Era negro, homossexual, ex-traficante de drogas e viciado em cocaína. Passou anos preso, foi violentado, contraiu HIV e sofreu um AVC. Perdeu a fala, paralisou-se seu lado esquerdo, andava quase a se rastejar. Depois de solto, amigos de uma trupe de palhaços bufões adotaram-no como mascote e levavam-no a todos os cantos. Quase sempre bebiam e cheiravam juntos, uma farra só. Curiosa era a forma como se relacionavam com aquele homem. Como ele não falava, valiam-se da forma mais cruamente popular para quebrar o gelo e assim zombavam-no a cada mínimo gesto. Se ria, imitavam sua cara. Se reclamava, imitavam seus grunhidos. Se ia em direção ao mar, diziam que queria se afogar de propósito para ser agarrado por trás pelo salva-vidas. A resposta era sempre a mesma: entre risos desalinhados daquela cara contorcida, bamboleava com passos arrastados para encurralar quem o importunava e acertar-lhe um dolorido golpe de direita. Crueldade? Talvez, mas de quem? A verdade é que quando estava com os amigos era o centro das atenções e isso claramente o deixava feliz. Passa Palavra

1 COMENTÁRIO

  1. MONDO CANE

    de Antonin Bertolt Samuel Artaud Brecht Beckett
    tradução e adaptação: Plínio Marcos (Barrela, Homens de Papel etc.)

    VITA BREVIS, ARS LONGA : A VIDA É BREVE, A ARTE É LONGA.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here