“ONDE HÁ GENTE MORANDO NÃO HÁ CEMITÉRIOS CLANDESTINOS!”
Na manhã desta quarta, 14.12.16, policiais da 12ª Delegacia de Policia Civil de Itapuã identificaram um cemitério clandestino com diversos corpos em uma área próxima à rodovia CIA-Aeroporto, região periférica de Salvador.
O terreno, localizado nas proximidades do Conjunto Parque das Bromélias do programa Minha Casa Minha Vida, está ocioso há muitos anos e é vizinho de outra área recentemente ocupada por cerca de 60 famílias do Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB). A ocupação do Núcleo Força e Luta, que já tinha sido alvo de diversos tiros desferidos por policiais na madrugada do dia 28.11.16 (conforme nota pública), está em vigília. Com o ocorrido, estas famílias estão muito assustadas e apreensivas, mas ainda não há posicionamento das forças policiais sobre possíveis encaminhamentos.
A descoberta dos corpos em um terreno baldio evidencia uma face macabra da especulação imobiliária que tem se intensificado na cidade de Salvador. Além de descumprirem a função social da propriedade prevista na Constituição, estas áreas ociosas, mantidas como reserva de capital pela iniciativa privada, acabam sistematicamente transformadas em cenário ou depositório da violência contra a população mais fragilizada da nossa cidade. Fazem parte de um sistema brutal que impunemente assassina e desaparece com os corpos negros e pobres das periferias, e cristaliza a desigualdade social.
Que beneficio traz para a cidade e para a sociedade a manutenção de áreas vazias, ocupadas apenas por mato, carcaças de carros e cemitérios clandestinos? Enquanto a população e o Estado se debatem diante da suposta carência de espaços para a implantação de moradias sociais, como justificar estas terras ociosas?
A paz e o bem viver só se conquistam onde há comunidade, onde há cuidado e onde há gente reproduzindo a vida. Contra a violência do abandono, só a força da construção coletiva. Por isso a ocupação dos espaços vazios é urgente e legítima. Por isso a luta por moradia é primordial no combate às violências, ao crime e às segregações; e na conquista de dignidade da população pobre, negra e periférica. Onde há gente morando não há cemitérios clandestinos, não há covas rasas e não há corpos descartados.
Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB)