Numa reunião entre professores da base e a burocracia sindical, um dos dirigentes explicava que a luta atual dos professores em greve nas instituições públicas de ensino federal do Brasil estava dividida em três eixos: 1) salário dos professores; 2) infraestrutura dessas instituições; 3) custeio dessas instituições. Após as explicações do dirigente, uma professora da base lhe perguntou: “Se o governo federal atender a reivindicação salarial, a direção do sindicato será favorável ao fim da greve?” O dirigente respondeu que sim e ela fez a pergunta que ficou sem resposta: “Por que é que vocês da direção do sindicato ficam falando de três eixos se, na verdade, só existe um?” Passa Palavra
ETERNO RETORNO DO MESMO:
Santíssima trindade da contrarrevolução burocrática.
Como a “invisibilidade da luta de classes”, ou seja, a divisão entre privilegiados de um lado e humilhados do outro – o aspecto mais importante da dominação social nas sociedades contemporâneas –, o economicismo é, na verdade, apenas parte de um processo de violência simbólica que fragmenta a realidade de tal modo que se torna impossível estabelecer uma hierarquia clara das questões mais importantes. Como em sociedades modernas e formalmente “democráticas”, a censura é inadmissível, a dominação social que tende a perpetuar todos os privilégios injustos tem que criar falsas questões, todas tratadas superficialmente, para que aquelas realmente fundamentais jamais venham à tona. Os homens e mulheres comuns – todos nós – têm que ser mantidos usando apenas uma pequena parte de sua capacidade de reflexão para que a sociedade funcione de modo tão injusto como a nossa”
No fundo, no fundo… grande parte dos sindicatos e associações de trabalhadores, desde os maiores até os menores (a ordem dentro da lógica do capital é esta mesma) se tornaram meros prestadores de serviços, que, na prática, sãomais como um misto de “sociedades anônimas” com “cotas por responsabilidade limitada”.
Sob um pretexto de demanda do trabalhador (sendo, na verdade uma imposição das cúpulas sindicais às bases), priorizam-se, na maioria das vezes, as questões salariais em detrimento das demais reinvindicações dos trabalhadores. Nada mais coerente com a natureza capitalista dos sindicatos e associações: é preciso mostrar “algum lucro” aos “acionistas” trabalhadores para poder justificar esta e tantas outras intermediações que a burocracia sindical se avocou ou impôs como necessárias.
Além do mais, a “renda” da burocracia sindical depende, em parte (outra grande parte de sua renda vem da venda de planos de saúde, dentário, seguros, auxílios funeral e outros tantos “convênios” firmados com capitalista “diretos”. A burocracia sindical ora é um capitalista direto, ora indireto…), da ampliação dos salários de seus “acionistas” para poder aumentar sua própria arrecadação.
Enfim, a essência monetária em que se fundamentam grande parte das lutas dos trabalhadores se origina não só com base em suas reinvindicações, mas, principalmente, nos anseios do capital e da burocracia sindical.
OBSERVAÇÃO: o primeiro paragráfo de meu comentário é de autoria de Jesse de Souza (disponível em http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/516686-nova-classe-media-um-discurso-economicista-entrevista-especial-com-jesse-de-souza)
Beto.