Por Alan Fernandes
No dia em que este artigo começou a ser escrito, três mortes por conta da COVID-19 foram notadas no bairro de Cavalcanti, na Zona Norte do Rio de Janeiro, além de inúmeros outros casos da doença. O Hospital Municipal Salgado Filho, o mais próximo da região, estava com sua taxa de ocupação em 76%, tendo aumentado para 81% num intervalo de 3 dias. Hoje, de seus 314 leitos, apenas dez estão disponíveis para atender casos de COVID-19 — sem falar que a unidade atende toda a XV Região Administrativa, além de bairros adjacentes. O bairro foi identificado pelo Painel da Prefeitura do Rio de Janeiro como de risco alto de transmissão. Ao todo, foram 305 infectados e 47 mortes.
Entrevistei Suellen Souza, estudante de pedagogia e moradora do bairro de Cavalcanti, que junto de outros jovens de periferia tem procurado fazer frente ao coronavírus na região. Foi assim que ajudou a fundar a Frente Cavalcanti.
O grupo começou a atuar em propostas de solução imediata, como a tarefa de providenciar cestas básicas, material de higiene e informação sobre os cuidados com a pandemia. Ao invés de o coletivo ter se dissolvido ainda naqueles primeiros meses, decidiu em vez disso encabeçar projetos culturais, artísticos e pedagógicos. Além disso, a Frente Cavalcanti é um dos coletivos que arquitetou o Dia Estadual de Mobilização para Enfrentamento da COVID-19 nas favelas, data que será celebrada no dia 10 de fevereiro.
Estiveram, também, na organização da manifestação pelo Auxílio Emergencial e contra o aumento do custo de vida que ocorreu em Vila Isabel (RJ) em junho de 2020. Na ocasião, se percebia que, conforme o número de beneficiários diminuía, ou quando ocorria o bloqueio do benefício, ou mesmo quando os R$ 600,00 eram insuficientes, os moradores de Cavalcanti careciam de itens de primeira necessidade em seus lares. A arrecadação e distribuição das cestas básicas deu-lhes um fôlego necessário. Além disso, o coletivo também produziu e distribuiu centenas de máscaras de pano, bem como potes de álcool em gel, na tentativa de desacelerar a contaminação no bairro.
Já agora, em março de 2021, a Frente Cavalcanti pretende iniciar a campanha Comunidade Viva. Entendem que o retorno precoce às aulas presenciais na rede básica pode ser responsável pelo aumento na curva de contágio, mas, tendo em vista que ele ocorrerá, os militantes e apoiadores do bairro estão fazendo intervenções nas escolas e distribuindo material de higiene pessoal. “Os órgãos responsáveis poderiam fazer o mesmo”, dizem, “mas não podemos esperar. Até que o façam, o contágio poderá aumentar rapidamente”.
Além destas ações, a Frente Cavalcanti também realizou na comunidade comemorações de eventos especiais como o Natal e o dia de São Cosme e São Damião — com o diferencial de que procuraram assegurar distanciamento social e incentivar o uso de máscaras, procurando aproveitar o momento para debater a importância dos cuidados individuais e coletivos frente à catástrofe que vivemos. O maior empecilho para o movimento é que os militantes são todos moradores da comunidade e compartilham das mesmas dificuldades econômicas que os demais moradores: a maioria deles recebeu o auxílio emergencial, ficaram desempregados ou tiveram problemas financeiros. O fato de as favelas de Cavalcanti serem pouco conhecidas também tornou mais difícil — até hoje — o recebimento de doações para que as ações continuassem ocorrendo.
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As atividades do Coletivo Frente Cavalcanti nunca se interromperam. Doações podem ser feitas para alimentar o trabalho desenvolvido.
Banco Inter – 077
Felippe da Silva Lima
CPF – 12404223771
Agência – 0001
Conta – 9587101
Transferências via Picpay ou Pix podem ser feitas para o login @millena.mv
Para doação de máscaras ou de álcool 70° (líquido ou em gel), entrar em contato via WhatsApp: +5521974429622.
Para informações de qualquer outra natureza, procurar o coletivo nas redes sociais (aqui e aqui).
Este artigo atende ao chamado público que fizemos por intervenções sobre a temática Pandemia e trabalho. A imagem de destaque foi reproduzida diretamente da página de Facebook do coletivo Frente Cavalcanti.
Pessoas protegem pessoas, e como ninguém virá nós salvar,essas iniciativas mostram como a gente mesmo pode acionar os mecanismos que possamos criar.
Temos a tendência de colocar muita fé nos sistemas que nos governam e presumir que eles nos protegerão de danos quando, na maioria das vezes, os sistemas nos falham a cada passo com meias medidas mornas e meandros burocráticos, diferente do exemplo do texto acima.