Por Luto
Imagine o seguinte cenário: trabalhadores dedicados, muitos deles idosos, que passaram anos de suas vidas cuidando da limpeza, conservação e jardinagem de campus da capital. De repente, sem aviso prévio ou garantias, esses trabalhadores são descartados como meros objetos obsoletos. A gestão do campus Goiânia Oeste do Instituto Federal de Goiás (IFG) comeu mosca, deixou vencer o contrato com a empresa terceirizada e, em vez de garantir uma transição justa, deixou essas pessoas à deriva, ao não dar inicio ao processo para fazer a contratação de uma nova empresa.
A Greve: A Tempestade Perfeita ou um Bode Expiatório?
A gestão do campus, em um ato de desespero ou talvez de pura negligência, culpou uma recente greve dos servidores efetivos pela incapacidade de concluir os trâmites necessários para a substituição da empresa terceirizada. Três meses de paralisação foram suficientes, segundo eles, para paralisar a burocracia e inviabilizar a continuidade dos serviços. No entanto, o comando local de greve afirma que não houve qualquer solicitação de diálogo ou tentativa de acordo por parte da gestão para resolver a situação. Eles só souberam da situação do contrato quando os servidores já estavam sendo demitidos, e a gestão sequer apresentou qualquer demanda de trabalho relacionada à renovação do contrato. Em uma reunião com os TAEs [Técnicos Administrativos], uma fala do diretor deixou a entender que a situação poderia ser uma oportunidade para ajuste um orçamentário, pois a gestão informou que o contrato é o mais caro da instituição e que o período sem contrato gerou uma economia para o orçamento do campus. A greve se tornou, assim, o bode expiatório perfeito para justificar a ineficiência e a incapacidade administrativa e interesses obscuros.
Uma Despedida Digna de Sátira
Como um teatro do absurdo, a gestão do campus optou por realizar uma festa junina no último dia de trabalho dos terceirizados. Os trabalhadores, vestidos com trajes típicos e alimentados com um almoço festivo, foram convidados a sorrir e celebrar a própria demissão. Era como se lhes dissessem: “Obrigado pelo serviço prestado, agora dancem para esquecer que amanhã estarão desempregados. Comam uma paçoca, tomem um quentão!”. A festa, uma alegoria cruel, não conseguiu esconder a realidade brutal enfrentada por essas pessoas.
Incerteza e Desespero
Sem respostas claras e com promessas vazias, os trabalhadores foram lançados à incerteza. Um dos demitidos, com a voz preocuapada, relatou: “Tivemos uma reunião bem antes desse almoço e eles nos disseram que vai entrar uma outra empresa, mas não garantiu nada para nós. O aviso nosso terminou dia 20 de junho, e até agora não estamos sabendo se vai contratar a gente de novo ou se não vai…”. Esses homens e mulheres, que dedicaram anos ao cuidado do campus, agora enfrentam o fantasma do desemprego e da insegurança financeira.
Propostas Vãs e Vidas Suspensas
Em uma tentativa de apaziguar a comunidade acadêmica, a gestão propôs a antecipação das férias coletivas, citando a falta de serviços essenciais como motivo. No entanto, essa medida paliativa não resolve o problema dos trabalhadores demitidos, que permanecem em casa, aguardando ansiosamente por notícias sobre seu futuro. Um deles desabafou: “Estamos tudo em casa, até agora não falaram nada para nós, não”.
Reflexão Final: Uma Tragédia Anunciada
O caso do IFG é uma tragédia moderna, onde a burocracia e a negligência se sobrepõem à dignidade humana. Trabalhadores, muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade, são tratados como descartáveis, vítimas de um sistema que valoriza mais os trâmites administrativos do que as vidas que deles dependem. Não podemos aceitar que, em pleno século XXI, pessoas sejam tratadas como meros peões em um jogo de poder e ineficiência. Em vez de uma festa junina, os trabalhadores do IFG mereciam respeito, diálogo e garantias de emprego. É hora de repensar nossas prioridades e lembrar que, por trás de cada função, existe um ser humano com histórias, sonhos e necessidades. Afinal, não se constrói uma instituição forte sem valorizar aqueles que, diariamente, cuidam dela.
A Recontratação e a Persistente Injustiça
Na última quarta-feira [24 de julho], os trabalhadores foram recontratados, trazendo um alívio temporário. No entanto, a empresa anterior não realizou o acerto financeiro referente às férias, décimo terceiro salário e FGTS, agravando a situação financeira dos trabalhadores. Como desabafou um dos trabalhadores: “Agora é trabalhar mais um mês para ter dinheiro, pq a empresa não pagou… e estamos dois meses sem o salário e nada dos direitos. Mas já tá bom!” A luta desses trabalhadores continua! E a ingerência do IFG?
A obra que ilustra este artigo é “O Triunfo da Morte”, de Pieter Bruegel (1526/1530–1569)