Em fins de agosto os estudantes da Etesp começaram um movimento pela reabertura de um portão da escola, que encurtava bastante o caminho até suas aulas todos os dias. Eles entendiam que a fechada daquele portão era o primeiro passo para um maior controle de entrada/saída e vigilância sobre os estudantes por parte da instituição.
O processo dura algumas semanas e quase todas são gastas fazendo um abaixo-assinado com quase todas as salas da escola assinando pedindo a abertura do portão. Ficava cada vez mais claro que a situação não iria mudar por meio de assinaturas e conversas com a direção e após um ato organizado pelos estudantes que interrompeu as aulas da escola e se dirigiu para o prédio do órgão responsável por todo o campus (Centro Paula Souza) a reivindicação é atendida.
O que segue abaixo é um texto escrito por alunos que participaram do movimento, onde eles mostram que as conquistas dos estudantes não são presentes das direções ou de simples negociações mas é fruto da luta e organização dos estudantes, sem os quais qualquer negociação é sem sentido.
“Há algumas semanas uma comissão foi formada para decidir o que fazer sobre o repentino fechamento do portão que dá acesso à Praça Cel. Fernando Prestes. Decidimos que, primeiramente, a nossa tentativa seria pacífica, então passamos um abaixo-assinado, conseguimos uma carta de apoio do C.A. da FATEC e, junto com uma carta em que pedíamos o esclarecimento de algumas questões, entregamos uma via do documento ao diretor da ETESP, e outra à diretora da FATEC. Demos um prazo para que a resposta fosse dada, e as nossas questões fossem esclarecidas. Obviamente, recebemos uma negativa, e as questões levantadas, não foram esclarecidas.
O Circo [sic] Paula Souza [CPS] usou como argumento para o fechamento do portão o continuo fluxo de veículos e a facilidade com que seria possível controlar as pessoas que ingressam no campus. Entretanto, há tráfego de veículos por todo o campus, então os usuários daquele acesso não correm risco de atropelamento somente naquele espaço, o que contradiz o quesito segurança. Controlar as pessoas que ingressam no campus, seja com carteirinhas ou afins, seria o início de uma série de medidas que fazem parte de uma política de elitização das ETECs. Essas medidas já foram implantadas em algumas ETECs, e se provaram ineficientes.
Para decidir o que faríamos diante da evidente negativa, convocamos uma assembleia no dia 25/9, onde decidimos fazer uma semana (batizada com o nome Semana Ocupa ETESP) na qual faríamos algumas atividades e oficinas que precederiam o ato.
Nessa sexta-feira, dia 4 de Outubro, seria a concretização da Semana Ocupa. Nosso ato e paralisação em prol da abertura do portão. Começamos com algumas pessoas na praceta esperando a galera da Fanfarra do Mal chegar pra ajudar (e MUITO!) e começar o ato. Começamos o ato, mas e agora? Decidimos fazer um pouco de barulho na praceta e partimos em direção ao Hipólito para chamar os terceiros anos. Fizemos muito barulho e a maioria dos terceiros anos que estavam naquele prédio desceram, depois foi a vez dos primeiros anos, mas fomos barrados por funcionários. Assim, demos a volta em direção ao Maffei e fizemos “muuuuuuuito” barulho. O Seu Antônio, inspetor do Maffei, mesmo tentado cumprir seus deveres empregatícios não conseguiu conter a força dos estudantes.
Depois de passarmos por todos os prédios, chegou a hora. A hora de abrir o portão, a hora de mostrar o quão indignados estávamos com essa mania das diretorias da educação de passar por cima dos estudantes, sem nem sequer questionar o que a maioria dos utilizadores do campus querem. O portão que depois das férias foi proibido à passagem, vale salientar, apenas para nós alunos, já que os funcionários do CPS ainda utilizam o portão, o que evidencia mais uma contradição, jogando a desculpa da segurança por água a baixo.
O portão foi abaixo e com isso nosso movimento ganhou mais força. Ocupamos o primeiro prédio da Fatec, sempre com muito barulho. Depois fomos para o bloco AB e lá nosso grupo se dividiu por alguns instantes, em um desses grupos três de nossas companheiras utilizaram o espaço para relatar um caso gravíssimo de racismo que aconteceu dentro do segundo ano Delta, por parte da Professora Cecília, que afirmou que o cabelo de uma aluna negra estava atrapalhando a aula e pediu para que ela mudasse de lugar e, quando questionada, piorou o que já não deveria ficar pior. Fez uma enquete com a sala, se foi racismo ou não, lembrando que o Ensino Médio da ETESP, é majoritariamente branca (parte dos resultados da elitização e das políticas racistas de educação), o segundo ano Delta não foge a regra. Nós, da comissão do abaixo-assinado, somos contra qualquer tipo de ato machista, racista e homofóbico e nos colocamos a disposição das companheiras.
Depois, os grupos voltaram a se reagrupar dentro do prédio, tínhamos os próximos passos a traçar. Continuaríamos ali ou iríamos para a Av. Tiradentes? Como sugerido pela direção da FATEC em conjunto com a PM, após dizer que se manteriam ao nosso lado pela abertura do portão e que a decisão de mantê-lo fechado estaria nas mãos de funcionários do CPS.
Foi muito emocionante a intervenção de uma companheira fatecana, que se colocou ao nosso lado, apoiou e reivindicou o movimento. Além, de outros companheiros que ao longo do ato nos ajudaram a pensar no que fazer em seguida.
Nosso rumo foi a praceta, para que os alunos que deixaram o material na sala os buscassem e os poucos que estavam nos prédios pudessem se incorporar ao ato. Nosso passo foi ir em direção ao CPS e nossa rota foi novamente o portão, que novamente estava fechado, mais uma vez o abrimos e em seguida tomamos a Av. Tiradentes.
Pra mim, particularmente, foi um dos momentos mais emocionantes. Ver tantos etespianos mobilizados e unidos contra a elitização.
Foi um choque, chegar e visualizar o novo prédio do CPS, bonito e reluzente. Sabemos que um dos motivos de o portão ser fechado é o histórico de mobilizações naquele lugar, devido a sua localização política, em frente ao CPS. Percebemos que havia um vão enorme nesse novo prédio, a ETEC Nova Luz, e lá que queríamos fazer nossa assembleia, para decidir quais seriam nossas pautas e reinvindicações. Mas, não teve negociação, eles não quiseram nos deixar entrar. Fizemos tanto barulho, que tenho certeza que os altos dirigentes do CPS ficaram com medo do que poderíamos fazer, sentiram o cheiro do descontentamento e da mobilização estudantil. Tivemos que subir em uma comissão para dizer que não iríamos negociar sem fazer nossa assembleia no vão do CPS. Assembleia autorizada, nos reunimos em roda no vão da ETEC Nova Luz e concretizamos [sic] as seguintes pautas.
Pautas:
1ª – Abertura imediata do portão;
2ª – Toda futura decisão que reflita na vida e no acesso ao campus deve ser discutida democraticamente com o conjunto da comunidade escolar: professores, funcionários e alunos;
3ª – Contra colocação de catracas e carteirinhas;
4ª – Por um campus mais iluminado;
5ª – Por um campus sem becos e espaços proibidos aos alunos;
6ª – Por uma segurança eficiente e treinada adequadamente para as demandas de nosso campus;
7ª – Por um campus que utilize os espaços adequadamente, os estacionamentos para os carros e que não mais ocupem o único espaço que temos como estacionamento;
8ª – Contra o ensino integrado;
9ª – Contra o SARESP;
10ª – Por mais infraestrutura dos prédios (enfermagem, limpeza, laboratórios etc.)
11ª – Redigir um texto para CPS com nossas posições esclarecidas, para a próxima reunião.
Depois, subimos majoritariamente com os companheiros da comissão.
Na reunião, conseguimos a abertura imediata do portão; que os carros não circulem mais na área do CCI e em frente a ETESP a partir do dia 16 de Outubro; a aprovação de um projeto (feito por nós) de iluminação do campus, até o dia 10 de Outubro, próxima quinta-feira; uma reunião com a Diretora do CPS, Laura Laganá, que será confirmada no dia 11 de Outubro, na qual conversaremos sobre as pautas mais complexas.”
Recomendamos também as leituras de textos escritos por alunos individuais que podem ser do interesse dos leitores.
Texto que deu início a toda mobilização: https://docs.google.com/document/d/15X4nA8_fOAaO-Z3VB7ZjKX0A8S2EoY9Qpwf9KsSNrmI/edit
Texto posterior à mobilização: https://docs.google.com/document/d/1k-teOwkke09TA0t3QSIfjH5DULg7rdBfN6eQ689qVgk/edit