Carta do delegado da esquerda curda na América Latina ao XI ELAOPA sobre a Iniciativa Internacional para liberar Ocalan e todo o coletivo de prisioneiros políticos curdos

Caros companheiros do ELAOPA e do coletivo de movimentos autônomos e organizações sociais na América Latina, 16 anos atrás Abdullah Ocalan, o líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foi sequestrado por agentes da CIA e do Mossad na cidade de Nairobi, na Quênia, onde ele foi entregue ao Estado turco. Abdullah Ocalan foi forçado a deixar a Síria, onde ele estava liderando a luta do PKK contra os estados que oprimiam o povo curdo. Ele passou vários meses em diferentes países como a Grécia, a Rússia e a Itália – para não mencionar os vários países europeus que nem sequer permitiram a seu avião pousar no seu solo -, a fim de procurar uma solução política para a questão curda. Todos estes países foram cúmplices na conspiração internacional que culminou na prisão de Abdullah Ocalan em uma ilha na Turquia, em confinamento solitário. Hoje já é o 16º ano em que Abdullah Ocalan está em prisão. Ocalan liderou o PKK e seus aliados em uma luta pelos direitos curdos que culminaria em um Estado curdo independente e socialista. Após a prisão de Ocalan, ele começou a ler escritores anarquistas, como Murray Bookchin, Mikhail Bakunin e Pierre-Joseph Proudhon . Ocalan escreveu seu primeiro livro em 2011, estando em prisão, onde ele rejeitou completamente o Estado como um meio para a libertação dos povos, incluindo o povo curdo. Ele declarou que o Estado é o principal mal da nossa sociedade atual e afirmou que a instituição estatal não é necessária para a implementação do socialismo. Em vez disso, ele declarou: “o socialismo só é possível fora do Estado”. O PKK tomou os livros de Ocalan como seu novo manifesto e aceitou todas as teorizações de Ocalan e as transformou no programa do PKK que eles chamaram: Confederalismo Democrático. Hoje, em todo o Curdistão o PKK está organizando assembleias populares, assembleias de bairros, municípios e cooperativas económicas, a fim de libertar o Curdistão. No entanto, a luta contra os estados da região e os grupos não estatais, tais como ISIS continuam com uma intensidade muito alta. O povo de Rojava (é a parte do Curdistão que fica na Síria) foi capaz de declarar o Confederalismo Democrática e implementar os escritos e teorizações de Abdullah Ocalan. Porém, desde que foi feita a declaração, a reação do ISIS tem sido atacar Rojava com artilharia pesada e armas. O povo de Rojava foi muito bem sucedido na luta contra o ISIS e agora o mundo inteiro está de olho em Rojava depois de ter ignorado por muito tempo a Revolução de Rojava. A hegemonia capitalista está se esforçando ao máximo por censurar o projeto revolucionário que está sendo construído em Rojava. Enquanto todos os gigantes da mídia ocidentais estão falando sobre os combatentes curdos (YPG / YPJ) que estão derrotando o ISIS, nenhum deles está falando sobre as assembleias locais, as assembleias das mulheres, a implementação das co-presidências (onde um homem e uma mulher exercem cada um dos postos administrativos em conjunto), assembleias de jovens e de economia cooperativa. Estamos convidando a todos os revolucionários do mundo a quebrar essa censura. Uma revolução socialista de um povo anti-estatista está acontecendo no coração do Oriente Médio e precisa do apoio de todas as organizações revolucionárias do mundo. As experiências específicas dos movimentos não-estatais da América Latina são muito importantes, a fim de poder apoiar a Revolução Rojava com as suas experiências e solidariedade. Enquanto o sistema capitalista está se esforçando para sufocar a Revolução de Rojava por meio do embargo que está aplicado de todos os lados, as organizações de base da América Latina devem ajudar a quebrar o embargo, a fim de permitir que a Revolução de Rojava possa prosperar, esmagando os planos do sistema capitalista no Oriente Médio. Desejamos-lhe sucesso no seu trabalho e esperamos que a solidariedade internacional se intensifique a fim de libertar os nossos povos, através de instituições e mecanismos anti-estatistas , anti-hierárquicos e anti-capitalistas.

Giran Ozcan

em XI ELAOPA – Encontro Latino-Americano de Organizações Populares Autônomas

(14 e 15 de Fevereiro em Viamão/RS-Brasil)

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