Entrevista realizada em Buenos Aires, no bairro do Microcentro, onde está localizado um dos call centers da empresa na cidade. Uma trabalhadora entrevistada por Primo Jonas
Primo Jonas (PJ) – Qual é o ramo da empresa em que vocês trabalham?
Trabalhadora (T) – É uma empresa de pesquisa de mercado, a quarta maior do mundo. Nós fazemos pesquisa telefônica.
PJ – Qual é o nome da empresa?
T – GFK Kleiman Signos S. A.
PJ – Como é o vínculo de trabalho de vocês?
T – No meu caso fui contratada faz três anos e meio. O problema que temos com a empresa tem a ver com o convenção coletiva de trabalho que habilita a empresa a nos deixar sem trabalho por até 45 dias até que voltem a nos convocar. Isso faz com que não seja um trabalho permanente, que não seja um trabalho contínuo. Por meio dessa convenção eles organizam uma lista de trabalhadores que tem uma pontuação, onde você sobe ou desce na lista – o que eles fazem então é manipular a lista para deixar de fora os companheiros que protestam por melhorias nas nossas condições de trabalho. Por exemplo, estávamos pedindo que se considerasse a dívida dos salários não pagos nos períodos de suspensão, férias, aguinaldo [décimo terceiro pagos em junho e dezembro], licença por saúde dos filhos, que foi uma luta que ganhamos e que foi encabeçada por uma companheira, Mariana Bianchi, que hoje está suspensa justamente por essa razão. Nós estamos nos organizando desde o ano 2012, quando eu fui despedida. Nesse momento então conseguimos estabelecer contato com pessoas de outros países que também trabalham na GFK, como Alemanha, México e Peru. Recebemos a solidariedade de todos esses países – com escrachos à empresa que foram feitos, com textos difundidos, inclusive, por exemplo, a AIT [Associação Internacional de Trabalhadores] fez um documento pedindo a minha reincorporação. Depois de um ano, em 2013, conseguimos a minha reincorporação e a empresa começou a me perseguir e também a um grupo de companheiros com os quais viemos fazendo as reivindicações. Então a partir dessas reivindicações a empresa decide despedir a Alessandra e o Fabiano, dois ativistas destes conflitos, e hoje estamos na porta da empresa todas as segundas, quartas e sextas-feiras, de 12h a 15h, com nossa bandeira, panfletos, vendendo comida para os companheiros para poder juntar dinheiro para o fundo de luta. A ideia de tudo isso é continuar com o protesto até que os companheiros sejam reincorporados e que os companheiros que estão suspendidos também voltem. Os companheiros estão já entrando com um processo por discriminação [sindical], então a ideia é poder chamar também outros setores que estão precarizados, seja decall center ou do lugar onde seja, para somar esforços e fazer essa luta.
PJ – Como é o regime de trabalho normal de vocês e do que se trata o processo por discriminação?
T – Trabalhamos seis horas por dia em dois turnos, temos o horário de 9h às 15h e de 15h às 21. Nós consideramos que é discriminação [sindical], encaramos legalmente dessa forma porque cada companheiro que reivindica, que reclama, protesta, que decide fazer uma paralisação ou participar em assembleias ou ter qualquer opinião contrária à empresa é despedido, como no caso da Alejandra e do Fabiano, ou sancionados, como o nosso caso, de companheiros que saímos a apoiá-los nesse conflito aqui na porta da empresa.
PJ – Qual é o sindicato que representa vocês e que papel está tendo nesse conflito?
T – O sindicato que nos representa é o Sindicato Único da Publicidade. Os companheiros vieram no dia em que houve as demissões, foi feita uma atividade muito grande na porta da empresa na qual participou o sindicato, os companheiros despedidos e companheiros que agora estão trabalhando. A partir de então não tivemos mais contato, mas decidimos como agrupamento de trabalhadores precarizados manter as medidas de luta, esperando que os rapazes do sindicato voltem a se aproximar e que a delegada do sindicato na empresa, Natália Fronteira, possa descer do prédio e vir colaborar e dar algum tipo de resposta frente ao que está ocorrendo aqui com a gente. Seguimos de pé com a luta até conseguir a reincorporação dos companheiros e que voltem a ser convocados todos os suspensos.
PJ – Como foi sua experiência pessoal como ativista em conflitos no âmbito do trabalho precarizado?
T – Quando me despediram houve três dias de paralisação e os companheiros assinaram um petição em que me reconheciam como uma delegada de fato na empresa. 87% dos companheiros assinaram, ou seja, confirmam essa opinião. Nós entramos com o processo por discriminação [sindical] no âmbito jurídico e, fora isso, mantivemos atividades gremiais de todo tipo – por exemplo houve uma mobilização até a porta da empresa onde vieram músicos do Teatro Colón, tiveram mobilizações até o tribunal, tiveram mobilizações até a porta da empresa, que contou com a companheira Elia Espen das Madres de Plaza de Mayo, que encabeçou a luta esse dia; e bom, junto com diferentes ativistas de diferentes agremiações que vieram apoiar, junto com a Rede de Trabalhadores e outros companheiros de diferentes organizações gremiais, políticas, culturais. A luta foi mantida durante um ano e conseguimos a reincorporação, sempre na porta da empresa ou no tribunal, quando tínhamos que mobilizar até lá – com muita pouca gente conseguimos fazer muito [barulho!]. Essa é a luta, vamos seguir mantendo ela até que possamos acabar com a tal lista de trabalhadores, que é completamente discriminatória, até que consigamos também reincorporar os trabalhadores despedidos e os que estão suspendidos. Convocamos todas as organizações que queiram aproximar-se para colaborar com os companheiros, tudo ajuda: panfletos, contribuições para o fundo de luta, bandeiras, o que quer que tenham.