Por Gilets Noirs
O MEDO MUDOU DE LADO, OS GILETS NOIRS CHEGARAM!
AUTODEFESA DOS IMIGRANTES, OS GILETS NOIRS CONTRA-ATACAM
1. Em qualquer lugar onde um imigrante sofre, os Gilets Noirs [Coletes Pretos] podem surgir.
Para nós o lema da França é: Humilhação, Exploração, Deportação.
2. Nós nos organizamos noite e dia, nos alojamentos para imigrantes [foyers] e nas ruas, contra esse Estado racista e os seus cúmplices.
Nós somos de todas as nacionalidades, fazemos nossas reuniões em várias línguas diferentes. Apesar do que o Estado quer de nós, vivemos uma vida política intensa e autônoma. Não nos escondemos mais!
3. Estamos aqui para defender os alojamentos para imigrantes, contra as prisões em massa realizadas pela polícia.
Estamos do lado da população imigrante largada na rua, na Porte de la Chapelle ou na Porte d’Aubervilliers, onde é submetida todos os dias aos cassetetes e ao gás lacrimogêneo da polícia.
4. Estamos sempre prontos para surgir aos milhares quando um patrão explora um imigrante!
5. Nós nos mobilizamos nos aeroportos sempre que o Estado francês decide deportar uma pessoa estrangeira para o seu país de origem, seja o Afeganistão, o Sudão, o Senegal ou qualquer outro.
6. Sempre que temos oportunidade, denunciamos o colonialismo, as guerras e as pilhagens econômicas realizadas pela França e por outras potências invasoras regionais ou mundiais.
7. Primeira, segunda, terceira geração — nós destruiremos os centros de detenção.
8. O medo mudou de lado.
Deixando as nossas famílias, atravessando o deserto, atravessando o mar, atacando a delegacia, atacando La Défense [1], atacando o aeroporto, atacando o Panthéon [2], os Gilets Noirs chegaram.
9. Tudo o que um imigrante faz em França deve ser realizado no ESCURO. Nós somos os Gilets Jaunes [Coletes Amarelos] escurecidos pela raiva!
GILETS NOIRS, O QUE QUEREMOS? DOCUMENTOS!
Queremos documentos para todos e para todas, estando na França há 1 dia ou há 10 anos, com ou sem trabalho, e para todas aquelas e aqueles que vão chegar. Não nos deixaremos dividir entre “os que pedem asilo”, “os refugiados” ou “os sem documentos”. Somos todos imigrantes.
Já não temos medo da Polícia e da Morte, o que nos dá medo é a humilhação. Temos orgulho do que somos, temos orgulho das nossas peles. Avançamos com o nosso orgulho. Dia e noite. Viemos ao mundo com o nosso orgulho e morreremos com ele.
Não lutamos apenas por documentos, mas contra o sistema que cria os imigrantes sem documentos. Lutamos por uma vida digna.
Todos aqueles que lutam contra o Estado, a exploração e o racismo estão do nosso lado.
Vivemos um momento da história em que os povos oprimidos se insurgem aos milhões em todos os lugares do mundo.
Apoiamos todas as tentativas de organização que venham de baixo contra o racismo e a exploração, na França e fora dela. Fazemos parte de todas essas lutas.
Nem rua, nem prisão.
Documentos e liberdade!
O programa em nove pontos foi escrito a fim de organizar de forma sucinta, direta e convocatória os princípios, propostas e posicionamentos do movimento. O começo da escrita se deu como um modo de apresentar o movimento aos Gilets Jaunes [coletes amarelos] em 2019, sendo, por fim, editado e aprofundado entre janeiro de fevereiro de 2020 para integrar o jornal dos Gilets Noirs, que se chama Le Papier. Mas o programa também tem sua autonomia e é difundido por vezes como panfleto nos atos. Já o vídeo foi feito recentemente durante o período de confinamento para mostrar que ao contrário do que se pensa, esse também pode e deve ser um momento de organização e luta. O vídeo mostra que os Gilets Noirs continuam a se organizar e se mobilizar nos foyers, ainda que não possam estar na rua; que nos foyers também há luta e vida política. Tradução ao português por Fernanda Morse e Zoubeïda Bradel.
Notas da tradução
[1] La Défense é o maior centro financeiro de Paris. Os Gilets Noirs atacaram a empresa Elior situada nesse bairro, em uma ação contra o capitalismo e o imperialismo que espaços como esse representam e contra a exploração dos imigrantes corroborada pela empresa.
[2] O Panthéon é um monumento que fica em Paris e nele estão enterradas figuras de referência para a Nação francesa, como Denis Diderot, Jean-Jacques Rousseau, René Descartes, Voltaire e Victor Hugo. A ocupação do Panthéon foi a ação dos Gilets Noirs que mais repercutiu, justamente pela importância e o teor simbólico deste monumento. Assim está escrito em comunicado do movimento na ocasião: “Somos os sem documentos, os sem voz, os sem rosto para a República Francesa. Viemos ao túmulo de seus grandes homens para denunciar as suas profanações.”