Em um seminário promovido pelo governo federal, direcionado aos servidores dos mais diversos cantos do país, estávamos debatendo em uma das oficinas as formas de controle na Administração Pública. O mediador defendia o controle por resultados (uma concepção considerada gerencialista), enquanto alguns servidores defendiam o controle por processos (modelo burocrático). Um deles, tentando ilustrar o seu argumento, usa o exemplo dos cobradores nos ônibus; diz que sem os cobradores (controle por processos) as pessoas burlariam as catracas e começa a discorrer sobre a natureza corrupta do ser humano. Eu, claro, me distraia com o smartphone. Até que, da outra ponta da sala, um outro servidor grita: Tem que ser tarifa zero! Pausa no teclado, olhos marejados. Passa Palavra
LICENÇA [para citação] POÉTICA:
A flor e a náusea
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Carlos Drummond de Andrade