14 a 18 de Abril de 2014
Nesse Dia do Índio, era para estarmos cantando, dançando, mas estamos aqui com o coração na mão. Temos ordens de reintegração de posse contra nossas aldeias, que podem acontecer a qualquer momento, com toda a violência da polícia e do fazendeiro. Eles continuam nos ameaçando e nos matando de várias formas, principalmente nossas lideranças.
A presidente, os deputados, os juízes, são também responsáveis por todos os crimes que os fazendeiros e seus capangas cometem. São todos assassinos: matam com suas canetas, quando não demarcam nossas terras tradicionais, quando fazem leis contra nós, quando soltam liminares para nos expulsar de nossa própria terra.
Entramos para retomar nossas terras e a falsa Justiça fica do lado do fazendeiro. Mas quando o fazendeiro atropela o indígena pelas estradas, quando atira em nós, quando manda matar as lideranças, então os juízes ficam quietos, não fazem nada. A lei é só para o branco?
A Constituição de 1988 nos garante o direito a terra, mas isso fica só no papel, por que o branco não cumpre suas próprias leis. Os últimos governos, de Lula e Dilma, demarcaram menos terras do que os governos anteriores. Hoje só vemos o derramamento do sangue do nosso povo.
Resistimos desde 1500. A essa altura, em 2014, não temos mais nada a provar. Essas terras são nossas, e elas estão respingadas de sangue. Quando o branco chegou aqui, já nos encontrou. Nós chegamos primeiro. Hoje não queremos tudo, queremos apenas um pedaço da terra, onde viveram e morreram nossos ancestrais, para estar em paz com a nossa família.
Porém, se não tiver demarcação, vamos fazer a nossa auto-demarcação, e vamos retomar tudo, porque sabemos que na verdade tudo é nosso. Não conhecemos o medo. Nós sabemos quem somos, e estamos unidos. Podem tirar o Guarani Kaiowá da terra, mas não podem tirar a terra do Guarani Kaiowá.