Os kalmyks são um povo de origem mongol, que migrou no século XVII para a região do Mar Cáspio, onde o poder soviético lhes concedeu autonomia administrativa em 1920, e em 1936 os reconheceu como república, incluída na Federação Russa. Como a extrema-direita considerava o bolchevismo uma horda asiática chefiada por judeus, generalizou-se a mania de chamar kalmuks aos comunistas russos. O doutrinador oficial do nazismo, Alfred Rosenberg, classificou Lenin como um «kalmuk tártaro». Também um funcionário diplomático nacional-socialista que acompanhara Ribbentrop a Moscovo em Agosto de 1939 e aproveitara umas horas de ócio para, juntamente com outros membros da comitiva, visitar o mausoléu de Lenin escreveu, nas suas memórias, que «contemplámos com espanto um rosto pequeno de kalmuk, com reflexos cor de cera, no qual parecia perpassar ainda a sombra de um sorriso astucioso». E na Paris ocupada pelas tropas do Reich, Lucien Rebatet contou que o notável romancista Céline, que havia dito de si mesmo «eu quero ser o mais nazi de todos os colaboracionistas», lhe profetizara o que sucederia se o Eixo perdesse a guerra: «As divisões de pretos americanos e as divisões kalmuks espalhavam-se pela Europa. Entre as suas hordas pululavam judeus. Em breve haveria milhões de mestiços, o sonho dos judeus, todo o Ocidente a assemelhar-se aos judeus, a raça branca condenada à morte». O que dá à história algum picante é o facto de este povo, escolhido pela extrema-direita para ilustrar a barbárie soviética, ter sido acusado por Stalin de colaboração com os invasores nazis, sendo a sua república suprimida em 1944, para ser restabelecida apenas em 1958. Com efeito, um corpo de cavalaria kalmyk combateu do lado nazi, sob as ordens da Wehrmacht. Passa Palavra