Casa da Achada: ciclo de cinema «Dinheiro Para Que Te Querem»
CICLO DE CINEMA DINHEIRO PARA QUE TE QUEREM
Segundas-feiras, 21h30
Abre-se um jornal – quando ainda se faz esse gesto antigo – e parece que o centro do mundo é o dinheiro. A falta de dinheiro, o pouco dinheiro, o muito dinheiro, o demasiado dinheiro, o dinheiro guardado – a poupança até tem direito a dia mundial -, o dinheiro usado, o dinheiro roubado, o dinheiro emprestado, oferecido ou por oferecer, ou bem ou mal distribuído, e por aí fora. Créditos e débitos. Dívidas. Bolsas, subsídios, descontos, taxas, impostos. Greves e manifestações até pertencem agora às páginas de «economia». O preço pelo qual se compra e vende o quadro mais ou menos célebre – ou então o seu roubo – pode ser manchete, assim como o vencedor da lotaria, do totobola, do totoloto, do euromilhões. Se todos tivéssemos dinheiro, não havia Banco Alimentar. Se todos tivéssemos dinheiro, não se morria à fome, nem havia misericórdias, nem ONGs de caridade, nem IPSSs, nem subsídios de desemprego e de reinserção (quando os há), etc., etc. Nem nasceriam zonas francas nem casinos. Nem quase seriam precisos tribunais que julgam assassinatos, roubos, heranças, partilhas, limites de propriedades… com o dinheiro ao centro. Muitos – pobres e ricos – vivem para ter dinheiro, para o dividir ou multiplicar – e, os mesmos ou outros, para o gastar. Não se pode viver sem dinheiro. Pelo menos nesta nossa sociedade. O dinheiro é mesmo o centro do mundo. E, porque parece sê-lo cada vez mais, e sempre de outras maneiras, organizámos este ciclo de filmes, maior que os anteriores. E não veremos tudo o que valeria a pena ver. Alguns filmes que neste ciclo caberiam (por exemplo, A quimera do ouro, O quinteto era de cordas, Stavisky) não os passamos agora porque entraram em ciclos anteriores. Era impossível a 7.ª arte (a literatura, o teatro, antes dela…) não se ocupar do dinheiro. O dinheiro está no centro do mundo e no centro de muitas tragédias e de muitas comédias. Este ciclo vai, assim, percorrer quase um século de cinema: Aves de rapina de Erich von Stroheim é de 1924, Capitalismo – uma história de amor de Michael Moore e Erro do banco a vosso favor de Gérard Bitton e Michel Munz (não passou nos cinemas em Portugal) são de 2009. Do mudo ao sonoro, do preto e branco à cor. São 24 filmes de 24 realizadores, produzidos em países vários: EUA, França, Itália, Alemanha, Espanha, Portugal… E que, aliás, preciaram de dinheiro para serem feitos, distribuídos, vistos, transformados em DVD – independentemente dos seus maiores ou menores orçamentos e das muitas ou poucas receitas de bilheteira. Chamados à atenção para uma sessão difícil de que não podíamos prescindir: um filme mudo de mais de três hors – Dinheiro de Marcel L’Herbier. E para todos os outros filmes, evidetemente, que nos farão (re)descobrir cinematografias sempre a (re)descobrir e nos farão pensar sobre aquilo em que vale a pena pensar. Filmes que, ao longo de seis meses, nos farão rir e chorar.
Segunda-feira, 4 de Fevereiro, 21h30 Aves de rapina (1924, 140 min.) de Erich von Stroheim apresentação por António Rodrigues
Segunda-feira, 11 de Fevereiro, 21h30 Humberto D (1952, 80 min.) de Vittorio de Sica apresentação por João Rodrigues
Segunda-feira, 18 de Fevereiro, 21h30 Bonnie e Clyde (1967, 111 min.) de Arthur Penn apresentação por Pedro Rodrigues
Segunda-feira, 25 de Fevereiro, 21h30 Benvindo, Mr. Marshal (1953, 78 min.) de Luis Garcia Berlanga apresentação por Vítor Silva Tavares