Por Invisíveis
O governo de Goiás está dizendo que se a população se comportar tudo vai dar certo. É assim que tentam transferir a culpa para o indivíduo pela ascensão meteórica dos casos e mortes de covid em Goiás, mesmo com tudo aberto. Mas quem são os responsáveis pelo barzinho irresponsável? Primeiro: quem está “acabando com a quarentena para ir ao bar”. São as pessoas que decretaram a flexibilização dela e PERMITIRAM QUE BARES FUNCIONASSEM. São Íris Rezende e Ronaldo Caiado. Essa permissão se dá por pressão e com a conivência da maioria dos donos de bares, representados pelas associações patronais (Abrasel Goiás, cujo presidente é Fernando Jorge e Fecomércio Goiás, presidida por Marcelo Baiocchi) que não se importam em expor seus clientes e, principalmente, os trabalhadores desses locais a um grande risco de contaminação por Covid-19. Isso porque ambientes fechados e pequenos oferecem alto risco de transmissão de coronavírus e o protocolo elaborado pelo governo, com a participação da UFG, não tem respaldo científico e eficácia nenhuma. Mas por quê?
Por que reabrir bares, andar de transporte coletivo e trabalhar em espaços fechados é tão perigoso? É porque existem duas formas de transmissão do coronavírus: as gotículas expelidas na tosse e no espirro e as micropartículas expelidas na fala e na respiração. As gotículas são pesadas e caem nas superfícies a alguns metros de onde foram expelidas, no entanto, as micropartículas mais leves permanecem em suspensão no ar. Recentemente, um grupo de cientistas que estuda a transmissão por micropartículas chamou a atenção e a OMS reconheceu o grande perigo desse tipo de transmissão em ambientes fechados e pequenos. Nesses locais, por falta de ventilação que espalhem as micropartículas, elas ficam suspensas no ar por até três horas depois que foram expelidas. Além da falta de ventilação, o tamanho do ambiente e o tempo de exposição também são importantes. Isso porque é necessário um número considerável de micropartículas para causar a infecção e desencadear a doença, e quanto mais tempo no ambiente, mais micropartículas se acumulam nas mucosas do nariz, olhos e boca. Em ambientes pequenos, a densidade de micropartículas virais é maior ainda. Isso significa que os trabalhadores nesses ambientes correm altíssimo risco porque ficam muito tempo lá. Nas lojas, enquanto clientes entram e saem em pouco tempo, eles ficam lá por oito ou mais horas expostos. Já nos bares, além dos trabalhadores, os clientes também estarão em risco porque tendem a ficar bastante tempo no local.
Mas o governo não diz que é só seguir o protocolo que está respaldado pela UFG e, portanto, pela ciência? Não. Como foi explicado acima, ambientes sem ventilação são perigosos e não tem como ir ao bar de forma segura. O protocolo simplesmente ignora o que sabemos sobre a transmissão do coronavirus. As recomendações feitas em Goiânia incluem diminuição da capacidade de lotação, distanciamento entre as mesas de pelo menos dois metros e uso da máscara enquanto não estiver sentado à mesa. Todas essas medidas não protegem da transmissão por micropartículas acumuladas no ar de ambientes fechados porque elas são menores e penetram na máscara de tecido. O distanciamento de dois metros não garante nada porque as partículas ficam suspensas no ar. Máscaras de tecido não são eficientes porque as micropartículas menores passam pelos poros e espaços entre o tecido e a face. Além disso, nem precisa usar máscara na maior parte do tempo enquanto estiver sentado à mesa. Como saber quando alguém vai tossir ou espirrar? E quem está mais exposto? Os trabalhadores! Porque ficaram horas nessa situação. Saber disso também muda a lógica de pensar segurança para o trabalho no comércio. Se o cliente está seguro, o trabalhador que está horas lá trancado não está. Logo, não tem como fazer compras ou frequentar bares de forma segura. Esse protocolo é uma falácia e ao fazer isso você estará se expondo e expondo a um grande perigo todos que trabalham nesses ambientes.
Trabalhadores e trabalhadoras do comércio e dos bares, falem com seus colegas sobre a situação. Eles também estão preocupados e juntos vocês podem denunciar e lutar por condições dignas de trabalho que garantam saúde. Nós, os Invisíveis, somos um coletivo que acredita na organização solidária de trabalhadores para a manutenção da saúde e da vida. A vida de cada trabalhador e trabalhadora importa! Recentemente elaboramos um manual simples de sobrevivência no ambiente de trabalho, a partir das nossas experiências e algumas informações técnicas confiáveis ele pode vir a te ajudar.