A solidariedade de outras categorias, entidades, movimentos sociais e coletivos é fundamental para a correlação de forças, mas também para avançar na politização da luta, que possa enxergar além da exigência salarial ou das saídas eleitorais. Por Prof da Base

12042622_1259889410692078_7305336493113123173_nNo dia 02 de março, servidoras e servidores da cidade de São José (SC) decidem paralisar suas funções. O salário de dezembro havia atrasado e só foi recebido após manifestações em janeiro, com vigília na Prefeitura e trancamento de vias. O Acordo de Greve de 2015 também foi desrespeitado pela prefeita Adeliana Dal Pont (PSD): os projetos de lei da incorporação da regência e dos benefícios para pós-graduados foram retirados da Câmara após a categoria conseguir o número necessário de votos para aprová-los. Por fim, a inflação estourou no último ano e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) indica 11,03% de aumento, que precisaria ser reposto para não haver prejuízo ao salário real.

São José é a segunda maior cidade da região metropolitana da Grande Florianópolis, uma cidade de porte médio (230 mil pessoas), com metade da população da vizinha capital. A categoria do funcionalismo municipal envolve principamente professoras, assistentes sociais, profissionais da saúde, guarda municipal e setor administrativo. São mais de 3 mil servidoras, com maior adesão à greve nas unidades escolares e de saúde, onde há relação cotidiana entre muitas trabalhadoras e o controle das gestoras da Prefeitura sobre o trabalho é menor.

A greve passou por uma barreira de fogo na semana passada: a paralisação iniciada em Florianópolis na mesma data, com maior mobilização e influência na mídia, foi encerrada com ganho de apenas 6% de reposição – apesar de outras conquistas para setores da categoria. A proposta que São José recebeu foi de 8,5%, que ainda representava perda real, mas o cenário de crise nas prefeituras aumentava a legitimidade da tese de que não há de onde tirar dinheiro.

No entanto, apesar do cansaço visível da maioria da direção do sindicato (Sintram-SJ/CUT) e do Comando de Greve após 5 dias de acampamento em frente à Prefeitura, sob condições climáticas desfavoráveis, no dia 22/03 a grande maioria da base votou pela continuidade da greve e por uma contra-proposta que não abre mão da reposição completa. A greve entra em uma nova fase, onde a Prefeitura começa a usar mão de meios desleais, como liberar não-grevistas do trabalho para ir na assembleia, assim como divulgar uma interpretação legal pouco plausível de que não poderá mais conceder reposição referente a 2015, por conta da legislação eleitoral.

As companheiras e companheiros mais antigos apontam que a mobilização da categoria vem crescendo em participação pelo menos desde 2012, após sucessivas greves com resultados visíveis. No entanto, ainda há pouca cultura de mobilização nas bases: no início da greve, isso se tornava aparente pela falta de cantos e palavras de ordem nos atos, setores de oposição organizados nas assembleias ou, principalmente, iniciativas independentes vindo das unidades de trabalho.

10600606_1259889454025407_8987561383240592628_nAinda assim, é visível que a força da greve vem da organização no local de trabalho: além daquelas 50 ou 100 trabalhadoras convictas, presentes em toda atividade, os atos ganham corpo de verdade através de professoras ou servidoras da saúde que chegam em grupo, vindo junto às colegas. O medo de represálias, receio da “queimação” por outras trabalhadoras, descrença na efetividade da mobilização ou falta de informação e confiança na luta são todas enfrentadas da melhor forma pela organização desde o local de trabalho, que deveria ser o principal método de cada servidora convicta da luta.

No decorrer da greve, a passividade da base vem sendo quebrada através dos novos contatos e relações criados durante as atividades, além da necessidade cada vez mais urgente de pressionar a Prefeitura. Novas pessoas se posicionando nas assembleias, produção de faixas junto a estudantes e pais nas escolas, meios de comunicação próprios da categoria no facebook ou whatsapp, composição criativa de paródias e gritos de ordem para as marchas, entre outros.

Na segunda-feira (28/3), após o feriado de Páscoa, há uma nova assembleia onde dificilmente surgirá uma proposta melhor que possa encerrar a greve. Ainda assim, está claro que o desfecho da luta se aproxima, exigindo o máximo de comprometimento da categoria. A solidariedade de outras categorias, entidades, movimentos sociais e coletivos é fundamental para a correlação de forças, mas também para avançar na politização da luta, que possa enxergar além da exigência salarial ou das saídas eleitorais, tão veiculadas em ano de pleito municipal.

Mais informações sobre os rumos da luta na página Prof da Base – São José: https://www.facebook.com/profdabase/

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2 COMENTÁRIOS

  1. Muito legal ler essa narrativa sobre o movimento.

    Os servidores estão tensionando e testando os limites nessa conjuntura de crise econômica e política.

    Agora, achei totalmente equivocada a leitura de que a base estivesse apática ou desmotivada nas primeiras assembleias. A base era composta por muitos servidores novos, no início do ano letivo, descontextualizados do histórico do movimento e até mesmo das negociações da data-base deste ano. Além disso, a péssima condução das primeiras assembleias pela mesa e pelas intervenções também ajudaram a criar um clima de – aparente – descomprometimento. A “empolgação” ou adesão da base não pode ser medida pelo tanto de gritos de guerra que ela canta ou não..

    Abs!

  2. Sou morador de São José, e infelizmente há muitas coisas a desejar em relação a administração da prefeita. Mas agora que está chegando a época das eleições as coisas podem mudar

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