Flor da Palavra

Em Curitiba, mais de 70 mil famílias estão na fila pela moradia digna, segundo dados da Cohab-Ct. A Vila Sabará que, desde a década de 90, a COHAB, a pretexto de regularizar o Bairro, realizou 37 mil contratos denominados TUCS (Termos de Uso e Concessão do Solo) que supostamente trariam infra-estrutura para as casas e para a Vila, é um dos casos gritantes no histórico déficit habitacional da cidade. A promessa da Cohab jamais se concretizou e, no ano de 2011, o STJ declarou a nulidade dos contratos por vício insanável: os contratos eram fraudulentos, na medida em que a COHAB negociou terrenos que não lhe pertenciam e, portanto, cobrou mensalidade indevida de 37 mil famílias de trabalhadores.

O Jardim Itaqui, desde 2008, ao denunciar a mineradora Saara, empresa extratora de areia responsável pelo despejo de várias famílias da vila através de cheque despejo, vive no ostracismo. No final de 2008, reivindicou em audiência pública do MP realizada na própria vila a imediata regularização do terreno. Nunca houve sequer um comunicado sobre o pedido. Ainda, em 2013, moradores vivem sem água, luz, agente de saúde e esgoto regularizados. Mais outro explícito exemplo de completo desprezo.

A maioria das pessoas que ocupam estas áreas irregulares não comporta as altas prestações exigidas pelo financiamento da Cohab ou mesmo do programa de habitação do governo federal ‘Minha casa, minha vida’. Programas estes que atendem famílias com renda superior a três salários mínimos.

No Brasil, bem como na América Latina, há incompatibilidade entre o salário da maioria dos trabalhadores e o custo da moradia urbana. As favelas são auto empreendidas pelos moradores, assim justificam os baixíssimos salários.

A mobilidade social, tão destacada pelas propagandas governamentais, ainda faz parte de uma campanha midiática surreal. Isto prova que a inserção nas estatísticas de pleno emprego e acessos aos bens da linha branca e serviços de primeira necessidade não bastam para suprir o acesso à moradia digna, de fato.

A realidade no terceiro mundo causada pela ação do capital, e gigantes grupos financeiros que o sustentam, as intermináveis injustiças resultantes desse modelo de exploração, a bravura do povo pobre que resiste e suas organizações são as inspirações para construirmos a 5º edição da Flor da Palavra em Curitiba com foco na moradia, direito à cidade, feminismo, transporte coletivo, mídias alternativas, rádio, enfim, autonomia dos povos. Dentro desses eixos e seus desdobramentos procuramos catalisar redes de solidariedade entre as pessoas, livre associações, priorizando as relações humanas como um todo, na busca por um planeta verdadeiramente humanitário, ecologicamente sustentável, baseadas no respeito mútuo entre animais humanos e não humanos.

Esta quinta edição será realizada na Escola Estadual Ipê, no Jardim Alegria e contará com as várias comunidades existentes no entorno da vila. Além das oficinas de software livre, jornalismo popular, teatro, mágica, música, debates diversos o evento será impulsionado pela presença de Luc Vankrunkelsven diretamente da Bélgica para o lançamento do livro LEGAL! Otimismo, Realidade, Esperança.

Traga a sua palavra e participe da construção dessa rede popular de resistência.

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