Por Invisíveis

O coletivo Invisíveis entrevistou Isabelly Guabiraba, integrante do Coletivo Utopia Negra Amapaense, que está na luta pela retomada da energia e abastecimento de água no Amapá. Recebemos o relato em forma de texto, o qual reproduzimos na íntegra.

O apagão teve início por volta das 20h30 do dia 3 de novembro (terça-feira passada), enquanto ocorria uma tempestade em Macapá. Uma suposta explosão seguida de incêndio comprometeu os três transformadores na mais importante subestação do estado, que fica na Zona Norte desta cidade.

A população ficou sem comunicação por vários dias, até que na semana passada foi articulada uma medida de racionamento, retomando 70% do fornecimento de energia e estabelecendo um rodízio que ficaria organizado da seguinte maneira: durante 6 horas a energia seria estabelecida em alguns bairros da capital e dos demais municípios. Porém, o racionamento está, até o momento, sendo distribuído de forma injusta, sendo a maior parte da distribuição em bairros centrais da capital, enquanto populações periféricas, quilombos, assentamentos e comunidades tradicionais ribeirinhas ainda estão sem energia desde o início do apagão. Durante a falta de energia também ocorreu falta de água e de alimentos.

O governo federal, estadual e prefeituras não se mobilizam em nada para reverter o caso, e durante essa semana também foi divulgado que o apagão na verdade não foi um acidente e sim uma negligência. Desta forma, foram abertas algumas investigações com prazo de 30 dias para apurar as causas e responsabilidades.

Até o momento a única resposta que se teve do governo estadual foi uma postagem na conta pessoal do Twitter do governador Waldez Góes. Ele disse que o prazo emergencial para o retorno de 100% do fornecimento da energia seria de 30 dias. A população, indignada com essa resposta e com a situação desumana, se mobilizou para ir às ruas reivindicar seus direitos como cidadãos. Os manifestos tiveram início na semana passada com moradores de periferias, clamando uma resposta do governo, mas durante esses atos ocorreram várias intervenções da Polícia Militar, violentando drasticamente essas pessoas, com balas de borracha, gás lacrimogêneo e ainda ameaçando as pessoas que organizam estes atos.

A partir dos manifestos periféricos, foram organizados outros atos mais enfatizados no centro da cidade de Macapá, em frente ao palácio do governo estadual. Já nesses atos a intervenção policial foi minimizada e a quantidade de pessoas foi bem maior. Em solidariedade às pessoas mais afetadas com essa calamidade, algumas instituições estão se mobilizando para arrecadar e distribuir água potável e alimentos. Entre elas o Coletivo Utopia Negra Amapaense e o Amapá Solidário, que estão distribuindo para moradores de pontes (áreas de ressaca), quilombos, comunidade tradicionais e pessoas de terreiros, essas que foram umas das mais prejudicadas com o Apagão do Estado e que relataram que, em todos esses anos, nunca tiveram esse tipo de apoio.

A realidade sobre o descaso com essas pessoas não é só de agora, é de sempre! A população amapaense clama pela representatividade e ajuda nacional, pois nós, como amazônidas, sempre somos esquecidos perante o resto do país.

A Amazônia é explorada e sua população é desprezada!

Deixo aqui algumas formas de como podem nos ajudar neste momento:

ATENÇÃO!

Ainda estamos recebendo qualquer tipo de doação e fazemos o apelo a quem ainda não doou.

Vakinha Amapá Solidário: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/acao342-solidariedade-ao-amapa-movimento-342

Vakinha Coletivo Utopia Negra Amapaense: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/sosamapa-apagaoamapa-campanha-de-arrecadacao-de-agua-potavel-para-o-bairro-do-congos-macapa-ap

Banco do Brasil
Agência: 2825-8
Conta Poupança: 43.332-2
Variação: 51
Cleiton de Jesus Rocha – CPF: 021.705.052-29.

Ilustram este artigo fotografias de Samia Brenda

1 COMENTÁRIO

  1. Minha solidariedade aos trabalhadores do Amapá.
    Aqui em baixo procurarmos lutar contra as privatizações, que nosso contexto aumentam exponencialmente o risco de situações como essa.

    Porém não compreendo o que significa clamar por representatividade. representatividade do que? Por que representatividade? O que isso resolveria a situação? Parece que a palavra representatividade virou um jargão na onda das políticas identitárias mas que parece que só fazem sentido a essas lutas, que são lutas por fatias de mercado e ascensão de novas elites.

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