicação de massa sempre esteve associado a enchentes e prisões, nasce uma fagulha de esperança. Franco da Rocha, com uma população de 131.604 habitantes segundo estatísticas do IBGE, presenciou uma cena histórica, e que há muito não se ousava pelos munícipes locais. No dia 07 de dezembro de 2012, uma média de 300 pessoas aproximadamente reuniu-se na região central da cidade para protestar contra o Decreto 2.033/2012, aprovado pelo atual prefeito de Franco da Rocha Marcio Cecchettini, do qual autorizou o aumento da passagem de ônibus para R$ 3,20. O decreto entrou em vigor no dia 2 de dezembro de 2012.

No domingo, quando a passagem do ônibus já começara a ser tarifado com o novo valor, uma onda de insatisfação proliferou pela rede social Facebook e, no mesmo dia, iniciava também uma organização de protesto articulada principalmente através da Internet. A manifestação começou às 17 horas de sexta-feira com apitos, faixas, gritos, carro de som e coletas de assinaturas, dando assim início ao primeiro movimento popular de Franco da Rocha. Há de se notar que, apesar de ter comparecido figuras representando partidos como o PT Jovem e o PSOL, a bandeira que a população ergueu chamava-se indignação, insatisfação e revolta, do qual o protesto seguiu sem liderança partidária. Nesta mesma data, o movimento conseguiu levantar mais de 3500 assinaturas em um abaixo-assinado contra o aumento da passagem.

O questionamento da população está intimamente relacionado com a lei orgânica municipal, do qual específica em Artigo 76 que: “É dever do Poder Público fornecer um transporte com tarifa condizente com o poder aquisitivo da população, bem como assegurar a qualidade dos serviços”.  Ora, segundo estudo publicado no Boletim Metropolitano de Conjuntura Social e Econômica do Parlamento Metropolitano, no Censo de 2010 sobre o Rendimento Domiciliar per capita, a população de Franco da Rocha possui renda equivalente a R$ 622,12 (seiscentos e vinte e dois reais e vinte e dois centavos), enquanto 1,7% desta população possui renda abaixo da extrema pobreza, portanto, o valor tarifado na passagem de ônibus da região não condiz em nada com a lei, menos ainda com a realidade da população.

A manifestação permitiu que a população percebesse a importância do movimento bem como conseguiu a atenção dos políticos e comerciantes da região, e na próxima semana começaram a procurar soluções que resolvessem questões jurídicas e legais. Contudo, o poder não facilitou para os munícipes. Advogados da câmara não responderam as perguntas, a Casa dos Advogados presente na cidade esquivou-se, o contrato da empresa de ônibus não foi cedido pelo setor de Licitação da Prefeitura (foi exigido o valor de 8,60 para protocolar a solicitação e um prazo de 15 dias para verificarem se poderão disponibilizar o documento) e ainda, não houve advogado algum que se manifestasse em prol da causa. Mas apesar disto, não foram fatores suficientes para diminuir a força do Movimento, que continuaram a buscar os meios legais para entrarem com uma ação popular.

No dia 19 de dezembro, houve a Diplomação do novo prefeito da cidade, o Kiko, eleito pelo PT, e que deve assumir o cargo em janeiro de 2013. Mais uma vez, o Movimento Contra o Aumento da Passagem em Franco da Rocha esteve presente, apresentando carta de reivindicação para que se vete o Decreto 2.033/2012. No início da cerimônia, o acesso foi proibido para os populares, entrando na Câmara Municipal apenas os convidados. O acesso foi permitido somente no final do evento, permitindo que o Movimento passasse as folhas do abaixo assinado, atitude esta que não foi bem aceita pelos presentes, inclusive pelo atual prefeito Márcio Cecchettini, que com a prancheta do abaixo assinado em mãos e caneta em punho recusou-se assinar dizendo que “Caso queiram saber o motivo pelo qual houve o aumento, entre com um protocolo na Prefeitura”, disse.

No dia 20, em visita ao diretório do Prefeito Kiko, que deve assumir o cargo no dia 01 de janeiro, o movimento conseguiu ser ouvido e ter respostas do posicionamento que a nova administração deve tomar frente às irregularidades no transporte público. O Prefeito Kiko assumiu responsabilidade com o movimento de fazer análise técnica e jurídica por sobre o contrato entre a prefeitura e a atual empresa de transportes públicos da região, Urubupungá, e afirmou que, caso haja irregularidades, o decreto deve ser revogado.

No dia 21 de Janeiro, aconteceu o primeiro encontro dos integrantes do Movimento Contra o Aumento da Passagem em Franco da Rocha, que tiveram por objetivo levantar em pauta quais foram os sucessos alcançados até o momento e quais serão as próximas ações, permitindo assim que o Movimento adquira mais força em seus objetivos, elaborando assim um Manifesto Contra o Aumento da Passagem em Franco da Rocha, disponível aqui. Portanto, as questões que entraram em pauta foram: redução da tarifa, integração dos transportes entre ônibus e trem, menor tempo de espera e transporte urbano alternativo. Para quem quiser ajudar o movimento de alguma forma, entrem em contato através dos seguintes canais:

Fanpage: http://www.facebook.com/ContraOAumentoDaPassagemEmFrancoDaRocha
Grupo: http://www.facebook.com/groups/138711189613079/
Email: [email protected]

A primeira manifestação organizada pela rede social Facebook em Franco da Rocha assusta os políticos locais. Sabemos que a partir de 2010, movimentos como esses tiveram inicio principalmente no Oriente Médio, como a Primavera Árabe, por exemplo, espalhando-se pelo mundo com os nomes de Os Indignados, Occupy Wall Street e futuramente no Brasil, com o nome de Ocupa “Acampa” Sampa. Há de se concordar que estes movimentos cada vez mais influencia a opinião da maioria, inclusive na facilidade com que conseguem mobilizar e organizar protestos, sobretudo nas regiões mais periféricas e de pouco envolvimento político. Podemos citar como exemplo a manifestação que ocorreu em Franco da Rocha no dia 7/12/2012, onde uma semana antes havia sido publicado decreto que instaurou o aumento da tarifa de ônibus de R$ 2,80 para R$ 3,20. O Decreto foi publicado no dia 02/12, e no mesmo dia, foi criado uma “fanpage” e um “grupo”online, posteriormente foi criado dois “eventos”. Os números de compartilhamentos com imagens e textos de insatisfação multiplicaram-se rapidamente, e, em alguns posts, chegaram a alcançar o número de 400 compartilhamentos aproximadamente. Durante o protesto, foi coletada mais de 3500 assinaturas, e compareceram em média 300 pessoas (700 pessoas como publicado em jornal local, o Locomotiva), do qual carregavam consigo algumas características que podemos observar em movimentos deste segmento: apartidarismo, democracia real e a não-violência.

Neste sentido, cabem-nos os seguintes questionamentos: A população  está participando mais de questões políticas? O povo está tomando ciência do poder retribalizante da comunicação multidirecional? A função dos líderes partidários, que tomam a frente de eventos como este, pode ser substituída pelas formas de organização online? São estes e outros questionamentos que só o tempo poderá nos responder, portanto gostaríamos que nos ajudassem nessa comunicabilidade.

 

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