A ocupação se configura contra os cortes, as disputas em torno do governo não aparecem na pauta, o princípio da luta pelo qual as ocupações têm se pautado até aqui, constitui um consenso entre nós. Por Militantes Anônimos
Esta conversa entre ocupantes foi feita a pedido Passa Palavra por militantes que tem acompanhado o dia a dia das ocupações das Escolas Técnicas Estaduais Paulistas(ETECs). A conversa aconteceu o dia 1 de maio, quando apenas o Centro Paula Sousa (CPS) estava ocupado pelos alunos e antes da entrada da Polícia Militar na ocupação. Evidentemente, essa publicação não pretende dar conta dos acontecimentos conjunturais que estão na ordem do dia, como a reintegração de posse do CPS, ou as tensões presentes nas ocupações, mas socializar as reflexões feitas pelos militantes.
Ocupante 0 – Primeiro de Maio, Ocupação do Centro Paula Souza, conversa entre militantes que apoiam os secundaristas. A proposta é produzir algo que possa funcionar como depoimento e reflexão sobre o processo atual. Um de nós editou e reformulou algum tanto, sem alterar o conteúdo, as falas dos demais.
Ocupante 1– A ação reivindica a construção de refeitórios em todas as Escolas Técnicas e, enquanto os refeitórios não são construídos, vale alimentação para todos os alunos, o que se justifica tanto mais, porque eles passam o dia inteiro na escola, principalmente quem faz curso técnico à tarde. Só o que algumas ETECs têm é merenda seca, isto é, suco e bolacha, o que não sustenta ninguém. Já foram realizados alguns atos, conversou-se diversas vezes com Laura Laganá (diretora-superintendente do Centro). Todos os diálogos foram cortados e nenhuma reivindicação atendida. Frente a isso, o ato do último dia 28 expressou uma unificação das Etecs e EEs, que também reivindicam merenda e estão ocupando o espaço. A ocupação foi decidida em uma assembleia ao final do ato.
Ocupante 0 – Então, digam aí o que vocês acham que caracteriza e diferencia esta ocupação das anteriores.
Ocupante 2 – Bem, diferente das outras lutas que formaram boa parte da galera que tá presente na ocupação, durante as quais, de certa maneira, se escancarava uma contradição geral através de alguma medida que o Estado ameaçava impor, e contra a qual se produzia uma forma mobilização defensiva, no caso atual não se trata de uma ação defensiva, mas ativa, reivindicar a construção de bandejões, uma pauta ofensiva.
Ocupante 0 – Mas o caso é ligeiramente diferente no que se refere às estaduais.
Ocupante 1 – No caso das estaduais as escolas ou estão sem comida ou a merenda foi precarizada. O Centro Paula Souza é responsável pelas ETECs, estamos buscando estratégias para unificar essa luta.
Ocupante 2 – Essa parte da luta é fruto do amadurecimento da luta anterior contra a ocupação. Talvez seja a experiência de maiores proporções que este tipo de luta ofensiva conseguiu alcançar no momento.
Ocupante 3 – Bom, vou entrar com a minha opinião pessoal sobre o processo. Um pouco da ideia é iniciar aqui a luta contra os cortes que vão vir muito pesados, que já estão vindo, há algum tempo e, provavelmente, serão agravados este ano. A ideia é começar uma luta ofensiva contra os cortes. Pelo menos eu e boa parte dos militantes aqui entendemos que esta é a melhor saída para a atual crise que o Brasil vive: que os estudantes e os trabalhadores se organizem contra os cortes. Enquanto muita gente está pautando a luta contra ou pró Impeachmeant, contra o “golpe”, a gente entende que o que tem que ser pautado é a luta pelos interesses da classe e dos estudantes. O que está se desenhando também é uma unificação com os professores, que neste momento ainda não se consolidou. A assembleia da Apeoesp, dia 29, veio em ato até a porta do Paula Souza, isso foi muito interessante na medida em que a Apeoesp abrange exclusivamente os professores da rede estadual, isto é, que não têm nada a ver com o Centro Paula Souza e assim expressaram solidariedade. No entanto, por outro lado, os professores da Apeoesp não entraram em greve, como era nossa expectativa, já que isso é o que permitiria unificar efetivamente a luta. Muito ao contrário, parece que a greve não vai acontecer. Além disso, também é preciso considerar que, neste momento, a relação com os professores das escolas técnicas também não é muito próxima. É preciso modificar isso, a proposta do movimento é unificar a luta. Este é melhor caminho, unir estudantes e professores contra os cortes na educação.
Ocupante 0 – De fato, pouco depois da nossa conversa, uma reunião com professores independentes já começava a dar mais alguns passos em direção à unificação.
Ocupante 2 – A forma de repressão do Estado também se modificou nesta ocupação. Com o movimento do ano passado o poder público viu que a tática da repressão policial pura e simples não era tão eficiente especialmente porque a coerção a estudantes menores de idade ocupando um prédio, reivindicando melhor educação pública de forma geral, é algo extremamente polêmico. Até agora, além de uma repressão pontual com gás de pimenta, quando os manifestantes ocuparam o Centro Paula Souza, a polícia tem se restringido à vigilância na calçada do outro lado da rua. Em contrapartida, o governo tem procurado jogar os trabalhadores do prédio contra a ocupação: a supervisão ameaçou demitir o corpo inteiro de seguranças que deixasse o posto no final do turno sem ser rendido por outro colega, como exigem os estudantes para fazer valer sua autonomia sobre as dependências do prédio que eles ocupam.
Ocupante 1- A chantagem surte efeito na medida em que o contrato de trabalho dos seguranças é muito frágil, visto que eles são terceirizados.
Ocupante 2 – No dia seguinte à ocupação, vários trabalhadores compareceram ao Centro Paulo Souza, segundo o que se sabe, depois de receberem instruções por email para cumprir expediente, ainda que do lado de fora do prédio. E eles realmente ficaram por muito tempo do lado de fora do edifício, a maioria passivamente aguardando do outro lado da rua, e apenas alguns poucos exaltados, mais especificamente os trabalhadores comissionados, que ocupam cargos de confiança. Nossa resposta a essa contradição com que o Estado nos dividia foi dialogar com esses funcionários.
O fechamento da folha de pagamento dos professores também se converteu em objeto de pressão do Estado. Segundo a administração, não é possível fechar a folha de pagamento porque o prédio está ocupado. Isso é claramente uma medida política pra jogar os professores contra os ocupantes.
Ocupante 3 – E é preciso considerar que o Centro Paula Souza voltou a usar o seu antigo prédio, juntamente com a ETESP, na avenida Tiradentes. Então, nem a desculpa da falta de uma estrutura física eles podem dar, essa ameaça de não pagar os professores é muito claramente destinada a jogá-los contra a ocupação. Ainda sobre a questão dos seguranças, isso foi parcialmente resolvido: desde ontem (sábado, 30), os ocupantes decidiram em assembleia que não entraria mais nenhum segurança, resolvemos bancar essa medida, que é um posicionamento político do movimento, o último segurança já deixou o prédio, que está agora sob nosso controle total. O que aconteceu é que nós abrimos um diálogo com o supervisor, mediante a divulgação de uma nota esclarecendo que os seguranças não estavam abandonando o seu posto, mas estavam, sim, sendo impedidos de entrar no prédio por uma medida política da ocupação; por fim, nós negociamos com o supervisor, uma negociação até tranquila, garantindo que os trabalhadores que estavam encerrando o turno fossem liberados e que os do próximo turno não entrassem. Nós asseguramos isso, porém, há um sério problema: esses trabalhadores terceirizados vão ser obrigados a continuar a cumprir seu horário de trabalho, agora, do lado de fora do prédio, cumprindo nada menos que as doze horas de trabalho. Isso, durante o dia, é até mais suportável, a gente pode oferecer café, lanche, cobertor, o que estiver à nossa disposição para amenizar essa imposição da empresa; agora, à noite, com esse frio, esse tipo de imposição desproposital configura até uma situação de tortura por parte da empresa. Ela vai expor os funcionários a suportar doze horas de trabalho ao relento, a baixas temperaturas, quando já está claro que as dependências do prédio estão sob controle dos ocupantes, em nome de uma negociação política legítima que justifica a interrupção da função dos seguranças e desobriga o funcionário do seu posto nesse momento.
Ocupante 0 – Nessa situação, o controle do prédio está condicionado à negociação política e não à rotina de segurança ordinária.
Ocupante 3 – Acho que talvez o movimento tenha que encampar a oposição a esse despropósito como pauta, porque, pra mim, isso configura, no mínimo, assédio moral.
Ocupante 2 – Sobre a ocupação em si ela aconteceu de forma suave, em certo sentido é uma ocupação em que as pessoas estão politicamente mais maduras do que estavam no ano passado. Apesar de haver várias forças políticas na ocupação, não ocorre de termos divergência quanto à linha de orientação do movimento, por enquanto; ela se configura contra os cortes, as disputas em torno do governo não aparecem em pauta, o princípio da luta, segundo o qual, ou nossas reivindicações são atendidas ou não desocuparemos o espaço, pelo qual as ocupações têm se pautado até aqui, constitui um consenso entre nós.
Ocupante 0 – Só para ficar claro: a reivindicação imediata a ser atendida é o fornecimento de merenda para as ETECs. A implantação de refeitórios ou, até que isso aconteça, o fornecimento de vale refeição. A ocupação fortalece automaticamente também a mesma reivindicação para as escolas estaduais, onde a merenda foi suspensa ou resumida a suco e bolacha, mas…
Ocupante 1 – Mas o Centro Paula Souza abrange apenas as ETECS e, portanto, ele não tem como acatar a reivindicação das escolas estaduais. O que a ocupação faz é dar apoio e buscar outras formas de organização para contemplar essa pauta também.
Ocupante 0 – Uma característica importante da mobilização no Paula Souza é o fato de que o espaço vai se constituindo num centro de referência no qual os estudantes passam a procurar contatos e formas de mobilização em suas próprias escolas.
Ocupante 1 – Em primeiro lugar, porque, no dia do ato, já haviam muitas ETECs e escolas estaduais e a gente acabou conversando muito sobre o que fazer para dar os próximos passos do movimento no sentido de unificar a luta. Já apareceram muitas pessoas de várias ETECs que, por alguma razão, não puderam participar do ato e que vêm prestar solidariedade, apoio e permanecer no espaço com a gente. De certa forma, isso aqui tá virando um espaço de centralização e pensamento da luta. O que a gente tá deliberando nas assembleias da ocupação são as pautas do movimento, então todos os alunos das escolas podem vir aqui, participar das assembleias e construir com a gente a luta.
Ocupante 3 – Em 2015, a ocupação da Escola Fernão Dias foi um pouco isso.
Ocupante 1 – O Fernão foi uma referência, no começo, mas não era uma coisa centralizada por si só, que organizava. Aliás, o fato de estarmos ocupando o Centro Paula Souza, já traz em si mesmo um caráter muito diferente. Não é só uma escola que virou um ponto de referência. O Centro é em si mesmo um ponto de referência que está ocupado…
Ocupante 0 – A importância dele já é um centro de gravidade, o caráter diferenciado dessa instituição que é …
Ocupante 3 – Ele é uma autarquia do Estado de São Paulo responsável pelas ETECs e FATECs.
Ocupante 3 – Sobre essa ocupação, há uma questão que não pode sair como opinião pública do movimento, de forma alguma, é uma opinião minha, mas que acho interessante discutir, talvez um possível texto do Passa Palavra possa apontar um caminho de discussão por aí. Na minha opinião, acontece que, se há algo de positivo em ser um centro que unifica a luta e que não é uma escola específica, há também algo de negativo, em certo sentido, uma espécie de fuga, que aparece no fato de que, a galera de muitas escolas que não consegue a mobilização dos próprios colegas, do seu próprio lugar de estudo cotidiano, acaba vindo pra cá, ocupando aqui. Quer dizer, no local em que você convive diariamente não tem luta, você não consegue articular, então, você vem pra cá, onde tá rolando uma super-radicalização do movimento e onde tem muita gente; não é o caso de todas as escolas, há várias delas aqui que estão muito mobilizadas, mas há outras que não, nas quais os estudantes não conseguem articular nada. Esse mecanismo pode produzir uma ilusão de mobilização, é uma escapatória, você não consegue fazer luta na sua própria escola, vai fazer onde ela já está acontecendo.
Ocupante 0 – E se desliga da prática cotidiana em que você está inserido, que continua desarticulada, daí que a impressão de luta seja falsa…
Ocupante 2 – Eu não concordo muito com essa crítica. Acho que na ocupação, mesmo quando você não consegue mobilizar na sua escola, há um espaço que permite que você se mobilize em outras escolas; permite que se faça um trabalho militante, sim, mesmo fora da sua escola, e isso é uma experiência, por si só, transformadora. Se não dá pra mobilizar em todas as escolas, ao menos, quando as pessoas vêm pra cá, elas conseguem dar sentido para essa vontade de transformação que elas têm. Isso é positivo.
Ocupante 1 – Eu entendo o que a companheira tá colocando. Parece que as pessoas acabam pensando que não precisam mais fazer um trabalho de base nas escolas, e que acabam dando esse trabalho como feito, por termos dado um passo a mais que é essa ocupação. Isso realmente pode acontecer. Mas o que eu tenho observado esses dias e que está bem claro nas assembleias é que, em primeiro lugar, a ocupação surge como um lugar onde você pode encontrar militantes capazes de ajudar a mobilizar a sua própria escola. Então a gente tá procurando, aqui, também organizar uma comissão prá pensar a luta nas ETECs e conseguir mobilizar pessoas de alguns pontos da cidade, ligadas a escolas mais articuladas, para outros lugares, o que funciona como uma espécie de “gerenciamento” da luta: reunir as pessoas, conversar, buscar a tática mais acertada coletivamente, dividir em grupos e retornar para construir em cada escola. É uma forma de pensar a luta de maneira mais completa.
Ocupante 3 – Uma outra coisa, também um ponto de vista pessoal, que não se confunde com o que movimento vem pensando e divulgando publicamente. Por mais que a pauta da merenda seja verdadeira, boa parte das pessoas que estão ocupando aqui não fazem técnico, não ficam o dia inteiro na escola, não necessariamente dependem dessa merenda. Antes da questão da merenda, me parece que é uma luta contra os cortes em geral, porque as pessoas estão incomodadas e querem fazer luta. E aí a merenda foi a pauta mais concreta e viável que se encontrou para encampar esse novo ascenso de lutas. Me parece que é isso o que coloca as pessoas em movimento: mais uma pauta para encampar esse ânimo, essa vontade e essa necessidade legítima de fazer luta do que realmente a prioridade dessa pauta. Me parece que as pessoas estão em movimento por outros motivos encampados pela pauta da merenda e nós precisamos entender isso, que é algo muito louco porque não é uma pauta que a gente possa simplesmente ganhar, não é algo meramente passível de uma “conquista”, porque a pauta é totalmente difusa, acho que as conquistas podem ser de outro tipo, é uma luta que não se encaixa nos padrões de reivindicação, possível negociação e aí conseguimos nossa conquista, é uma luta porque a galera precisa fazer, porque tem a necessidade de fazer, porque os cortes estão vindo, as pessoas sentem o problema, e é uma geração, ou um recorte de uma geração que, desde 2013, tá vendo lutas acontecerem e precisa fazer luta. São coisas que eu comecei a pensar com outras pessoas, tem que elaborar melhor isso, procurar entender melhor. Mas eu acho realmente que, por mais que a gente encampe a merenda publicamente, e isso tem que ser mantido, o que de verdade motiva essa ocupação é muito mais que isso.
Ocupante 0 – É uma outra característica do movimento atual. O avanço para uma pauta geral que relativiza a pauta concreta.
Ocupante 2 – Faz parte do amadurecimento político que eu já mencionei. Acho que a pauta da merenda está efetivamente colocada, tem bastante apelo nas próprias ETECs. No ato das ETECs que, provavelmente, foi o maior ato das escolas técnicas em São Paulo, era unânime o problema da falta de comida para as pessoas, isso era claro. Agora, numa das primeiras notas da Ocupação nós terminamos dizendo que prá superar esse sistema era necessário uma ruptura e, nesse sentido, eu acho que a pauta da merenda também está ligada à vontade de luta e à contestação da ordem. As pessoas têm uma linha política em comum que vai contra o estado atual das coisas e elas se reconhecem nisso como revolucionárias, elas reconhecem o discurso da classe…
Ocupante 3 – É uma ocupação anticapitalista, se reconhece como tal.
Ocupante 2 – Sim, e a questão dos cortes vai nesse sentido. É uma preocupação até mais politizada em relação à que moveu as últimas lutas. Embora a necessidade da merenda seja real, ela também está ligada a uma vontade de transformação que as pessoas sentem e para a qual elas encontraram um sentido, depois que a luta contra a reorganização teve, de certa forma, o seu descenso com a suspensão da reorganização. Agora as pessoas reencontram esse sentido para a transformação através da luta das ETECs.
Ocupante 3 – Mas eu acho que se, por um lado, há um avanço na mobilização do movimento, por outro, há um desafio, porque vai ser muito mais difícil pensarmos estrategicamente sobre os rumos do movimento este ano, mais difícil encontrar um caminho, um encadeamento de táticas, como a gente conseguiu no ano passado, principalmente devido ao fato da pauta ser mais difusa. Em razão disso, acho que é muito fácil essa ocupação perder o seu sentido, se tornar um pouco um fim em si mesma, é um risco que a gente corre a todo momento, ainda mais do que no ano passado. Eu gostaria muito de ver todas essas coisas sendo discutidas publicamente. É preciso mostrar o que o movimento diz e a elaboração crítica individual que acompanha necessariamente esse processo.
Ocupante 0 – Vocês não acham que nesse momento há também um certo fetichismo da atuação de vanguarda, resultado dos holofotes sobre a radicalidade do movimento secundarista de 2015?
Ocupante 3 – Acho que há, sim, um certo fetiche pela ação radical, é um risco que a gente sempre corre e que só a discussão política sobre os rumos do movimento, a capacidade de não deixar o movimento morrer, de ser criativo e refletir sempre sobre que estamos fazendo é que pode impedir que esse fetiche se sobreponha ao motivo real da ocupação.
Ocupante 2 – As pessoas que participaram do movimento no ano passado sofreram um impacto bem grande nas suas vidas, a maior parte era composta por estudantes secundaristas que não estavam se organizando de nenhuma forma, que não se reconheciam em outros movimentos e organizações existentes, e quando o movimento acaba eles não querem retornar à mesma vida de antes, querem transformar o mundo, militar. Acontece que a referência mais imediata para a luta é a tática das ocupações e dos travamento específicos que foi reproduzida durante muito tempo, inclusive após as ocupações. Uma parte dessas pessoas burocratizou essa tática, ao mesmo tempo em que, outra parte da militância inflou o papel da estratégia.
Ocupante 0 – Eu diria que descrever esse comportamento estritamente em termos de tática e estratégia já é parte do esvaziamento e da fetichização do processo de mobilização anterior.
Ocupante 2 – Muito pelo contrário, eu penso que a discussão é exatamente esta, nesses termos. Na minha opinião, além do setor que supervaloriza a tática, a radicalidade, há também um setor que inflou o debate sobre a estratégia, que também se descolou do movimento, de certa forma, e que ficou sem rumo para a militância no final de 2015. Agora, esses dois caminhos que pareciam estar separados voltam a se encontrar no Centro Paulo Souza. Também por essa razão este espaço tem um grande potencial, duas partes que estavam separadas voltam a se encontrar e dar um rumo pra sua militância, sua vida política. Enfim, para sintetizar a importância desse momento: além de se tratar de uma das maiores ocupações de prédios públicos relacionados à educação já acontecida na história de São Paulo, desta vez, diferentemente das outras mobilizações, a gente ocupou o prédio, não de uma forma planejada, fora do horário de funcionamento, mas, sim, de assalto, uma experiência que não tínhamos nem sabíamos se podia dar certo quando se abriu a possibilidade durante o ato do dia 28.
As imagens que ilustram o texto são de Giuseppe Arcimboldo.
Camaradas, interessante a conversa, mas acho que há um problema na transcrição: quando o texto repete 2014, na verdade está se referindo a 2015, certo?
Caro Caio,
Obrigado pela observação. Já corrigimos.
Atenciosamente,
Passa Palavra
METANOIA ou PROLESTUDANTARIADO
“… a emancipação do homem, mediante a abolição do capital e do Estado, e a criação da comunidade mundial ‘autogerida’ passando por uma fase de domínio ditatorial marcada por alguns estigmas da era burguesa. Esta é a natureza da transformação material e espiritual que Marx expressa com o conceito de autoemancipação…”
Maximilien RUBEL [L’autopraxis historique du prolétariat]