Casa Viva: «O Meu Tio», de Jacques Tati
No filme O Meu Tio (Mon Oncle), o produtor e director Jacques Tati faz uma crítica satírica à modernidade artificial do pós-guerra, pondo em contraste o quotidiano de Monsieur Hulot, um homem simples e desajeitado, que vive numa casa desarrumada e antiga, e o ambiente ordenado e moderno da sua irmã, casada com um homem rico. De um lado, a vida moderna urbana, recriada em ambientes de formas geométricas perfeitas, de tonalidade clara, em geral branca, exageradamente limpos, frios e vazios; e de outro, a vida tradicional sob maior mistura de tons e cores, formas variadas, com ambientes realistas, naturalmente sujos, poéticos e aconchegantes.
Monsieur Hulot vive uma série de peripécias que ridicularizam a febre modernista do final dos anos 50, e, com seu jeito simples e ingénuo, ganha a simpatia do seu sobrinho Gerárd.
Com um humor peculiar, Tati brinca com a percepção do espectador, expondo a falta de comunicação existente no mundo moderno, através, por exemplo, do ruído exagerado da fonte do jardim da casa moderna, accionada apenas na presença de visitantes ilustres, atingindo o absurdo na conversa entre a Sra. Arpel e o marido, sob o barulho de electromésticos e máquina de barbear.
A incomunicabilidade na casa onde “tudo se comunica” é ainda apresentada na relação de Gérard com seus pais, a cujos olhos não passa de um miúdo rebelde, que pouco liga, por exemplo, a um comboio que o pai lhe deu, para, em seguida, se maravilhar com um apito ou um boneco de papel oferecidos pelo tio Hulot.
Obediente, de comportamente tido como exemplar, o pequeno cão da família parece representar o próprio filho dos Arpel, contrastando com as travessuras de Gérard, que se une a um bando de miúdos de rua que não seguem regras.
Depois do filme há jantar vegetariano, traz matéria prima e apetite.
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