De modo geral, apesar da pauta da educação ser enorme, o grosso da base foi às ruas e à greve por puro medo. Por Giancarlo Pace
A adesão generalizada das duas categorias de trabalhadores das escolas públicas, que atingiu todo o estado do Paraná, pegou muita gente de surpresa, de direita e de esquerda. Surpreendeu também a greve em 4 ou 5 hospitais regionais no estado; isso era o que se podia ouvir nas rodas de conversa de trabalhadores que se manifestaram em frente à Assembleia Legislativa do Paraná nos dias 11, 12 e 13 deste mês. Embora neste ponto, parece ter havido um fracasso, pelo menos até agora, pois a direção do sindicato estadual da saúde acreditava na greve de todos os hospitais regionais. Visitando o site do Sindicato dos Servidores Estaduais da Saúde do Paraná, tem-se a impressão que já não há nenhuma greve em andamento, pois se pode ler, por exemplo, que “a categoria vai avaliar e decidir se retoma a greve na saúde” no próximo dia 24 de fevereiro.
Também causou surpresa a movimentação dos agentes penitenciários que, apesar de não terem saído de greve (segundo alguns deles, estão apenas em “estado de greve”), foram às manifestações na capital do estado com, dizem, mais de 100 agentes uniformizados e com os coldres vazios. Há informações de que esses agentes fizeram um cordão de isolamento em algumas entradas da Assembleia Legislativa do estado do Paraná, ocupada pelos manifestantes entre os dias 11 e 13 deste mês, com a finalidade de impedir o acesso da Polícia Militar; o que os fez ficar cara-a-cara com os policiais, no dia 11. Ao que tudo indica, a intenção era uma demonstrar aos policiais o apoio de “seus irmãos de armas” à manifestação, razão pela qual não teriam deixado os coldres em casa.
Em muitos aspectos o processo transcorre por dentro do velho roteiro: as direções dos sindicatos organizam as manifestações, as caravanas de grevistas, o roteiro das marchas, quem pode e quem vai usar o microfone nos caminhões de som, quem vai se reunir com os gestores do Estado em caso de haver qualquer reunião de negociação, e financiam transporte e alimentação dos sindicalizados que participam de manifestações na capital do estado. Apesar disso, o que tem impressionado, segundo conversas que se podia ouvir nas manifestações dos dias 10, 11, 12 e 13/02, é que em muitas escolas do estado – setor que registra maior adesão e radicalização – os trabalhadores compraram cadeados por conta própria e os colocaram nos portões das escolas, retirando das mãos dos diretores o controle sobre o acesso às instituições. No entanto, depois que o governo recuou, há também sinais de recuo inclusive nestas categorias mais mobilizadas. Em muitas escolas já voltou a funcionar o setor administrativo, isso já na sexta-feira passada, dia 13.
Aparentemente, o que tomou conta do sentimento desses trabalhadores, tanto os das escolas como os da saúde, como também dos trabalhadores que estão do lado de lá (os agentes penitenciários), foi o medo de no futuro não existir dinheiro no caixa da previdência do estado para pagar suas aposentadorias. Isso porque o governo do estado, nesse pacotão de medidas que foi aprovado pela Comissão Geral de deputados estaduais, dia 10/02, está prevista a retirada de cerca de 8 bilhões do fundo da previdência e transferi-los para o Fundo Financeiro, que ficará sob administração do poder executivo [como se pode ver aqui e aqui]. Com o recuo do governo, o medo se vai, e o trabalhador aos poucos está voltando ao trabalho.
Cenários possíveis
Tudo indica que se o governo pagar os acertos atrasados dos professores temporários que já não mais estão trabalhando no estado porque seus contratos venceram e não foram renovados, pagar férias vencidas e auxílios alimentação atrasados e arquivar o pacote de medidas, na educação a greve acaba de vez; os agentes penitenciários não sairão em greve, assim como os da saúde. Se bem que na saúde o quadro é um tanto mais complicado, pois não é possível identificar se o motivo maior que anima a greve é o rechaço ao pacotão ou se há outros fatores mais fortes.
No caso da primeira hipótese, com o pacotão arquivado, tudo tende a desmoronar. De modo geral, apesar da pauta da educação ser enorme, o grosso da base foi às ruas e à greve por puro medo. O medo levou a muitos trabalhadores a cruzarem os braços e irem às ruas.
Se o medo for embora, o que restará? Veremos.