A expectativa é grande para que novas escolas sejam ocupadas no Rio de Janeiro. Por Passa Palavra
No último dia 23 de março foi iniciada por tempo indeterminado a ocupação do Colégio Estadual Prefeito Mendes de Moraes, localizado na Ilha do Governador, na cidade do Rio de Janeiro. A conjuntura que se apresenta a este movimento é o de uma greve docente iniciada recentemente, que tem tido grande adesão por conta principalmente das instabilidades no recebimento de salários decorrente dos alegados problemas financeiros enfrentados pela administração estadual do Rio de Janeiro.
Assim, apresentamos aos leitores uma brevíssima entrevista com estudante que participa da ocupação. Por motivos de segurança não identificaremos a pessoa entrevistada. Esperamos que este pequeno material comece por deslindar alguns aspectos deste movimento que vai na esteira das ocupações estudantis feitas em Goiás e São Paulo.
Passa Palavra – Como se formou o grupo da ocupação?
Estudante – A partir das manifestações dos professores, em apoio a eles a partir de uma assembleia.
PP – Quem está organizando o espaço?
E – Os comitês.
PP – E como está a organização do espaço?
E – Boa, há comitês de atividades como segurança, limpeza, alimentação.
PP – Quais são os principais problemas enfrentados pelos estudantes que levaram à ocupação da escola?
E – Muita opressão da diretoria, falta de acesso à biblioteca e aos laboratórios, livros sucateados, falta de material didático como papel, e há um limite de fotocópias para trabalhos em sala de aula.
PP – Quais são os principais objetivos da ocupação?
E – Melhoria da educação não só no Mendes, infraestrutura em todas as escolas, pagamento do 13º dos professores, recuo da privatização dos professores, direito de escolher o diretor e direito de organizar um grêmio.
PP – Por que decidiram ocupar o colégio?
E – Não há apoio da direção da escola, não há apoio da SEEDUC que não quis escutar as reivindicações dos alunos e logo após a ocupação apareceram para tentar um diálogo. Só o SEPE [Sindicado dos Professores da Rede Pública] apoia os alunos.
PP – Quais são os principais problemas da escola?
E – Falta de acesso aos laboratórios, falta acesso a biblioteca, sala de dança, falta professor, há professor dividindo o tempo com matéria do ano anterior quando não havia aula.
PP – Como tem sido a adesão dos estudantes em geral à ocupação?
E – Há uma resistência por parte de alunos do terceiro ano pela preocupação com o ENEM. No segundo e primeiro ano há apoio quase integral e o diretor é claramente contra.
PP – Qual é a posição dos professores e demais funcionários com relação à ocupação?
E – Há uma parcela pequena de professores contra a ocupação, os não grevistas. Há muito apoio nas assembleias de professores, dentre esses os grevistas.
PP – E a posição da comunidade em geral?
E – Divididas entre os pais. Uns são contra outros a favor.
PP – Os estudantes estão buscando apoio dos professores e demais funcionários? E como tem sido essa aproximação?
E – Sim. Às vezes é positiva em outras é negativa. Há respeito aos demais pontos de vista.
PP – Existem organizações de esquerda (do movimento estudantil, partidos, etc.) envolvidas na ocupação? Em caso negativo, os estudantes estão buscando apoio de alguma organização?
E – Sim, mas não dormindo aqui. [Na ocupação estão] só alunos com autorização dos pais.
PP – O que os alunos atualmente mais tem precisado?
E – Material de limpeza, colchões, material de higiene, alimentos não perecíveis, panelas, água.
PP – Existe a perspectiva de mais escolas sejam ocupadas no Rio?
E – Muita. Os alunos do Mendes foram em outras assembleias e receberam muito apoio dessas escolas. Em uma escola a diretora recebeu os alunos do Mendes e avisou que lá não haveria ocupação, mas foi decido em assembleia que os alunos vão iniciar a luta.
PP – E qual é o horizonte de luta em um prazo mais longo?
E – Luta pela educação no estado todo, não há previsão de desocupar a escola, a negociação será direta com o governador Pezão.
As imagens foram retiradas da página da #OcupaMendes no Facebook, permanentemente atualizada.