O ato era contra o aumento da passagem de ônibus. Estávamos em cerca de 50 manifestantes e o número de policiais que nos cercavam era quase o mesmo. Dentre os manifestantes grande parte era de dirigentes de partidos de esquerda. Eu caminhava e não acreditava como os policiais estavam tolerantes conosco, permitindo que caminhássemos por uma das faixas de uma avenida importante, num horário movimentado. Atrapalhávamos o trânsito e tínhamos ainda viaturas da polícia abrindo passagem. Do megafone só vinha asneiras: “Hoje é um dia histórico… Este ato é vitorioso…” Aquilo tudo me dava a sensação de que eu estava perdendo o meu tempo. Nisso um manifestante saca da sua mochila uma lata de spray e picha um ônibus. Olha para mim e diz qualquer coisa que não entendi. Imediatamente a vontade foi de tomar a lata dele, depois veio a de me afastar dele. Eu mudo, sem acreditar no que via, ele me olhava, sorria e caminhava ao meu lado. Até que eu disse a ele a única coisa que me ocorreu: “Passarinho que come pedra sabe o cu que tem”. Passa Palavra
A pitoresca cena acima descrita, que não é exclusividade deste ou daquele movimento, de tão corriqueira tornou-se banal.
Dia desses (como em tantos outros que antecederam este) as “lideranças sindicais” donde trabalho contavam-se em muito maior número que a assembleia que então se reunia: para uns vinte trabalhadores da base, havia uns trinta burocratas… que também diziam as mesmas asneiras: “Hoje é um dia histórico… Este ato é vitorioso…”
PASSARALHO ANTICAPITALISTA
Malungo passarinho, ex-guloso, ainda tentando digerir a pedra, inquiriu – algo curto e grosso: “tem cu(l) p’a eu?”.