“Quanto mais gente tiver aqui, mais difícil vai ser nos tirarem daqui.” Por Passa Palavra

Fotos: Comunicação Favela do Moinho

Moradores da Favela do Moinho, localizada no centro da capital paulista, cumpriram neste domingo (4 de agosto) a promessa de derrubar o muro da vergonha que bloqueia uma das saídas da comunidade há mais de um ano e meio. Em conversa com Fernando Haddad no dia 5 de julho, membros da associação obtiveram a promessa do prefeito de que maquinários de Prefeitura estariam à disposição da comunidade na semana seguinte para a tombada do muro. Após um mês, a estrutura continuava intacta.

“A nossa pressa é por melhores condições de moradia. Nossa comunidade já foi atingida por dois incêndios e 500 famílias tiveram que sair daqui porque perderam suas casas. Muitas estão morando na rua”, diz Alessandra Moja, membro da comissão de comunicação da comunidade.

Às 11 horas da manhã homens começaram a se revezar nas marretadas sincronizadas, pelo menos cinco deles eram necessários para carregar uma britadeira que tentava acelerar o processo de derrubada no muro. Não foi fácil. “Esse é muro mais difícil de derrubar que já vi”, disse um trabalhador. A estrutura de concreto aramado não tombaria com facilidade, uma construção da Prefeitura que não teria problemas para aguentar o fogo dos dois incêndios ocorridos na favela.

Para incentivar o trabalho árduo, ao lado do muro, um festival de música também foi organizado pelos moradores e contou com a participação de cerca de 150 pessoas, entre moradores e apoiadores, em especial de coletivos de mídia. Foram convidados rappers de Guarulhos, Atibaia, a Fanfarra do M.A.L (Movimento Autônomo Libertário), mas as rimas mais cantadas eram de dentro do Moinho com MC Charada e Nego Bala.

Favela do Moinho resistiu a dois a incêndios,
mas está sem respostas há um ano e sete meses


Ainda no final da manhã, a Tropa de Choque e a Guarda Civil militar invadiram a comunidade, alegando ter recebido uma denúncia anônima de que o muro seria derrubado. Após o diretor da associação de moradores, Humberto Rocha, apresentar a documentação dos bombeiros que considera a derrubada do muro como uma questão de segurança para os moradores e o documento de posse por usucapião, os policiais se limitaram a monitorar a movimentação da entrada da favela. O morador não tem dúvidas de que a entrada da polícia tinha objetivo de violentar moradores.

Humberto explica que a decisão de derrubada do muro só foi tomada após a comunidade estar munida do laudo do Corpo de Bombeiros e a conquista da posse por usucapião. A comunidade existe há 25 anos e há oito luta pela regularização da área, que chegou recentemente. Agora a intenção dos moradores é melhorar a infraestrutura do local. “Nossa reivindicação é moradia, água e esgoto, energia. A derrubada do muro vai ser importante porque vai dar acesso aos bombeiros, para todos nós, para ser uma rota de fuga. Vai facilitar o ir e vir, porque só temos uma entrada e que é parcialmente bloqueada pela passagem do trem da linha 7”, esclarece o morador.

O destino do terreno baldio do qual o muro separa a favela será discutido em reuniões com a Prefeitura a partir de hoje, segunda-feira (5 de julho). As propostas foram montadas por um conselho formado na comunidade e serão levadas para o secretário de Habitação e Subprefeitura.

A construção do muro que separa a favela do Moinho de um terreno baldio foi feita em dezembro de 2011, ainda na gestão de Gilberto Kassab, com a desculpa de que estariam protegendo a região da implosão de um prédio na região. Passados quase dois anos, os entulhos do antigo prédio continuam no terreno vizinho.

A presença da polícia é algo frequente. Na última segunda-feira de julho (dia 29), viaturas da Tropa da Choque entraram na comunidade sem autorização ou causa aparente, no mesmo dia em que os moradores tiveram uma audiência na prefeitura. Tal vigilância é um dos motivos da ligação direta entre a construção do muro e a opressão na comunidade. A moradora Regiane Mota, 25 anos, conta que enquanto o muro não era concluído, o efetivo policial era intenso e constante e continuou, ainda que em menor número, por algum tempo após a conclusão da obra. Para ela, a derrubada do muro é uma boa notícia e ela espera que novos moradores possam vir para a região. “Quanto mais gente tiver aqui, mais difícil vai ser nos tirarem daqui”, diz.

O domingo foi muito simbólico para Milton Sales, o Miltão, tradicional militante da comunidade. “Ele marca a luta por moradia digna e por respeito aos moradores das favelas.”


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