Reunião de sábado de uma frente de luta pelo transporte. “Acho que temos de refletir sobre certas palavras de ordem que temos usado nas manifestações”, discursava uma militante de um partido trotskista. “Quando dizemos ‘Ei Feliciano, vai tomar no cu!’ ou ‘Puta que pariu é a tarifa mais cara do Brasil’, temos que perceber que isso ofende grupos organizados que estão conosco; ofende as prostitutas, ofende os…”. “Gente!”, interrompe-a um rapaz, “eu dou o cu e não me sinto ofendido. Podem dizer, viu?”. Passa Palavra
Fiquei de cara com a postura anti-feminista por parte do Passa Palavra nesse quadrinho…
Que um manifestante não tenha se sentido pessoalmente ofendido não quer dizer que se não trate de expressões claramente discriminatórias – e portanto opressoras – que o movimento que se pretende libertário ou emancipatório deveria não só evitar mas combater.
A verdadeira cilada aqui é achar que banalizar declarações preconceituosas e discriminatórias é ser libertário enquanto, na verdade, tá é engrossando as fileiras dos Rafinhas Bastos da vida e reproduzindo a opressão. Não é a toa que os movimentos negro, lgbt e de mulher combatem ostensivamente isso. Esse argumento, inclusive, é tipicamente burguês pq é uma tentativa de teorizar pra justificar atitudes opressoras. Atitudes q ajudam a exploração.
Pior, essa não é uma política consequente para unir a classe trabalhadora e os setores oprimidos. Isso serve pra dividir. O movimento de massas no Brasil precisa é de cada vez mais unidade entre explorados e oprimidos pra de fato acabar com o sistema capitalista que a tudo e todos explora e fazer uma revolução social no Brasil. Metade dos manifestantes em junho no país eram mulheres. A consequência nefasta de se curvar ao machismo e outras formas de opressão tá bem clara qual é.
As palavras de ordem traduzem ideias e programas (ações pra serem concretizadas). E por isso tem uma diferença gritante entre, por exemplo, essas 2 palavras de ordem: “Fora Feliciano”, “Ei, Feliciano, vai tomar no cú”. Qual delas é consequente para a luta por uma sociedade livre da opressão e laica e qual, além de propor algo q não muda porra nenhuma, ainda reproduz o preconceito e a discriminação?
Por fim, fico triste em ver uma crítica a uma ativista e a um partido socialista de princípios (podemos não gostar ou discordar de suas ideias, mas é inegável que sempre o vemos na luta e sem se vender) baseada no senso comum. E o mais assustador é que é o mesmo argumento senso comum usado pelo Zorra Total pra legitimar suas piadas.
A verdadeira cilada aqui é entrar nesse debate. É de dar risada o quão para trás ficam os partidos e as ditas vanguardas revolucionárias no avanço concreto das lutas. É um descompasso gritante.
Ao invés de escutarem o que o jovem tem a dizer, eles querem ensinar os bons modos.