O “corte de gastos” trouxe sérios prejuízos para os estudantes universitários que precisam se deslocar para outras localidades. Por Anônimo
Assim como ocorre na capital do nosso estado de Goiás, aqui no interior a repressão também está presente. Goianésia sempre foi uma cidade dominada pela família Lage e por seus capachos – que se dizem oposição, mas na verdade servem apenas para iludir os trabalhadores e a população através de um discurso de alternância de poder e de ideologia partidária, pois, como bem se sabe, o jogo político é sujo e quem o domina são aqueles que detêm o poder e os meios aquisitivos para conquistá-lo. A cidade vem passando por diversos problemas que vão desde o aumento da violência até o descaso com as vias públicas, o aumento abusivo do IPTU e o corte de gastos na educação, que teve como consequência a retirada e também a diminuição dos ônibus que fazem o transporte dos estudantes universitários de Goianésia até as cidades de Anápolis e Jaraguá, para que possam, depois de um longo dia de trabalho, realizar o sonho de concluir um curso de ensino superior.
Através de uma conta simples podemos perceber o quando esse “corte de gastos” feito pelo nosso digníssimo prefeito trouxe sérios prejuízos para os estudantes universitários que precisam se deslocar de nossa cidade para outras localidades: na gestão anterior, tínhamos sete ônibus para transportar cerca de trezentos estudantes; com o corte, os ônibus passaram para cinco – de segunda a quarta-feira –, e para apenas três no período de quinta a sexta-feira. Se cada ônibus comporta quarenta e oito estudantes, multiplicando-se isso por cinco, teremos um total de duzentos e quarenta estudantes e, nos dias em que apenas três ônibus podem levar os estudantes, teremos um total de apenas cento e quarenta e quatro estudantes, ou seja, menos da metade dos que necessitam desse transporte conseguem embarcar e chegar as suas faculdades. O resultado disso tem sido a dificuldade de frequentar as aulas, a perda de avaliações e de conteúdo e, nos casos mais extremos, alguns estudantes – mesmo com recursos financeiros limitados – tiveram que se mudar de Goianésia para poderem continuar com seus estudos. E o pior de tudo isso é que os estudantes dão uma contribuição para ajudar na manutenção dos ônibus, ou seja, é como se eu pagasse por um serviço e não tivesse a certeza de poder utilizá-lo.
Em resposta a tamanho descaso, os estudantes realizaram uma manifestação no dia 13 de março de 2015 para reivindicar a melhoria nos ônibus e o aumento dos mesmos. A manifestação ocorria de forma pacífica, com o fechamento da principal avenida da cidade, o que, de certa forma, trouxe transtornos ao trânsito. Em um dado momento, dois veículos tentaram furar o bloqueio feito pelos manifestantes. Dentro de um desses veículos estava um policial “a paisana” – sem farda – que desceu do seu carro munido de sua arma e a apontando para os estudantes disse: ”EU SOU POLICIAL! EU SOU POLICIAL!” Os ânimos se exaltaram e uma pedra foi lançada contra o carro do policial civil e, se não fosse pela intervenção de alguns manifestantes que pediram calma, talvez uma desgraça pudesse ter acontecido. Diante desse fato, podemos concluir que: temos uma polícia despreparada, que forma e aceita indivíduos abalados psicologicamente e que estão prontos pra defender os interesses da classe dominante e adoram acabar com manifestações pacíficas e que possuem uma causa justa.
Todavia, nem tudo foi, de fato, negativo. Após essa pressão dos estudantes e que ganhou apoio de diversos populares que se encontravam pelo local, foi marcada uma reunião para o dia 16 de março na manhã para discutir a questão da volta de todos os ônibus que transportam os estudantes de nossa cidade para outras localidades. Com o término dessa reunião, que contou com a presença do “presidente” da Associação dos Universitários de Goianésia e de mais alguns estudantes que foram designados para fazerem parte de uma comissão de negociação com o prefeito da cidade, chegou-se ao seguinte acordo: os ônibus voltarão a circular novamente com sua frota completa (sete veículos), desde que os estudantes se comprometam a prestar serviços sociais para a população de Goianésia e ainda paguem um boleto todo mês como uma forma de atestarem seu empenho e colaboração para o bom funcionamento do transporte e do mantimento do “contrato social” feito com cada estudante para que não ocorram problemas futuros. É claro que essa questão de prestar serviços comunitários é problemática pois, muitos dos estudantes tem outras ocupações que os impedem de realizar tal tarefa. Outra pergunta que nos veio à cabeça foi: se os estudantes já pagam uma taxa por esse serviço, porque os mesmos ainda têm que prestar serviços comunitários para a cidade? Também não sabemos informar qual é o tipo de serviço que eles deverão prestar e nem a quantidade de horas por dia ou por semana.
Portanto, entre prós e contras dessa decisão, fica algo que serve para as próximas mobilizações que – como bom revolucionário que sou, e todo revolucionário tem a esperança de que a luta não pode parar – que não pode ser esquecido: as coisas só se resolvem na rua, a partir das lutas espontâneas, da pressão social e do enfrentamento. É a partir da luta por essas necessidades específicas que se que se começa a perceber a necessidade de lutar por novas demandas e a desmascarar os interesses da classe dominante.