Segue a reprodução do Manifesto Por Condições de Acessibilidade (20 de março) e Nota de Repúdio à Cobertura da Mídia (21 de março), ambos de autoria dos integrantes do Ato pela Acessibilidade ao Campus Jatobá e, ao final, à Carta à Comunidade dos Historiadores (22 de março) relatando os motivos e o fato da paralisação do Curso de História da Unidade Jataí até que sejam atendidas as reivindicações.

Manifesto por condições de acessibilidade ao Campus Jatobá

Ao Magnífico Reitor Orlando Afonso Valle do Amaral e
Senhor Diretor Wagner Gouvêa dos Santos,

10009904_563350710430379_1364645800_nEstudantes e servidores da Universidade Federal de Goiás, campus Jataí, reunidos em Assembleia na noite do dia 19 de março de 2014, deliberaram pela manifestação de hoje e que se estenderá até que a Direção do campus e o DNIT ofereçam respostas concretas às reivindicações apresentadas neste e em outros documentos apresentados pelo grupo manifestante.

Não existem condições de ensino, pesquisa, extensão e trabalho em um espaço de risco de morte para as pessoas que se deslocam. Morte, assim como ocorreu com a estudante Josiane Evangelista Pinto, na noite do dia 17 de março de 2014, ao voltar da aula de seu curso de Direito, da UFG/Jataí. Este fato intensifica a revolta compartilhada entre os usuários do perímetro urbano da rodovia BR-364, sendo o principal motivo da nossa manifestação.

De qual Cidade Universitária se fala quando se trata de um espaço de dificuldade extrema de acesso? De privilégios? De cemitério? Paremos de hipocrisia! Não existem condições de extensão universitária enquanto o espaço acadêmico estiver distante da realidade social, do povo que não tem oportunidade de ingressar na Universidade. E a pesquisa acadêmica, serve a quem? Apenas para beneficiar empresas transnacionais que patrocinam tais estudos com viés economicista privatista?

Ensino universitário para quê? Para ensinar o caminho da morte!? Porque aos trabalhadores e filhos de trabalhadores que se deslocam predominantemente de transporte público (sucateado!) e motos, sob o risco de sofrerem acidente das mais diversas formas, este ensino público não tem contribuído.

A Direção do campus UFG/Jataí tem responsabilidade quanto à segurança dos alunos e servidores que precisam de meios de transporte diariamente para desenvolverem seus estudos e trabalhos. Neste sentido, como medida emergencial, exigimos da Administração do campus que determine a liberação da passagem anterior que representava a via de acesso principal à UFG antes da construção da entrada atual, até porque tal passagem se localiza mais próxima à zona urbana de Jataí, o que reduz a exposição aos riscos das pessoas que necessitam trafegar pela BR-364, especialmente àqueles que o fazem diariamente para estudar ou trabalhar.

Além disso, solicitamos o retorno imediato e funcionamento efetivo do transporte gratuito entre a Unidade Riachuelo e Unidade Jatobá.

Exigimos também algumas ações a longo prazo: elaboração de um projeto viável de acessibilidade ao campus, com ciclovias e passarelas para ciclistas e pedestres; que as vias de passagem dentro da Unidade Jatobá sejam alargadas, especialmente no trecho entre a rotatória do prédio em que será o Restaurante Universitário e a rotatória que dá acesso à cantina da Central de Aulas I.atoemjatai2

Além dessas medidas que cabem à Direção da UFG/Jataí, solicitamos uma ação enérgica no sentido de pressionar os órgãos responsáveis pelas transformações estruturais na BR-364, além das medidas emergenciais de manutenção, iluminação, sinalização e controle de velocidade nesta Rodovia.

Neste mesmo sentido, exige-se a intervenção da Administração da Universidade frente à Prefeitura Municipal e a Empresa Auto Viação Jataí (AVJ), responsáveis pelo transporte público na cidade, a fim de que se garanta um transporte de qualidade, gratuito e acessível aos estudantes (com maior número de ônibus, linhas e oferta de horários).

Na noite do dia 20 de março de 2014, os manifestantes realizaram uma Assembleia Geral na entrada da UFG, unidade Jatobá. Após os informes, leitura e aprovação das reivindicações a serem encaminhadas ao DNIT, a seguinte pauta de reivindicações gerais foram aprovadas:

* Solicitação da passagem anterior da UFG/Jataí, unidade Jatobá, para ser usada como saída, e manter a entrada atual; iluminação no perímetro;

*Colocação das lombadas; poda da vegetação – Votação: aprovação unânime;
* Construção de passarelas para ciclistas e pedestres – Votação: aprovação por maioria;
* Construção do viaduto (ligando o bairro Vila Sofia ao bairro Estrela D’Alva) – Votação: aprovação unânime;
* Transporte gratuito entre a unidade Riachuelo e a unidade Jatobá – Votação: aprovação unânime;
* Revisão do contrato de concessão entre a Prefeitura de Jataí e a empresa AVJ – Votação: aprovação unânime.

Contamos ainda com a presença e participação dos membros da Direção e Reitoria nos atos dessa mobilização, destacando a Assembleia Geral que ocorrerá na data de hoje às 18:00 e amanhã (21/03) às 08:00, ambas na entrada da Cidade Universitária.

Certos de contar com a sensibilidade e engajamento da Administração desta Universidade nesta causa.

Integrantes do Ato pela Acessibilidade ao Campus Jatobá
Jataí-GO, 20 de março de 2014.

 

NOTA DE ESCLARECIMENTO E DE REPÚDIO À MÍDIA.

Os integrantes do Ato pela acessibilidade ao campus Jatobá, da Universidade Federal de Goiás – Jataí, vem por meio desta repudiar a forma que grande maioria da mídia local vem abordando a fatalidade ocorrida no dia 17/03/2014 com a universitária Josiane Evangelista Pinto. Nos últimos dias a maior parte dos meios de comunicação do município de Jataí tem se ocupado em culpabilizar os condutores universitários que trafegam na BR 364 e optam por correr o risco de fazer o retorno da antiga entrada da Universidade, caracterizando-os como imprudentes e irresponsáveis, mas ninguém se pergunta por que ela decidiu ir por este caminho e por que vários outros estudantes escolhem esta opção.

É bem simples, e a resposta não se limita ao “para ganhar um pouco mais de tempo” ou simplesmente para economizar combustível, o novo retorno feito entre as BRs 364 e 060 é três vezes mais distante (4,6km), possui o triplo da distância do antigo retorno (1,5km), fato esse que prejudicou todos os estudantes, professores e funcionários da UFG – Campus Jataí, fazendo com que toda a comunidade acadêmica tenha que permanecer ainda mais tempo em trânsito, aumentando o tempo de exposição a todos os perigos que este trecho oferece.

Os perigos aos quais os condutores estão expostos ao trafegar por esta rodovia são evidentes. Por ser esta uma das principais rodovias da região, por onde todo o escoamento de grãos é realizado, o trânsito de veículos longos e pesados é intenso e todavia em alta velocidade, o que obriga os carros, e principalmente as motocicletas, a acelerarem absurdamente para acompanhar a velocidade e não correr o risco de serem atropelados, ou então ter que se deslocar para o acostamento. Não há, também, iluminação e nem controle de velocidade próximos aos retornos. Além do mais, no período noturno, os riscos se agravam ainda mais na medida em que, durante todo o percurso os faróis dos veículos que vem em sentido contrário, geralmente em luz alta, ofuscam a visão dos motociclistas. Em períodos chuvosos o problema é ainda maior, tornando a via praticamente intrafegável uma vez que a “poeira de lama” lançada pelos demais veículos e carretas sujam por completo as viseiras dos capacetes, deixando o condutor sem praticamente nenhuma visibilidade. Outro grande problema é o viaduto (onde está o novo retorno) que também foi mal projetado, causando insegurança aos condutores que ali podem até mesmo serem assaltados, além da má sinalização e vias confusas. Um prova desta insegurança no viaduto é o acidente que ocorreu na tarde desta quinta-feira (20/03/2014), em plena luz do dia, envolvendo dois veículos de carga.

Uma alternativa a tantos riscos seria optar pelo transporte público, porém este também encontra-se com inúmeros problemas, dentre os quais podemos citar o sucateamento da frota, insuficiência de veículos, regiões da cidade não atendidas, superlotação, intervalo de coletas demorados, tempo de percurso muito longo, altas velocidades, dentre outros. De tal modo, a comunidade acadêmica fica sem opções seguras de transporte, precisando optar por aquilo que considere menos inseguro.

Como é sabido por todos, a moto é um dos meios de transportes mais vulnerável, e foi justamente prezando por sua vida que a jovem Josiane Evangelista Pinto optou em utilizar o acostamento na “contramão” para acessar o retorno mais próximo. A grande questão é, dentre as opções de retornar à cidade, existe alguma segura? Qual retorno, de fato, é capaz de assegurar a integridade dos condutores e passageiros? Não há nenhuma opção segura, seja usando o antigo retorno ou indo até o viaduto o risco de acidente é real, cabe ao condutor escolher qual o melhor meio para si.

Diferentemente do que já foi veiculado em alguns meios de comunicação e também do que já foi alegado por algumas autoridades, a responsabilidade por este acidente não se restringe na imprudência e muito menos na responsabilidade da vítima. Os imprudentes e verdadeiros responsáveis por todo esse problema são as autoridades e responsáveis por todas essas obras realizadas, as quais foram projetadas e executadas sem absolutamente nenhuma consulta ou mesmo diálogo entre todos os afetados. E mesmo depois de realizadas as obras foram feitas diversas reivindicações de forma formal aos órgãos competentes, porém nenhuma providência foi tomada.

Pedimos aos veículos de comunicação que não generalizem, que não façam juízos imediatistas sem antes observar, de fato, toda a problemática acerca desta fatalidade. Pedimos para que a imprensa zele pela liberdade de expressão e pela democracia. Pedimos para que o movimento de reivindicações seja acompanhado de perto e que a informação repassada à comunidade seja imparcial.
Josiane Evangelista Pinto era mãe solteira de uma criança de um ano e oito meses, estava grávida de três meses, era filha da dona Angelina, era guerreira, amiga, irmã, trabalhava o dia todo e mesmo assim nunca desistiu de estudar e de encarar os desafios para ir e voltar da universidade.

Somos todos Josiane!

INTEGRANTES DO ATO PELA ACESSIBILIDADE AO CAMPUS JATOBÁ
Jataí, 21 de março de 2014

 

CARTA ABERTA À COMUNIDADE DOS HISTORIADORES

O Curso de História da Regional Jataí da Universidade Federal de Goiás – UFG solicita dos Colegas apoio e a mais ampla divulgação do exposto abaixo.

Em reunião do Curso de História realizada na noite na ultima sexta-feira, 21/03/14, na portaria de acesso ao Câmpus Jatobá da Regional Jataí da Universidade Federal de Goiás foi decidido, por unanimidade, que nosso Curso, a partir dessa, paralisou suas atividades de ensino até que as autoridades atendam as solicitações emergenciais da pauta de reivindicação do movimento: qual seja: acesso como segurança ao Câmpus Jatobá. O Curso de História declara-se em assembleia permanente para avaliar os rumos dos desdobramentos da paralisação. Parar as atividades letivas não significa, em hipótese alguma, sair do Câmpus e ir embora para casa como se nada estivesse acontecendo.

Síntese dos motivos pelos quais o Curso de História paralisou suas atividades: e soma-se ao acampamento no pórtico do Câmpus Jatobá:
01 – uma colega (JOSIANE EVANGELISTA PINTO – aluna do Curso de Direito) foi atropelada e morta na noite da última segunda-feira, 17/03/14, às 22h30min – quando a moto que dirigia foi atingida por um carro na porta do Câmpus na BR-364.
02 – desde que começaram as obras de duplicação da Rodovia 060, que impactam a Rodovia 364, a entrada de acesso ao Câmpus Jatobá, que já não era segura, mudou-se pra outro ponto desta Rodovia, distante da entrada principal do Câmpus 2.2 km, ou seja, para ir ao novo trevo e fazer a volta até a frente do Câmpus são 4.4 km de exposição gratuita de perigo para a comunidade que usa o Campus Jatobá. No período noturno a situação piora e muito, por falta de iluminação e sinalização adequadas.
03 – a rodovia que da acesso ao Câmpus, BR-364, é uma das mais movimentadas do Centro-Oeste com fluxo pesado de caminhos de carga e veículos de passeio e quase todos cruzando o perímetro urbano de Jataí em altíssima velocidade.
04 – o trecho da BR-364 que temos que usar para ir e voltar todos os dias ao Campus Jatobá possui tráfego pesado e mal sinalizado, mal conservado, com vegetação alta encobrindo todas as placas de sinalização, não há iluminação, não há redutores de velocidade e nem passarelas para pedestres.
05 – o transporte público que nós é oferecido pelo Município é de péssima qualidade só circulando de uma em uma hora o que faz que tenhamos de usar veículos próprios aumentado o risco de acidentes no trecho da rodovia.

O que queremos?
01 – imediata abertura da antiga entrada com colocação de redutores de velocidade e sinalização adequada no local;
02 – imediata sinalização de todo trecho da BR-364 que cobre o perímetro urbano de Jataí;
03 – imediata ativação da iluminação publica na BR364 (perímetro urbano de Jataí);
04 – imediata poda do matagal nas margens e canteiro central da BR-365 (perímetro urbano de Jataí);
05 – Construção de uma nova e definitiva entrada para o Campus Jatobá que não nos obrigue a usar a BR-364.
06 – Transporte público gratuito de qualidade e regularidade entre o Câmpus Jatobá e todos os bairros da cidade de Jataí.

Coordenação do Curso de História da Regional Jataí da UFG
Jataí, 22 de marco de 2014.

 

Seguem fotos do ato:

 

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1 COMENTÁRIO

  1. O Jataí News faz de vossas palavras as nossas. Sempre nos colocamos a disposição dos estudantes nesta luta. Já noticiamos essa falta de transporte e fomos veementes no que diz respeito a acessibilidade dos estudantes naquela unidade. Várias perguntas deveriam ser feitas antes de qualquer tipo de acusação:
    Pq a estudante cortou caminho, pq a estudante foi atropelada? Pq ela cortou caminho?!!! Foi imprudente?!!! Sim, ela foi imprudente. Mas pq ela foi imprudente? Pq alguém não fez o dever de casa na construção da rodovia naquele ponto onde deveria ter sido construído um viaduto, um túnel para que veículos leves e estudantes a pé pudessem chegar ao destino sem que precisassem cruzar tal rodovia … e ainda, sugestão à prefeitura municipal, a construção de uma via marginal ligando o bairro Estrela D´Alva até o campus. Parabéns pelo manifesto.
    Gideone Rosa / Jataí News / http://www.radioline.br.vu

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