Quando aquele grupo decidiu pôr aquela terra para construírem ali uma fazenda alternativa, onde reinaria a paz e a fraternidade, onde tudo seria de todos, todos educariam os filhos de todos, todos se alimentariam dos produtos saudáveis que eles mesmos iriam produzir (sem veneno, é claro), se depararam com aquilo que para eles era um grande problema. Um casal de velhos caseiros, já há mais de uma década naquelas terras. Jogaram a responsabilidade pela retirada dos velhos para o proprietário que lhes vendia a terra. Quando um deles me contou que já estavam na terra, que já havia uma escritura demarcando um lote para cada um dos integrantes e etc., eu perguntei do casal de velhos e assim ele me respondeu: “Meu amigo, aquilo foi um grande problema. Ainda bem que o antigo proprietário conseguiu que eles saíssem das terras. Demorou um pouco, mas eles saíram.” “Mas porque não foi possível integrá-los na comunidade de vocês? Agricultores eles são, e é bem provável que eles não se negariam a coletivizar tudo com vocês, não é?”, perguntei. “Não, não dava. Aquele tiozinho está numa outra vibe… ele bebe, enche a cara, dizem que é violento e até bate na mulher.” Passa Palavra
Nossa, esse últimos flagrantes e delitos sobre a “fazendinha feliz” muito me lembraram uma experiência recente de “comunidade alternativa” que aconteceu em uma praia do litoral sul paraibano (um evento chamado “Rainbow”, e que agora migrou para Goiás, onde ocorre com o nome de “Enca”) onde um grupo de pessoas dispostas a “mudar o mundo” se reúnem sem conseguir nem mudar as relações de poder que se estabelecem no interior desses acampamentos.
Além de uma despolitização atroz, reina soberano, nesses eventos, um escapismo, uma abstração tola de realidade típica de determinadas frações da classe média que se empolgam com certo esoterismo barato comungado com o que eles acreditam ser “consciência ecológica”.
Um comportamento que se pretende “anticapitalista”, corolário a um neoprimitivismo tolo e autoincoerente também se desenrola neste tipo de evento, em que a proibição do uso de celulares no interior dos acampamentos convive lado a lado com modernos acendedores de fogueiras e os belos carros dos participantes do evento dispostos no estacionamento das “fazendinhas”.
Parabéns bela arguta observação sobre esse tipo de evento, típico desses “neohippies chics” que estão muito em alta em determinados setores da classe média e entre o público universitário.
Parece não existir, ainda, uma crítica mais efetiva a esse setor, e esses “flagrantes e delitos” colaboram fortemente nesse sentido.