“E enquanto isso todo mundo queria respirar e ninguém podia e vários diziam “Respiraremos depois. E a maioria deles não morre porque já estão mortos”
(Pixado em um muro durante as insurreições de maio de 68)
Alguns problemas do curso de psicologia são evidentes e na primeira oportunidade, no caso, os cartazes do ano passado, eles emergiram e um mal-estar generalizado veio à tona, refletindo em alguns casos na nossa própria relação com os professores. No meio do semestre e principalmente no final, é notório em nossas expressões corporais nosso o cansaço e desanimo. Assim como nossa pouca disposição para atividades extra-curriculares.
Passamos no vestibular e chegamos com inúmeras expectativas e projeções, finalmente diferentemente do ensino médio iríamos estudar o que gostamos, o que escolhemos. Chega o primeiro semestre e um pouco de pressa de ver logo psicologia nos contagia. Eis que chega o segundo ano e a ansiedade dá espaço para o desanimo. Textos e mais textos, acompanhados de aulas e mais aulas, aquilo que deveria ser nosso objeto de paixão, vai aos poucos se tornando uma mera obrigação. A sensação é de que não saímos do ensino médio, nossas faltas são restritas, a concepção de formação é limitada a sala de aula, pouco espaço para exposição de ideias, já que as aulas são em essência expositivas, uma faculdade visualmente morta, sem intervenção alguma, sem nossa cara, não há autonomia para escolha de matérias, tampouco de enfoque que queremos ter na nossa formação. Desta forma, ficamos restringidxs a concepção de psicologia dos professores da FE, participamos de poucas atividades extra-salas porque estamos cansadxs e com inúmeras obrigações ou mesmo porque já estudamos tanto que no nosso tempo livre isso é tudo que não queremos fazer, tem texto e mais texto para ler, poucas atividades culturais entre xs alunxs, pouca apropriação dos espaços da Faculdade de Educação (FE).
A graduação não deveria ser um sacrifício, atividades culturais, pessoais e a própria experiência na universidade não deveriam ser reduzidas para nos graduarmos, elas devem estar implicadas em nossa graduação. Nesses termos, ser psicólogx, o que para muitxs de nós era um sonho, se torna penoso e não deveria ser assim, não deve ser assim. Não é que não queremos estudar, não é que não queremos aprender, é que queremos ir além de sala da aula.
Falam desde que entramos sobre uma formação critica, mas uma formação aulista, que nos obriga a ficar na sala quase metade de nossos dias e no resto do dia nos dá um milhão de texto para lermos, impedindo nossa autonomia na formação, já que psicologia vai muito além do que aprendemos na faculdade e para compreendê-la melhor é necessário outros conhecimentos, como filosofia, historia, sociologia. Além de outras vivências, afetivas e culturais, de contato com outros cursos e com pessoas de fora da universidade. Falam muito do nosso compromisso social, mas além de não nos colocar em contato com esses sujeitos que devemos nos comprometer, ainda restringem nosso contato com os mesmos, já que não temos tempo para isso, ficamos falando sobre sujeitos abstratos, é a crítica pela crítica. Quem quer fazer pesquisa e extensão, tem que se sacrificar muita coisa para isso, já que tem que dedicar o pouco tempo que lhe resta.
Esse tipo de formação não nos forma melhor profissional, tampouco, nos torna críticos. Nos torna reprodutores, nos possibilita reproduzir o que inúmeros autores de 100 anos atrás produziram, mas sem saber dizer o que achamos disso, para alguns, discordar de algumas questões de certos pensadores sem citar fontes é uma heresia, um absurdo esses alunos querendo pensar por eles mesmos. Não somos instigados a pensar, muito menos a produzir. Quantas provas, quantas perguntas já nos foram feitas na sala sobre o que pensamos? Não há espaço para isso, o que pensa fulano de tal, eis a questão. Nos tornam máquinas de reprodução de inúmeros autores, mas sem deixar nossa marca, com vivência limitada da universidade, já que quando tem sarau, quando tem congresso, quando tem palestra, quando tem exibição de filme e tantas outras atividades estamos na faculdade e se porventura tivermos mais de 8 faltas em uma matéria somos reprovadxs. Esse não era o “espírito” da universidade que imaginava e creio que a maioria também esperava muito mais. Esse modelo de formação é empobrecido.
Assim, queremos ser mais que reprodutorxs, mais do que psicólogxs, mas não nos deixam. Estudamos tanto, que não temos tempo para pensar, que nossas relações afetivas, formação cultural e política e mesmo acadêmica se empobrece. Por isso, fazemos este chamado, para irmos à faculdade, mas desta vez não para ocuparmos a sala de aula, não para reproduzirmos. Mas sim para criarmos ou ao menos desenvolvermos relações diferentes das que constituímos diariamente. E paralelo a isto, esse ato se constitui enquanto um protesto por essa formação aulista, vamos mostrar que formação se dá pra muito além de sala de aula, que nós também somos agentes de nossa formação. Vamos discutir sobre a psicologia, vida, et’s, política, anime… Por favor, não vamos nos tornar psicólogxs que só sabem psicologia. Vamos jogar, nos relacionar de modo diferente, conversar com gente que a gente nunca conversou, com gente que a gente nem sabe que existe. Vamos produzir: poemas, pinturas, críticas, textos, contos, análises, vamos sublimar… Sei lá, vamos fazer nossa própria abordagem. Vamos ler, vamos conversar sobre cinema, literatura. Vamos explicar o que queremos. Vamos olhar além da caixa, juntxs! Vamos iniciar um processo de apropriação da faculdade, vamos dar vida a ela, como já disseram algumas professoras “isso parece um convento”. Não podemos nos sentir estranhxs e alheixs a um local onde passaremos 5 anos de nossa vida, esse local é nosso, assim como a formação também deveria ser nossa. Então vamos por ao menos um dia, nos apropriar não só da FE, mas da nossa formação, vamos nos formar juntxs. Queremos diminuir a carga horária, queremos ter tempo para outras coisas, para uma formação menos limitada, então vamos começar por nós, vamos tornar isso realidade, nem que por ora, isso seja apenas por um dia.
Centro Acadêmico de Psicologia – Capsi
Sou acadêmico de Psico da UFRGS (Federal do Rio Grande do Sul)e sinto a mesma coisa que vocês. Infelizmente essa forma academicista aulista de tratar o conhecimento é uma epidemia. Agradeço este escrito de vocês, sinto-me inspirado e apoiado para incitar movimento semelhante aqui. Apoio seu movimento !!