APEOESP: NOVAMENTE, ARTICULAÇÃO AGE COMO GANGUE EM ELEIÇÃO E ESCANCARA NECESSIDADE DE UM SINDICALISMO DE BASE


Após eleições polêmicas realizadas no fim de maio, tomam posse nesta terça-feira, 27 de junho, a nova diretoria e os novos conselheiros estaduais e regionais da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). Mais uma vez foi eleita Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, pela Chapa 1 (composta pela CUT/CTB) – esta será sua quinta presidência (o primeiro mandato iniciou em 1999). Mesmo em meio a tantas críticas e insatisfações, a Apeoesp seguirá sendo dirigida pela Articulação Sindical – grupo comandará a entidade por mais de três décadas ao fim desse mandato. Mas como os cutistas se mantêm há tantos anos no poder mesmo com o descrédito da categoria?

A resposta é a forma como foi realizada a última eleição, cujas histórias se assemelham muito ao que já se relatou em pleitos passados: fraude eleitoral e a intimidação, tradição cutista em diversas subsedes da Apeoesp.

Como exemplo disso podemos mencionar a manipulação de atas e votos das urnas na subsede Sudeste-Centro; a invasão violenta com bate-paus (seguranças particulares) da Chapa 1 em Guarulhos; urnas que não chegaram às escolas de candidatos da oposição; coação e ameaças físicas a inúmeros mesários, fiscais e candidatos; e na porta das subsedes, professores inscritos para apurar os votos foram impedidos de presenciar a apuração e ameaçados por “bate-paus”.

A Apeoesp, por meio da atual direção da Articulação Sindical, alega que há uma estrutura democrática e transparente apoiando-se na alegação de que a estrutura da diretoria engloba tanto a chapa majoritária como uma parcela da oposição (que normalmente obtém pelo menos 20% dos votos nas eleições). Essa dita “democracia” acaba fazendo com que as vozes dissonantes sejam absorvidas por longos anos quando lhes são oferecidos cargos na direção sindical.

A composição dessa estrutura mostra-se viciada da mesma forma como nas práticas eleitorais típicas da democracia representativa burguesa, tais como o personalismo, o voto de cabresto, o tratamento aos eleitores como se fossem “gados”, a utilização da máquina financeira para custeio de campanhas partidárias, o abuso do poder econômico para a administração geral do pleito etc.

Para ilustrar algumas dessas práticas utilizadas pela Chapa 1 podemos descrever alguns fatos. As subsedes do Sindicato sequestradas pela Chapa 1 sequer respondem aos recursos encaminhados pela base cujo o direito de votar, sabemos, foi alienado por artimanhas. Algumas delas: carros que foram utilizados para transportar as urnas vinham “avariados”, necessitando de horas de reparo em um mecânico; integrantes da Chapa 1 inventam desculpas em meio ao trajeto para impedir a circulação de urnas em escolas reconhecidamente de oposição (tanto mesários como motoristas fingem mal-estar, fome, carro quebrado, carro engasgando, caminho errado etc.); e ameaças a mesários de oposição que realizavam a eleição. Eles também não respondem aos recursos dos candidatos que não lhes interessam, assim como mesários da Chapa 1 impediram fiscais de acompanhar as urnas das escolas à sede do Sindicato, onde aguardariam a apuração.

Outra situação lamentável ocorreu com muitos candidatos e militantes de oposição que dormiram ao redor das subsedes dominadas pela Chapa 1 para vigiar as urnas e garantir a transparência do pleito e, no entanto, muitos que se sujeitaram a esta medida desesperada para fazer valer a voz da categoria, tiveram o acesso às suas respectivas subsedes negado pela Comissão Eleitoral Regional e pela presença de “bate-paus” da Chapa 1.

Mais uma vez, venceram o aparelhismo, o gangsterismo e a burocracia como modelo de sindicalismo nestas eleições e assim perdeu-se integralmente a independência de organização e os interesses das trabalhadoras e trabalhadores. Venceram também os interesses privados e as práticas fraudulentas de um grupo político que permanece há décadas na direção, deturpando a legitimidade política de um sindicato: representar os interesses reais dos próprios professores.

Propomos um sindicalismo que tem como objetivo impulsionar trabalhadoras e trabalhadores para os processos de decisão internos de seus instrumentos e viabilizar as lutas da categoria. Que seja um meio que direcione os sindicatos para uma democracia de base de fato e não um instrumento corporativo e de manutenção da dominação. A forma como a Apeoesp se estrutura pode tanto dinamizar quanto bloquear o movimento, enquanto poder popular, dos professores em suas lutas. Os trabalhadores necessitam formar-se para entender o funcionamento da sociedade, das distintas realidades e contradições das classes oprimidas, potencializando a vontade de transformá-la, e esse acúmulo de forças não se dá à frente da categoria e nem atrás dela, mas ao lado, ombro-a-ombro.

Portanto, nós, da Resistência Popular Sindical-SP, repudiamos qualquer tática autoritária, violenta, intimidadora para se perpetuar em cargos seja das subsedes, seja da direção sindical. Acreditamos que o poder do sindicato se concentra nas relações construídas na base dos trabalhadores e não na direção burocrática do aparelho sindical. Queremos um sindicalismo que preze pela independência de classe e autonomia política, que realmente seja um instrumento de luta à disposição da luta da categoria e da classe trabalhadora.

Acreditamos também que é necessário combater a cultura individualista capitalista vigente de apropriação do sindicato, tanto pessoal quanto politicamente, assim como no que diz respeito à sua estrutura jurídica e material. Em nossa visão, os interesses dos dirigentes, sejam pessoais ou partidários, não devem prevalecer em detrimento dos interesses coletivos.

Propomos a descentralização do poder decisório, a organização pelos locais de trabalho, a participação real de delegados sindicais e a regularidade das assembleias e demais instâncias como antídotos eficazes contra a burocratização. A rotatividade dos delegados nas distintas tarefas, o fomento à constante renovação dos militantes de base e também a discussão séria de critérios mais rigorosos quanto à liberação dos dirigentes de seu local de trabalho também cumprem papel fundamental nesse sentido, porque podem ser capazes de romper com a burocracia sindical e potencializar a democracia de base (democracia direta) e a independência de classe, fechando as portas para o encastelamento, a acomodação e abrindo caminho para um sindicalismo classista e combativo.

Diante desse cenário, o que resulta é o enfraquecimento do sindicalismo como instrumento de luta dos trabalhadores em prol de um atrelamento ao Estado e o apreço a luta pela direção em detrimento do diálogo e construção pela base, expressando um modelo de conciliação de classes condicionado à perspectiva eleitoral e apoiada no fascismo… quem perde com isso é o trabalhador.

Ressaltamos, portanto, a necessidade de trazer novamente ao sindicalismo o horizonte de poder popular e de crítica a essas práticas vigentes resgatando o comprometimento com a base, com a perspectiva classista e a solidariedade como pilares inalienáveis. Acreditamos que a Apeoesp, e qualquer sindicato, deve ser um instrumento de luta dos trabalhadores e para os trabalhadores e que deve estar atrelado às lutas cotidianas do professorado e em plena solidariedade com os movimentos sociais e às demais categorias.

A principal tarefa da Apeoesp é construir uma via forte que ampliasse os horizontes de discussões e que impulsionasse um diálogo direto com a categoria, ao contrário do que se vivencia nessas práticas da luta sindical e o que fica explícito nas eleições do sindicato, pois utilizar-se de “bate-paus” para coagir a própria base e impedir demais professores sindicalizados de votar em suas escolas são expressões típicas semelhantes dos opressores capitalistas à classe trabalhadora.

7 COMENTÁRIOS

  1. A APEOESP possui mais de 150 mil filiados e arrecada mais de 90 milhões por ano com as contribuições. O único interesse do sindicato é a posse desses 90 milhões. Em 20 anos, o sindicato não conseguiu derrotar nenhuma das ações governamentais. A única derrota que o governo sofreu veio dos estudantes, que ocuparam escolas e usaram a net como meio mobilizador. Eles não tinham um centavo!

    A pergunta: se os alunos mostraram como é que se derrota o governo, por que temos gente dita autônoma lutando pra gerir os 90 milhões e lutando pra aumentar a arrecadação do sindicato com mais filiados?

  2. Essa é fácil: se tua intenção é lutar, 90 milhões paga os advogados para tirar os professores presos nas manifestações, acompanhar o processo deles, imprimir os panfletos em todas as sedes pelo Estado, alugar os ônibus para levar os professores aos atos centrais, pagar campanhas de midia, paga também os elementos de auto-defesa das sedes e nas manifestações, os espaços físicos do sindicato para reuniões de estudantes ou de outros trabalhadores em luta, usa-se para fundos de greve — tanto dos professores quanto de outras categorias, usa-se para campanhas internacionais de solidariedade, paga eventos e materiais de formação sindical e política dos professores, enfim.
    Vai me perdoar esse dito autônomo da pobreza, mas se a perspectiva é tomar sempre a pior situação como o horizonte, estamos fodidos. Aliás, o que tem de secundarista sendo perseguido até hoje, pela polícia e pela justiça, não é brincadeira. Esse pessoal fica como? Você acha que vai ter muito professor partindo para cima se não tiver ninguém bancando além do seu grupinho de afinidades? Professor não é menor de idade não.

  3. Sobre o que postou o colega aí, pergunte aos exonerados durante a greve de 2000 qual apoio receberam com os milhões. Apoio nenhum, nem jurídico nem material. Papo furado.

    O SINDICATO É INUTIL

    A APEOESP é o meio pelo qual os trabalhadores da educação não ganham nada e 20 anos o provam.

    No fim dos anos 90, durante a gestão Mario Covas, o sindicato lutou contra a municipalização: perdeu!
    Depois, sob Alckmin, veio a política de bônus e também perdeu!
    Com Serra vieram as letras, dividindo a categoria em grupos e deixando parte na precariedade. O sindicato também perdeu essa luta.

    Veio o currículo oficial, perdeu!
    Veio política de aumento mediante provas, perdeu!

    Veio Escola de Tempo Integral, um projeto da Natura e o sindicato também perdeu.

    Nem mesmo arrancar aumento no vergonhoso vale alimentação de 4 reais o sindicato conseguiu. Todas as mudanças que o governo quis passar para o professorado ele passou e as mudanças que ocorreram se devem mais as diferenças entre a linha de José Serra e de Alckmin e as pretensões eleitorais dos dois (aumento no vale – coxinha e uma pequena reposição feitas por Alckmin).

    A única derrota que o governo teve veio dos estudantes que lutaram contra a reorganização. Eles não possuem os 90 milhões do sindicato e conseguiram vencer sem grana alguma nem burocracia alguma. Sem aparelho engessador, mas com grande vontade, inovaram ao ocupar as escolas e usaram a net para mobilizações e tomadas de decisões rápidas. Deram nó num governo acostumado a previsibilidade de um meio que usava excursões + longas assembléias no centro que terminavam em caminhada inócua na Paulista.

    O sindicato arrecada 90 milhões ano e o único objetivo é manter a posse desses 90 milhões e até ampliar a arrecadação que vem de mais de 150 mil filiados. Mesmo que tenha a melhor das intenções, qualquer grupo que entre nisso perde energia lutando por aparelho e depois perde mais energia ainda pra manter o legalismo do meio e toda a estrutura. Não por acaso a luta entre os professores é morta, modorrenta, burocrática, previsível, ineficaz. Na melhor das hipóteses, o sindicato é uma empresa que arrecada 90 milhões e presta serviço jurídico além de fazer alguns bailes pro professor, manter um site, um hotel e colônias e soltar notas na imprensa.

    Obs:mesmo que a RP queira, nunca ganhará dos bandidos da chapa 1, que ficarão bem mais violentos se for necessário. Eles contratam bandidos pra fazer segurança, possuem milícia.

  4. amigo autonomista, tem algo confuso no seu relato…
    todas essas derrotas que você menciona. Foram do sindicato ou dos trabalhadores?
    1) Se o sindicato é simplesmente inútil, não se entende bem o porquê fazer a tua denuncia, estou certo que os primeiros a o saberem são suas bases.
    2) Se o sindicato, mais que inútil, joga contra os trabalhadores, então é necessário mais que simplesmente ignorá-lo, é necessário derrotá-lo. E se a organização dos trabalhadores de base não é capaz de botar para correr bate-paus da burocracia sindical então certamente já abandonamos qualquer aspiração à insurgência territorial, pois a escala é incomparável.
    Aliás, é muito diferente um sindicato que usa bate-paus para garantir as eleições e controlar o microfone da assembleia e outro que diretamente entrega ativistas para os patrões, faz campanhas macartistas entre as bases e impede a organização nos lugares de trabalho.

  5. Se alguém quisesse fazer alguma luta iria dar início a contatos entre os professores, buscar forma de uni-los em prol de dadas bandeiras e disso iniciar um combate ao governo. Pode ser algo no currículo, pode ser um vale alimentação mais adequado, pode ser a reinvenção de mais computadores pra escola. Não há necessidade alguma de se fazer uma incursão primeiro no sindicato para depois lutar por algo. E também não há necessidade de adotar o modelo de luta sindical, que não conquistou nada em mais de 20 anos.

    Bem, mas o sindicato tem 90 milhões, tem um aparelho. O que esses grupos todos fazem, mesmo que se proclamem anarquistas, é lutar pelo aparelho. Como dizia Tragtenberg, o que era para ser um meio torna-se um fim e lá ficam os grupos todos numa luta eterna que não traz beneficio nenhum pros professores. E por que grupos querem o aparelho sindical?
    1. Querem os 90 milhões pra ter grana pra outras coisas…Caixa 2 pra partido-movimento
    2. Ser dirigente te libera do trabalho e traz privilegios: apartamento em SP pago pelo sindicato + verbas extras
    3.Estando na direção é possível solidificar um caminho pro parlamento ou mesmo carreira política no executivo ou conselhos
    4.A posse do aparelho é usada para defender as idéias e interesses dos grupos.

    A luta pelo sindicato não tem nada a ver com luta pela categoria.

  6. mas então em mais de 20 anos a categoria não realizou nenhuma luta, apenas o sindicato? O que foi que impediu a luta pela categoria nestes 20 anos?
    Se o problema é a desmobilização dos professores, com ou sem sindicato a luta não ocorre. Se há mobilização de professores e o sindicato desarticula ou persegue, então claramente existe um problema a ser resolvido para desfazer-se desta trava, não basta ignorá-la. E não é questão de fazer incursões, os grupos eleitorais e mais articulados vão disputar as eleições sindicais de qualquer forma, principalmente quando a atual direção estiver enfraquecida — não vai ser a propaganda anti-representativa que vai impedir ou deslegitimá-los frente a massa de professores.

  7. Ocorreram sim muitas lutas dos professores. Só que elas ocorrem de forma particularizada. Conheci vários casos de mobilização por melhorias materiais, reformas e não fechamento de escolas, assim como por mais segurança. Ocorre que estes casos de lutas nas escolas não são divulgados por ninguém, nem sindicato, nem midia, nem governo. Parece que ninguém está interessado em mostras que estas lutas existem. Só quem trabalha efetivamente na rede é que fica sabendo.

    Além disso, podemos dizer que a forma de luta do professorado têm sido individual e passiva. O professorado não trabalha no ritmo requerido pelo governo e ainda há uma quantidade alta de faltas, absenteísmo. Assim, como não há uma organização coletiva do professorado, a insatisfação acaba sendo demonstrada individualmente. Não por acaso, todas as mudanças administrativas e pedagógicas tocadas pelo governo têm o interesse último de diminuir o absenteísmo e aumentar a intensidade do trabalho docente. Para isso, o governo aumentou as formas de controle sobre o professorado.

    Existe sim um caminho que não é governo nem máfia sindical. Um caminho não divulgado, não explorado, não discutido e nem estudado. Algum dia surgira algum grupo capaz de ousar e renovar a luta. E será partindo destas lutas particularizadas e autonomas que surgira a renovação.

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