«Nós só queremos o pagamento dos nossos salários atrasados e o respeito por parte da direção da universidade, pois nos sentimos invisíveis dentro desta instituição». Trabalhadores terceirizados entrevistados por Passa Palavra
Há dezesseis dias trabalhadores terceirizados da Universidade Federal de Goiás de um campus do interior estão em greve. O problema que eles relatam é comum a outros terceirizados da universidade: trabalhadores das empresas Guardiã, Liderança e Norte-Sul também relatam atrasos periódicos de salário desde outubro de 2014. Os salários atrasam de cinco a dez dias, sendo que no mês de janeiro chegaram a atrasar duas semanas para os trabalhadores da Guardiã. No caso dos trabalhadores da Impacto, o atraso já é de mais de dois meses. Entrevistamos alguns desses trabalhadores que estão entre as primeiras categorias a sofrer um ataque mais grave nessa austeridade orçamentária que se anuncia e que se lançaram nessa iniciativa de paralisação mais longa e inédita entre os trabalhadores terceirizados dessa universidade.
Passa Palavra (PP): Por que começou a paralisação?
Trabalhadores terceirizados (T): Estamos sofrendo uma série de atrasos em nossos pagamentos desde o mês de setembro de 2014, concomitantemente, desde o dia 5 de janeiro, o salário de 50 funcionários da empresa Impacto está atrasado. Com isso, em reunião, e apoiados pelo sindicato, todos estes decidiram paralisar suas atividades.
PP: Que funções estão paralisadas?
T: Atuamos em diversas funções dentro da universidade, como Secretaria de Curso, Administrativos, Almoxarifado. Hoje, com a greve, noventa por cento destes trabalhadores hoje estão paralisados.
PP: Qual a reivindicação de vocês?
T: Nós só queremos o pagamento dos nossos salários atrasados e o respeito por parte da direção da universidade, pois nos sentimos invisíveis dentro desta instituição, mas somos parte importante no apoio às atividades acadêmicas e a Universidade simplesmente se omite perante nossa situação. Isso já seria uma vitória.
PP: Qual a situação dos trabalhadores?
T: A situação está crítica. Muitas pessoas estão sem o que comer, várias estão sendo despejadas de suas casas porque não conseguem pagar os aluguéis, as contas; fora as atrocidades morais a que estamos submetidos, pois somos trabalhadores, temos um trabalho e não estamos recebendo o respeito necessários como cidadãos. A situação está muito difícil e a impressão que temos é que a direção da universidade e o gestor da empresa não sentem a vulnerabilidade destes trabalhadores já inferiorizados por seus baixos salários e não sentimos nestes nenhum amparo com relação à situação crítica por que cada um de nós está passando. Ou seja, não estão nem aí para nossa situação. Já é muito difícil fazermos esta greve, pois os funcionários sentem medo de sofrerem represália, entre outros tantos motivos, pelo fato de sermos trabalhadores terceirizados. Então a mobilização também está bastante difícil. Mas vamos continuar a pressão por nossos pagamentos e por melhores condições de trabalho e respeito por parte da Universidade a esta parcela de seus funcionários.
PP: Por que os salários não estão sendo pagos?
T: O que a empresa diz é que o Governo Federal não repassou as verbas para a universidade; a universidade, por sua vez, não pagou à Impacto; e a empresa, por sua vez, não tem caixa para nos pagar. No entanto, outras empresas de terceirizados da universidade pagaram os funcionários, apenas a empresa em que trabalhamos não está sendo paga, o que é bem esquisito. A outra vertente que remete que a Universidade escolheu não pagar esta empresa específica por cortes de verbas, para efetuarem o pagamento de outros dividendos da instituição.
PP: Estão sentindo alguma unidade dos outros setores da universidade?
T: Ninguém parece estar nem aí. Alguns professores disseram que sentem pena e tal, mas não fazem nada. Os técnico-administrativos e coordenadores acumularam mais trabalho para compensar a nossa greve e estão com raiva. Um grupo de estudantes lançou uma nota, a ADCAJ, sindicato dos professores de Jataí, tem nos apoiado juridicamente e lançaram nota sobre a situação que estamos vivendo, mas a situação é difícil, pois a maioria das atividades desta instituição parece não estar se importando ou sequer tendo conhecimento da situação que estamos vivendo.
PP: Que ação vocês acham que poderiam auxiliar na luta de vocês?
T: Uma coisa que adiantaria bastante seria se os outros setores da regional também paralisassem. Isso daria uma força significativa para a gente. Uma ajuda na divulgação também seria bom, mas o que mais sentimos falta é da união de outros setores da universidade.
Os leitores encontrarão aqui um glossário de gíria e de expressões idiomáticas, tanto de Portugal como do Brasil.