Com este artigo a busca é por ilustrar a posição de Morgan na antropologia soviética e assim obter um vislumbre da própria teoria antropológica soviética. Por Paul Tolstoy

Traduzido por Lucas Parreira Álvarez[1] do original: TOLSTOY, Paul. “Morgan and Soviet Anthropological Thought”. American Anthropologist, vol. 54, no. 1, 1952, pp. 8–17.

I
O objetivo desse trabalho não é definir a influência de Morgan sobre a antropologia soviética ou a acomodação das ideias de Morgan para o pensamento marxista, leninista ou estalinista, mas sim ilustrar a posição de Morgan na antropologia soviética com diversos exemplos concretos tirados da literatura antropológica russa pré e pós a segunda Guerra Mundial, e para obter um vislumbre da teoria antropológica soviética nesse processo[2]. Algumas conclusões quanto à influência de Morgan sobre a antropologia soviética e a natureza da afinidade entre as perspectivas marxistas e morganianas podem, indiscutivelmente, serem sugeridas com base em uma análise apressada; no entanto, tais conclusões não podem, de modo algum, serem consideradas como exaustivas ou definitivas.

Ao lidar com as fontes  antropológicas russas do período pós-revolucionário, é importante ter em mente o fato de que é quase impossível diferenciar, nessas fontes, as distintas escolas de pensamento – pelo menos num ponto de vista sincrônico. Considerando que, como se mostrará, a opinião (ou melhor, doutrina) antropológica soviética mudou, e que suas posições acerca de várias questões mudaram com o tempo, essas alterações e contradições são em grande parte as expressões de uma atmosfera de opinião oficial, ao invés dos resultados de uma pesquisa empírica. Assim, raramente encontraremos dois autores discordando da importância de qualquer problema; por outro lado, qualquer nova posição teórica provavelmente será anunciada ou confirmada por um edital oficial emitido de cima, quando não para refletir alguma mudança de política óbvia em outros domínios do pensamento ou comportamento soviético. As polêmicas, no sentido americano da palavra, são amplamente inexistentes na imprensa antropológica soviética; por outro lado, pode-se encontrar nas páginas da etnografia soviética pelo menos um exemplo do tipo de confissão abjeta que é conhecida, em outros campos da atividade soviética – como literatura, música e biologia – para ser a forma aceita de retratação intelectual.

Com esses pontos em mente, é possível abordar a questão da posição de Morgan na ciência soviética e chegar a algumas conclusões de fato e algumas suposições a respeito disso. Na seção II, a posição de Morgan na literatura etnológica e arqueológica russa durante a terceira década do século XX é brevemente delineada: na seção III, é contrastada com a evidenciada nesta mesma literatura após a Segunda Guerra Mundial.

II
As características fundamentais da etnologia soviética do período anterior à Segunda Guerra Mundial são possivelmente mais evidentes em um artigo de Kagarov[3] em uma publicação VOKS na língua inglesa. Essas características podem ser definidas como: 1) um interesse primário na “estrutura social da sociedade pré-classe[4]”; 2) um uso extensivo de esquemas ou sistemas que estava em voga na antropologia americana pré-boasiana[5]; e 3) um evolucionismo intransigente. Impressiona a constatação de que os três desses traços são compartilhados, até certo ponto, por Morgan e Marx. E, de fato, é em grande parte devido a essas características, além de algumas menores, que Morgan é louvado pelos autores soviéticos.

Assim, Matorin[6] afirma que a etnografia soviética é amplamente filiada, nas suas ideias, da perspectiva de Lewis H. Morgan; “O quadro principal da teoria de Morgan”, diz ele, “permanece inalterado[7]”. Existe até uma insinuação de Matorin acerca de uma conexão mais direta da antropologia soviética com o pensamento de Morgan do que com as doutrinas de Marx e Engels. Isso, no entanto, pode ter sido algum deslize por parte de Matorin, uma vez que outra fonte aproximadamente do mesmo período[8], e que trata do desenvolvimento histórico do casamento e da família, refere-se a Morgan em uma seção de 36 títulos junto com alguns outros estudiosos burgueses como Havelock Ellis, Bachofen e Frazer como “literatura para referência crítica”, enquanto a maioria das referências (61 títulos) consistem em obras de Marx, Engels, Lênin, Stalin e de resoluções da Terceira Internacional e do Comitê Central do Partido Comunista. Também é significativo que J. Sternberg seja avaliado de maneira benigna como um “não marxista, mas sim um seguidor das tradições de Morgan[9]”. Parece, portanto, que, neste momento da história da antropologia soviética, o principal contributo de Morgan foi seu esquema; já os detalhes do processo, por outro lado, estavam sob o domínio da dialética marxista.

O fato do esquema evolutivo morganiano ter sido a base da reconstrução histórica soviética neste momento é amplamente ilustrado não apenas pela afirmação de Matorin citada acima, bem como pelas numerosas elaborações desse esquema desenvolvidas por Tolstov, Zolotarev, Rrichevsky e Bernstam e revisado por Kagarov[10], mas também pelas posições dos envolvidos na pesquisa arqueológica soviética. Bogayevsky[11] descreve uma série de correlações entre os estágios clássicos do Paleolítico e do Neolítico e as subzonas de Selvagaria e Barbarismo de Morgan; O monumental tratado elaborado por Efimenko sobre o paleolítico na URSS[12], é uma excelente fonte de informação, e estabelece essas correlações em forma tabular.

O evolucionismo intransigente do pensamento soviético é bem exemplificado por uma série de comentários críticos feitos por Ragarov sobre os antropólogos russos da velha escola. Assim, Sternberg é resumidamente apresentado como um autor conveniente, mas é citado por lamentavelmente ser “influenciado pela teoria da difusão[13]”. The Spreading of Culture over the World, de Bogoras, representa um estágio “superado pelo próprio autor[14]” já que o próprio Bogoras aparentemente se juntou às fileiras de um “grupo de especialistas antigos” que estão “alterando totalmente suas opiniões[15]”. As interpretações psicológicas também são consideradas inadmissíveis, e assim, Sternberg é mais uma vez criticado por Kagarov por “superestimar o papel do fator sexual”. Todas essas críticas, que podem ser observadas de passagem, são, por característica, críticas de conteúdo e não de método. Por outro lado, Azadovsky[16] fala da cultura como algo pelo qual “no indivíduo é revelado o geral” de uma maneira que sugere o conceito de “superorgânico” desenvolvido por Kroeber e White; em tempos de pós-guerra, no entanto, como se verá, o conceito de “superorgânico” é fortemente criticado.

O prestígio de Morgan é frequentemente intensificado na literatura soviética pela repetição de uma lenda que aparentemente foi criada pelo próprio Engels. A lenda refere-se ao fato de que Morgan seria supostamente “silenciado” por outros cientistas burgueses pois suas teorias questionavam os fundamentos morais da sociedade burguesa. Essa lenda é retomada por Matorin[17], e também é usada em fontes de pós-guerra.

Por fim, um ponto em específico do esquema de Morgan parece ter sido grandemente atraído pela escola soviética: que Morgan “provou o caráter comunista da comunidade primitiva”. Tal é a crença na natureza comunista da sociedade primitiva entre antropólogos soviéticos que N. Ya. Marr, o ditador virtual da linguística soviética até 1950 – até que foi purgado e crucificado na etnografia soviética por ninguém menos que a autoridade do próprio Joseph Stalin[18] – estabeleceu um esquema de evolução linguística no qual o plural veio antes do singular e pensou que era “a consciência coletiva da produção coletiva com ferramentas coletivas[19]” (Mind is Minding)[20]. Neste sentido, a antropologia se justifica em lidar com a sociedade primitiva, já que a sociedade por vir evidencia, como diz Marx, “o ressurgimento do tipo social arcaico em sua forma mais elevada[21]”.

III
A orientação e as posições da antropologia soviética sofreram uma série de mudanças desde a Segunda Guerra Mundial, embora, como um proeminente antropólogo americano uma vez colocou, “o jogo ainda continue”. Morgan ainda é altamente reverenciado, mas, estranhamente, às vezes por razões que são o oposto daquelas que contribuíram para a sua posição elevada no panteão soviético anterior à guerra. A estrutura social primitiva ainda é enfatizada, como pode ser visto a partir da revisão cuidadosa dada por Kislyajov[22] de uma obra de M. O. Kosven intitulada Matriarcado. Esta revisão também mostra a existência, no pensamento soviético, de um esquema evolutivo subjacente relacionado ao de Morgan. Bachofen é mencionado nesta revisão e, desta vez, ele é o único a ser “silenciado” pelos estudiosos burgueses. Não se deve concluir com esta afirmação que Bachofen substitui Morgan como o principal ancestral-herói da antropologia soviética; a análise sugere, em particular, que o precedente do matriarcado sobre o patriarcado foi estabelecido pela primeira vez por um cientista russo, Millar, cujas obras foram lidas por Marx, e quem era “antecipado a McLennan[23]”. Além disso, é necessário lembrar das “maravilhosas declarações sobre o matriarcado feitas por Lênin e Stalin”.

No entanto, a reivindicação de prioridade mencionada acima para um cientista russo é uma das pequenas manifestações de uma alteração importante em outros conceitos antropológicos, uma mudança que ocorreu na Rússia soviética após a última guerra: o surgimento do nacionalismo e, com ele, a reintrodução da noção de “cultura” em oposição à de “estágio evolutivo”; a admissão da difusão como um processo histórico; uma maior ênfase nas origens (“etnogênese”) em contrapartida a uma menor ênfase em uma interpretação funcional da estrutura da sociedade primitiva; e, por último, mas não menos importante, uma crítica muito mais clara e mais específica ao trabalho antropológico ocidental. Entre os corolários menores desta grande reorientação, pode-se mencionar uma atitude severamente crítica em relação ao conceito de “superorgânico”, para o qual os cientistas soviéticos pareciam mais inclinados nos dias anteriores à guerra, ou seja, uma avaliação favorável de Boas (mas não da escola) apesar de uma atitude negativa em relação à abordagem empírica expressada em termos incertos em fontes anteriores à guerra e pós-guerra e ao uso de evidências somatológicas e linguísticas em problemas de “etnogênese”.

Citações detalhadas que ilustram todas essas novas tendências faria com que perdêssemos nosso foco. No entanto, a maioria das novas formulações da antropologia soviética tem alguma influência sobre a reavaliação russa de Morgan e pode ser exemplificada por depoimentos de assuntos em que Morgan esteve interessado.

A sobrevivência do evolucionismo na doutrina soviética moderna é bem demonstrada em um artigo intitulado “Lenin and contemporary problems in ethnography”[24]. Esse artigo aborda, principalmente o esquema evolutivo de Lenin, que certamente foi derivado de Morgan e Marx, e que Lenin esboçou, em particular, em uma de suas cartas para Gorki. Uma das características deste esquema foi que ele equiparou o estágio “horda primitiva” com o estágio biológico dos pithecanthropus. O autor do artigo faz questão de enfatizar que essa existência de um estágio intermediário entre macaco e homem, já fora “insinuado” por Morgan na forma de um estágio e que ele, e posteriormente Engels, chamou de etapa inferior de Selvageria. O ponto em questão não deixa dúvidas quanto à primazia de Lenin sobre Morgan; pode-se ver a persistência do evolucionismo, bem como o surgimento do nacionalismo na antropologia pós-guerra.

A relação exata entre evolucionismo e nacionalismo, especialmente em seus aspectos estritamente científicos, como a noção de “cultura”, se manifesta de forma mais esclarecida em um artigo de Kushnert[25] intitulado “The Teachings of Stalin on the Nation and National Culture and their Meaning for Ethnology”. Nesse artigo, o que nos dias de pré-guerra tinha sido denominado “estágio” é redefinido como “conteúdo cultural”. A “forma cultural”, por outro lado, é aquilo que explica as diferenças nacionais, sendo a nação definida como “uma sociedade historicamente agravada, com base em uma linguagem comum, território, vida econômica e formação psíquica, manifestada em uma cultura comum[26]”. Esses “ensinamentos de Stalin” podem, portanto, serem vistos a partir da noção em que permite o uso da “cultura” como um termo susceptível de tomar o plural sem interferir com o conceito evolutivo previamente estabelecido de “estágio”.

O fato de isso ser prontamente aproveitado pelos antropólogos soviéticos pode ser visto a partir da quase ausência de artigos que tratam de grandes problemas esquemáticos na etnografia soviética de 1947 a 1950 e a publicação de artigos como “The Problem of Somatological Continuities in the Period of ihe Fatyanovo Culture”[27], de T. A. Trofimova. Esse artigo não fala apenas da “cultura Fatyanovo”, mas também usa os dados da antropologia física para estabelecer conexões históricas, um método de pesquisa que teria sido considerado inadmissível em tempos pré-guerra, quando o método físico era considerado o “produto da sociedade ambiente”; a raça foi negada; e foi dito que o homem era “criado pelo trabalho”, e não pela evolução biológica[28].

Para retornar a Morgan, é evidente que a partir do que foi exposto, teoricamente, a posição de Morgan como um grande evolucionista, embora talvez um pouco abalada, poderia muito bem ser mantida nos círculos soviéticos, sem prejuízo dos “ensinamentos de Stalin”. No entanto, se alguém se volta para a consideração da difusão como um conceito na teoria soviética, nota-se que a posição de Morgan no panteão soviético está sendo mantida de uma maneira bem diferente.

Um artigo de Averkyeva[29] publicado em uma das primeiras edições da pós-guerra da Soviet Ethnography a chegar aos Estados Unidos ainda não é inteiramente claro sobre esta reavaliação de Morgan. Leslie White, no entanto, é elogiado juntamente com Meggers, como um dos poucos antropólogos sensatos à esquerda nos Estados Unidos que se manifesta em defesa de Morgan; um retorno às ideias de Morgan, neste artigo, é visto como a única solução para impasse em que a antropologia americana se colocou. White também é favoravelmente citado, de passagem, como defensor dos estudos de cultura em seus próprios termos. Novamente uma alusão a uma postura favorável em relação ao conceito de “superorgânico”, que remete ao tempo pré-guerra, alusão essa que, em artigos subsequentes, não só permaneceu sem amplificação como também foi esquecido.

Um artigo de Levine[30] na edição seguinte da Soviet Ethnography inicialmente esclarece essa nova postura. O argumento nele apresentado é de que Morgan, não mais do que Tylor, não viu nenhuma contradição entre a difusão e a evolução e “não ignorou a difusão[31]”. Mais do que isso, a crítica ocidental “imputa a Morgan os erros do evolucionismo aos quais ele é muito menos propenso do que Tylor[32]. A grandeza de Morgan, nos dizem, reside principalmente em seu “materialismo” e no fato de que as periodizações de seu esquema são baseadas em “estágios de produção[33]”. Morgan é, assim, creditado por ter “redescoberto” o marxismo[34]. Se nós comparamos essa visão de Morgan com aquela realizada na literatura soviética anterior à guerra, observamos que, enquanto no pré-guerra Morgan era reverenciado pelo seu esquema evolucionista – a dialética da história era considerada por Matorin como uma formulação especificamente marxista – a nova visão de Morgan coloca seu esquema em segundo plano e vê Morgan essencialmente como uma pequena réplica de Marx e, como Marx, é uma autoridade porque ele é “materialista” em sua compreensão do processo histórico.

Este mesmo artigo contém uma crítica bastante divertida de Lowie. A respeito de Lowie, o artigo diz que o autor “cita extratos do diário de Morgan em suas viagens na Europa para mostrar o provincialismo do evolucionista, mas na realidade apenas ilustra sua própria atitude tendenciosa em relação a Morgan[35]”. Essa crítica não obteve ressonância.

O artigo de Levine também desaprova explicitamente o conceito “idealista” de cultura formulado por White, no qual White se equivoca, apesar de seus outros bons pontos[36]. Além disso: “White é fortemente crítico em relação a Boas. A este respeito, ele está errado[37]”. No entanto, suas críticas à escola de Boas são bastante aceitáveis.

Um artigo um pouco posterior de Tolstov[38] retoma novamente Morgan, e dessa vez define uma nova postura em relação a ele sem qualquer ambiguidade: “Defensores de Morgan (Leslie White) tentam fazer dele o símbolo de uma luta para reestabelecer as tradições do evolucionismo. Na verdade, o ponto forte de Morgan reside precisamente no fato de ele não ser um evolucionista, mas um materialista histórico; em contrapartida, os seus elementos metodológicos evolutivos indubitavelmente frágeis constituem o seu ponto fraco[39]”. O evolucionismo de Morgan é, portanto, responsável pela falácia de algumas de suas conclusões. A autoridade é dada a este julgamento pelo fato de que “as bases do evolucionismo foram severamente condenadas por Marx em sua revisão feita por Bastian[40]”.

O nome de Morgan frequentemente figura nas análises e críticas das tendências burguesas da antropologia ocidental que, ultimamente, tornaram-se mais frequentes. O artigo Averkyeva[41] marca a primeira manifestação de maior atenção dada aos desenvolvimentos ocidentais. Levine[42] é o próximo nesta série. Mesmo o artigo de Tolstov mencionado acima em conexão com o esquema evolutivo de Lênin contém a seguinte afirmação:

“Um dos objetivos táticos centrais da ciência etnográfica soviética é uma divulgação sistemática, impiedosa e consistente dos conceitos reacionários mais recentes da etnografia burguesa (a assim chamada “antropologia” no sentido anglo-americano)[43]”.

Um artigo de Levine, Roginsky e Cheboksarov[44] equivale o racismo de Hitler ao de Churchill, Coon e Hooton. Butinov[45] analisa a nova doutrina americana de “psicoracismo”, decorrente de Spengler (um precursor de Rosenberg) e defendida pela escola criminal-psiquiátrica de Kardiner (um discípulo de Rosenberg[45]). Potekhin[47], em um artigo intitulado “The Goals of Lhe Fight with Cosmopolitism in Ethnography” diz: “Solitário, a figura de Lewis Morgan está na história da ciência burguesa[48]”. Aqui, como nas outras fontes mencionadas anteriormente, Morgan é louvado por se aproximar de uma compreensão materialista da história. “A etnografia americana executou um salto mortal de ponta a cabeça no que se refere à posição elemental-materialista de Morgan através da escola de Boas até o misticismo de Kroeber e toda a escola etnopsicológica[49]”. Essa formulação está de acordo com a posição de críticos soviéticos que Kroeber e Kardiner exemplificam pouco mais do que variantes da mesma abordagem geral falaciosa. Uma citação de Kroeber sobre o tema de reunião de recursos culturais mundiais para lidar com crises culturais é seguida por uma citação de Lenin, aparentemente considerada relevante:

“As características pessoais dos professores modernos são tais que se pode encontrar entre eles pessoas de extrema estupidez… A posição social dos professores é tal que apenas aqueles que vendem ciência aos interesses do capital podem tomar posse, isso se eles concordarem em contradizer os socialistas e propuserem o absurdo mais incrível, as incongruências, e as bobagens mais descaradas.”

Neste ponto, uma digressão pode ser feita para apresentar mais algumas passagens do artigo de Potekhin, que marca, em alguns aspectos, o clímax de uma série de tendências pós-guerra na ciência soviética:

“Entre alguns etnógrafos e folcloristas soviéticos, a idolatria da ciência burguesa europeia ainda não morreu. Todavia, nem todos os nossos cientistas consideram seu dever patriótico de propaganda, em primeiro lugar, das realizações da ciência russa; pelo contrário, em algumas obras, há um certo desdém para com os etnógrafos e folcloristas russos. Mencionaremos, neste contexto, o trabalho do prof. Prop, The Historical Roots of the Folk Tale, o qual recebeu uma avaliação merecidamente severa pela nossa comunidade e pela nossa imprensa. Tanto os pesquisadores russos quanto estrangeiros escreveram sobre o conto popular, e são precisamente os russos que dão uma interpretação científica e materialista ao conto popular. O Prof. Prop passa em silêncio por tudo o que os revolucionários democratas fizeram, bem como o trabalho de Maxim Gorki, que é essencialmente o fundador dos estudos folclóricos soviéticos. O Prof. Prop refere-se consistentemente ao intuitivista Lévy-Bruhl, ao etnógrafo fetichista Frobenius, ao místico Kroeber e, como resultado, dá uma interpretação totalmente não-científica do conto popular. Prof. Prop atua como um cosmopolita sem-terra, para quem a matéria da prioridade russa na ciência não existe, a quem a honra da pátria não é bem-vinda. O Prof. Prop silencia o fato indubitável de que os folcloristas russos sempre estiveram em um grau mais elevado do que os folcloristas da Europa Ocidental e exagera o mérito de várias autoridades europeias[50]”.

Seguindo essa passagem, outra vítima, o professor Ravdonikas, é selecionado e criticado pelo fato de que muitas referências a fontes estrangeiras “desordenam” suas páginas. Este mesmo artigo indica por que os cientistas russos se recusam a entrar em cooperação com os do Ocidente:

“E, finalmente, o objetivo da luta contra o cosmopolitismo consiste em revelar de forma sistemática e desprezível todos os apóstolos do cosmopolitismo na etnografia estrangeira. O propagandista do cosmopolitismo não é um “camarada cientifico”, mas sim um mercenário de reação e de agressão imperialista. A crítica dos etnógrafos cosmopolitas americanos nas páginas da etnografia soviética até agora consistiu em singelas análises. Esta crítica não foi suficientemente afiada, mas foi conduzida de forma um tanto objetivista, frequentemente sem uma avaliação e sem as conclusões políticas necessárias[51]”.

Quanto a Morgan, suponho que a sua fama na URSS esteja em declínio. Antes da guerra, a antropologia soviética parecia lhe dever a maior parte de sua estrutura. Nos anos que se seguiram à guerra, tornou-se apenas o expoente de uma abordagem que Marx e Engels e, depois deles, Lenin e Stalin, levaram ao seu apogeu; Além disso, o evolucionismo tornou-se apenas uma parte do conceito soviético de cultura. O último artigo soviético a mencioná-lo já afirma que ele “chegou perto” de uma concepção materialista da história. É provável que a futura ciência soviética, caso lembre de Morgan, o usará apenas como um símbolo, ocasionalmente como uma mera figura representativa, para lembrar aos seus adeptos que em algum momento houve esperança para a ciência anglo-americana de “antropologia”.

Pode-se afirmar que a retirada de Morgan como uma influência generalizada do estágio da ciência social soviética não foi sem efeitos salutares. Se se compara a antropologia soviética da década de 1930 com os últimos anos da década de 40, surpreende-se ao descobrir que, em muitos aspectos, a linguagem utilizada hoje pela etnologia, arqueologia, antropologia física e provavelmente linguística – embora pouco tenha saído da linguística desde o recente expurgo de N. Ya. Marr – está mais perto do dos antropólogos ocidentais do que há uma década e meia, se desconsiderarmos as passagens anti-cosmopolitas. Considerando que a versão mais antiga da antropologia soviética ocasionalmente poderia produzir trabalhos tão valiosos como Pervobytnoye Obsltchestvo (Sociedade Primeva)[52], de Efimenko, um artigo como “Towards Posing the Problem of Ethnogenesis”[53], de Tokarev, já teria sido impossível. Este artigo é dedicado a uma avaliação cuidadosa das evidências normalmente utilizadas na reconstrução da história de grupos étnicos considerados como unidades históricas, além de examinar o problema das origens étnicas com rigor e sensação de problema que muitos arqueólogos americanos sequer chegaram perto para rivalizar.

COLUMBIA UNIVERSITY
NEW YORK, NEW YORK

Todas as ilustrações são cenas retiradas do filme 2001 – Uma odisséia no espaço (1968).

Notas
[1] Graduado em Ciências do Estado pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestrando em Direito também pela Universidade Federal de Minas Gerais.
[2] O autor agradece ao Dr. A. L. Kroeber, que teve a gentileza de ler o manuscrito e sugerir a sua publicação.
[3] Kagarov, 1933.
[4] Ibid,, p. 88.
[5] Ibid., vid. pp. 89-92.
[6] Matorin, 1933.
[7] Ibid., p. 6.
[8] Wolfson, 1937.
[9] Matorin, 1933, p. 12.
[10] Kagarov, 1933.
[11] Rogayevsky, 1933, p. 27 and ff.
[12] Efimenko, 1938.
[13] Kagarov, 1933, p. 97.
[14] Ibid., p. 98.
[15] Matorin, 1933, p. 15.
[16] Azadovsky, 1933, p. 52
[17] Matorin, 1933, p. 6.
[18] Stalin, 1950a and b.
[19] Meshchaninov, 1933a, p. 118.
[20] Se alguém interpola essa definição para a linguagem como dada por Marr e citada por Meshchaninov (1933b) no volume de ensaios publicados em homenagem a N. Ya. Marr em seu apogeu – “a linguagem é a manifestação coletiva da consciência coletiva, cuja formulação e totalidade é dependente do pensamento e das técnicas da concepção mundial” (p. 27) – o resultado é realmente surpreendente.
[21] Kagarov, 1933, p. 88.
[22] 0 Kislyakov, 1949.
[23] Ibid., p. 215.
[24] Tolstov, 1949.
[25] W Kushner, 1949.
[26] Kushner, 1949, p. 6.
[27] Trofimova, 1949.
[28] Bogayevsky, 1933, p. 23.
[29] Averkyeva, 1947.
[30] Levine, 1947.
[31] Levine, 1947, p.237.
[32] Ibid., p. 238.
[33] Ibid., p. 238.
[34] Ibid., p. 238 (A “redescoberta” de Marx é um dos padrões consistentes da antropologia soviética. Marr é creditado com este feito notável em um ensaio em sua homenagem, Morgan é creditado com isso pelo menos três vezes – Levine, 1947, p.223, Tolstov, 1949, p. 15; Potekhin, 1949, p. 131, – e com base em uma declaração original nesse sentido de Engels).
[35] Levine, 1947, p. 236.
[36] Ibid., p. 240
[37] Ibid., p. 236.
[38] Tolstov, 1947.
[39] Ibid., p. 15.
[40] Tolstov, 1947, p. 15.
[41] Averkyeva, 1947.
[42] Levine, 1947.
[43] Tolstov, 1949, p. 15.
[44] Levine, Roginsky and Cheboksarov, 1949.
[45] Butinov, 1949.
[46] Butinov, 1949, p. 13.
[47] Potekhin, 1949.
[48] Ibid., p. 13.
[49] Ibid., p. 15.
[50] Potekhin, 1949, pp. 22-23.
[51] Potekhin, 1949, p. 25.
[52] Ehenko, 1938.
[53] Tokarev, 1949.

Siglas
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WOLFSON, S. YA., 1937, Semya i Bruk v ikh Istoricheskom Ruzvitii (A família e o casamento em seu desenvolvimento histórico). Moscow-Leningrad.

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  1. Diferente do que é comum no Passa Palavra, este artigo não trata de lutas, mas, por vias oblíquas, mostra o atraso em que se encontra o marxismo das organizações comunistas no Brasil, mesmo em relação ao limitado marxismo da URSS dos anos 1950. Certa vez entrei num debate com um camarada da juventude do PCB que envolvia questões estruturantes a respeito da história da família enquanto instituição social. Reconheci na fala dele todos os argumentos de Engels no Origem da família…; fiz questão de mostrar a ele que os conhecia, e depois tentei, infelizmente em vão, mostrar-lhe que a antropologia havia acumulado muito mais registros etnográficos e desenvolvido muitas explicações alternativas além daquelas de Engels e Marx ou, melhor dizendo, das de Morgan que ambos vulgarizaram. Resultado: pequeno-burguês foi o menor xingamento que ouvi. Pensei ser um caso isolado. Mas não: para incontáveis outros no meio marxista a antropologia parou em Morgan, que Marx e Engels resgataram do “esquecimento”. Note-se que é quase o mesmo problema de que trata o autor desta resenha temática; a diferença é que ele tratou da evolução da antropologia soviética num sentido positivo, que progressivamente ultrapassava Morgan, Marx e Engels com base em outros achados ainda na década de 1950, enquanto que para a vulgata marxista atual a antropologia está ainda mais para trás do que os soviéticos de quase setenta anos atrás consideravam.

  2. Manolo, que contribuições e avanços você vê na antropologia contemporânea, autores e obras? Não pergunto isso querendo salvar Morgan, tampouco sua influência sobre Marx e Engels. Posso estar mal informado, mas o século XX viu uma antropologia marxista/estruturalista, uma funcionalista (principalmente em torno da “dádiva”, mas não só), uma culturalista de diversos matizes (escola de Chicago, Sahlins, Boas, Geertz etc) e a pós-moderna (multiculturalismo, identitarismo). Alguns trabalhos anarquistas também. No campo do marxismo um dos principais temas foi o das sociedades camponesas, em virtude das revoluções russa, chinesa, vietnamita etc. Os trabalhos funcionalistas clássicos são sempre incontornáveis, mas com limites claros. O culturalismo, que surgiu com o discurso pseudo emancipador do “relativismo cultural” deu no multiculturalismo. Sobre os anarquistas, o que tenho visto é a abordagem libertaria de temas “clássicos” (indigenismo, etnicidade,etc), ou trabalhos puramente pós-modernos (etnografias de “estilo de vida”). Tenho por princípio buscar as contribuições políticas, teóricas, epistemológicas em todas as grandes áreas do conhecimento. Mas, ando com muita dificuldade de encontrar algo na antropologia, com relevância para o anticapitalismo. Sugestões?

  3. Na realidade, um campo que tem se desenvolvido a passos largos é a “antropologia corporativa”, que tem dado grandes contribuições ao capital, com seus estudos culturais sobre nichos de consumidores, ou da “cultura organizacional” nas empresas. Não à toa, muitos antropólogos têm se tornado CEO’s de grandes corporações.

  4. Concordo que a antropologia pode se prestar a vários usos, desde o entendimento do funcionamento de sociedades já extintas até a contra-insurgência e os departamentos de RH. Mas vamos devagar com o andor.

    Em primeiro lugar, Morgan era um evolucionista linha dura. “Selvageria”, “barbárie” e “civilização”, por exemplo, eram para Morgan três etapas necessárias do desenvolvimento humano em qualquer tempo e lugar. Ora, não bastasse Franz Boas ter argumentado muito bem contra este tipo de evolucionismo ortogenético, mesmo a paleoantropologia atual e suas técnicas mais refinadas de pesquisa arqueológica e de campo são incapazes de dar suporte a este evolucionismo duro, e as hipóteses de Boas parecem — “parecem”, foi o que escrevi — ter mais força frente aos fatos.

    Em segundo lugar, o estudo comparado das estruturas familiares, inaugurado quase que de uma só canetada por Morgan (e isto lhe devemos, inegavelmente), avançou muito mais com os estudos de campo posteriores. Como se sabe, a família foi durante milênios e em várias sociedades ao redor do globo a principal referência enquanto unidade produtiva, e seu estudo detalhado, embora deva a Morgan sua primazia, não pode nem deve mais ficar preso a sua tipologia. Os anticapitalistas beneficiariam muito de um estudo acerca do papel central que as famílias tiveram na resistência à proletarização lá onde o capitalismo foi-se imiscuindo à força entre os séculos XV e XX, e decerto entenderiam melhor a nova onda conservadora (para melhor combatê-la) se entendessem mais matizadamente o papel das famílias proletárias e das famílias burguesas em seu processo constitutivo.

    Terceiro, há hipóteses ainda em desenvolvimento na paleoantropologia que, conquanto controversas, retiram a família do centro do debate e levaram-no às condições materiais de vida, produção e sobrevivência pré-históricas, abrindo novos campos de pesquisa. Penso, por exemplo, nos defensores do que tenho chamado de “hipótese cerealista”, segundo a qual o Estado só veio a surgir, depois da revolução neolítica e da invenção da agricultura, em meio a quem produzia cereais, mais fáceis de estocar (e portanto de serem roubados ou acumulados) que tubérculos ou raízes. Os defensores desta hipótese costumam exagerar em seu alcance, mas, em sendo confirmada, passaria a haver um lastro mais seguro para a explicação da origem do Estado, mais abrangente e historicamente enraizado que a evolução das famílias rumo a uma comunidade ampliada.

    Como se vê, não tenho a menor paciência para “citar” “autores”. Pouco me importa se são estruturalistas, funcionalistas, culturalistas, marxistas ou anarquistas, importa-me saber se o que dizem corresponde à realidade ou não.

  5. Manolo, obrigado pela resposta. Como eu disse, não se tratava de forma alguma de uma defesa de Morgan, mas de um ceticismo quanto ao papel científico e político que a antropologia pode, ou não, ter. Quando pedi autores não foi no sentido academicista, mas no de mapeamento de um possível debate relevante, que pudesse me conduzir para um debate diferente do que está colocado, com hegemonia do multiculturalismo (confesso que senti aqui um mal humor tipicamente bernardiano). A grande contribuição de Boas foi, sem dúvida, o enfrentamento com um evolucionismo duro, que justificou vários processos de dominação intercultural (como parte de uma dominação política e econômica mais ampla. No entanto, o princípio do relativismo cultural permitiu a justificativa de expressões de dominação intraculturais, reforçadas pela rejeição das críticas vindas “de outras culturas”, tomadas sempre como formas de “dominação etnocêntrica”. Ou seja, a dominação externa é etnocêntrica, a interna é “cultural”. Mas, enquanto falo aqui em “dominação”, a exploração corre solta. Se as anotações etnográficas de Marx talvez não tenham feito mais do que reproduzir Morgan (não só), pelo menos seu método nos deixa com um instrumental potente para analisar o real a luz dos processos de exploração, algo rejeitado por praticamente todas antropologias (não farei aqui apologia da antropologia dita marxista, que muitas vezes partiu de outros aspectos teóricos de Marx). Também não vejo como profícua a a crítica total contra Marx e Engels, por mais condenável que seja a antropologia de Morgan. Naquele momento existiam duas grandes concepções em disputa, a da Cultura Universal, de corte iluminista (mas também colonialista) e a da kultur, das culturas, que permitiu tanto sustentar uma antropologia anticolonialista (base para o posterior multiculturalismo), como fornecer elementos culturais para a demarcação do estado prussiano, que viria a se tornar a Alemanha. De fato, o panorama teórico e político não era promissor para o debate cultural. Ou era, mas Marx não conseguiu transcender as posições imediatas neste aspecto, como o fez sobre tantos outros. Não esqueçamos da importante contribuição da antropologia filosófica de Feuerbach ao pensamento de Marx. Importante lembrar, cruzando com o debate sobre o problema das nações, que Bakunin tem sido retomado por antropólogos anarquistas como sendo o baluarte do libertarismo cultural, enquanto o mesmo advogava para si a sociologia de Comte e defendia a manutenção das nacionalidades, na fórmula: enfrentar o Estado-nação, destruir o Estado mas manter a nação. E isto tem sido o suficiente para denunciar o “evolucionismo” de Marx. Mas, concordo contigo, talvez só a arqueologia coloque novos problemas para a antropologia, ou novas evidências que permitam rever as conclusões para antigos problemas.

    Saudações!

  6. Manolo,

    Acho que sua interpretação de Morgan está muito influenciada pelo modo como Morgan é apresentado nas Universidades (sobretudo nas disciplinas de Antropologia). “Evolucionista linha dura”? Poxa, Morgan foi muito mais do que isso, cara: foi o primeiro teórico a lidar com questões de parentesco – e nesse sentido, é claro que o estudo avançou com os campos posteriores – , foi o primeiro a apresentar um desenvolvimento histórico a partir das condições materiais de subsistência, fez extensos trabalhos de campos antes mesmo de existir o conceito moderno de “etnografia”, e além disso assinou um livro com um indío, algo impensável para aquela época. Morgan deve ser criticado, é óbvio que sim! Mas não nos moldes Boasianos que você trata como uma “argumentação muito boa contra o evolucionismo”. É fundamental notar, como avalia Marvin Harris, que a antropologia se desenvolveu em reação ao marxismo. E isso diz muito sobre o que a antropologia é – e nesse sentido, inclusive, isso é algo importante para você, afinal, uma abordagem marxista em essência “corresponde à realidade”, ou não é marxista.

    A ideia de traduzir esse artigo foi justamente de revisitar Morgan, não ao modo como o Neo-evolucionismo fez, mas sim de tentar dar um outro olhar a vestígios que falhamos em não ver. A antropologia se desenvolveu sem um necessário acerto de contas com os evolucionistas, que embora eu critique suas abordagens, também tem muito a contribuir. Defendo também uma antropologia marxista que vá além da antropologia oitocentista, e acho que esse ponto que você levanta é fundamental.

    Bom, se me permitem, gostaria de sugerir a vocês um texto que escrevi recentemente que apresenta melhor minhas formulações: https://blogdaboitempo.com.br/2017/12/04/criticas-ao-artigo-marx-na-floresta-de-jean-tible-debate-margem-esquerda/

    Além disso, me coloco à disposição para debatermos mais esses assuntos, será um grande prazer pra mim (afinal é a isso que venho destinando minhas investigações): https://www.facebook.com/lucas.parreira.77

    No mais, fico feliz de saber que há interessados no tema.

    Abraços,

    Lucas

  7. Desculpem a demora para responder os comentários sobre a tradução que fiz, estive bastante ocupado nos últimos dias.

    Abraços

  8. Lucas,

    demonstre que Morgan não era um evolucionista ortogenético, e demonstre onde, em meu comentário, não reconheci nele outros méritos. Cuidado para não fazer do debate nos comentários apenas trampolim para ligações externas.

    Irado,

    concordando com outros aspectos de seu comentário, tenho apenas uma ressalva: a antropologia filosófica é coisa bastante diferente disto que hoje conhecemos como antropologia, e é tão antiga quanto a própria filosofia. Aristóteles, neste aspecto, é muito mais influente sobre Marx que Feuerbach, não só antropológica como ontologicamente; só temos a impressão da maior influência de Feuerbach sobre Marx e Engels porque, primeiro, os dois dedicaram-lhe uma crítica direta, e segundo, porque Aristóteles só aparece por trás de Marx para quem saiba vê-lo.

  9. Manolo,

    Não faço “trampolim para ligações externas”. Pelo contrário: me exponho e apresento quem eu sou, e não me escondo do/no debate. Fiz um convite, coube a você aceitar ou não. Sua recusa – como aconteceu – foi uma opção. Mas agradeço pois o simples fato de debatermos aqui é sinal de que você, no mínimo, teve contato com um trabalho que produzi. E só para retomar: caso queira manter esse debate para além desse fórum, continuo aberto e coloco meu perfil do face a sua disposição.

    Quanto ao Morgan, não nego que seja um evolucionista. Seria estúpido afirmar isso. Como eu disse – e às vezes é penoso ter que repetir o óbvio – “Morgan foi muito mais do que isso”.
    Cabe aos intérpretes saber o que vão privilegiar em um autor tão complexo e por vezes tão reduzido à leituras fáceis quanto a sua. Quer fazer coro ao Boas e aos Boasianos, tudo bem, assim sendo seu discurso não é nada mais do que mais do mesmo.

    Abraços

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