O coletivo Invisíveis nasce da percepção de técnicos e estudantes de universidades públicas, de que suas lutas contra a precarização do serviço e trabalho se fortalecem quando atuam em solidariedade com trabalhadores terceirizados. E de que a condição da precarização é uma tendência para boa parte da sociedade no capitalismo atual, portanto do funcionalismo público. Mas também pelo elemento solidário e radical de crítica à sociedade e pressão contra patrões, que traz a organização e ações com os setores terceirizados. Como por exemplo, setores da limpeza, cozinha, vigilância quando param e protestam numa universidade pública, o impacto causado causa mais prejuízos às empresas e gestões públicas do que setores tradicionais: técnicos, professores e estudantes. Nesse conflito, percebemos a necessidade de organizar e estruturar nossa organização em um modelo mais eficiente e profundo para promover as nossas lutas como classe trabalhadora.
- DE TRABALHADORES PARA TRABALHADORES: As lutas do passado, com suas análises, são tão importantes quanto as do presente. Buscamos tirar os problemas e conflitos do imediato, para construir análises e propostas para uma transformação social a favor da classe trabalhadora e pelo fim da sua exploração. Para formular isso é preciso usar o conhecimento e ciência que fizeram das lutas dos trabalhadores até aqui, assim como é preciso , com suas lutas e questões atuais, construir novas análises. Sempre em conjunto com as experiências reais e com quem vive elas. Para não se fechar em esquemas prontos e nem isolar os trabalhadores nos problemas imediatos.
- ANONIMATO: Para construir essas ações, não podemos tratar as condições dos terceirizados como ocorre normalmente em mobilizações sindicais ou do funcionalismo público. A terceirização é uma forma de trabalho autoritária, reforça um poder de punição e perseguição. As dificuldades para ação sindical e de greve são tão graves ou piores do que foi nos tempos da Ditadura civil-militar. Então, agimos com um método que começa como CLANDESTINO e INVIDIVIDUAL. Priorizando um trabalhador que queria relatar sobre suas condições de vida e trabalho. Mantendo seu ANONIMATO, para dentro e fora de sua categoria. Tirando quando os terceirizados se expõem em organizações formadas na luta contra os patrões, o anonimato é prioridade. Não revelamos a identidade de um terceirizado que passa relatos nem para outro colega que também passa relatos. Ela pode ser de forma declarada, quando um militante do Invisíveis se apresenta e estabelece esse contato sigiloso, que pode ter continuidade por whatsapp ou outros meios. Ou por contato virtual. Ou de forma não declarada, com conversas informais e coletando reclamações que terceirizados façam.
- DENÚNCIA: Para garantir o anonimato, é recomendado que a fonte seja consultada mostrando a publicação, para que ela opine como e o que deve ser dito para sua segurança. Não violando o anonimato, é publicado o relato. Para que os relatos? Eles servem como dados para mostrar que o fato da exploração acontece e com uso de repressão, chantagem e violência. E eles fazem sentido quando são publicados, que podem servir como denúncia, para constranger chefes e patrões. E também como material político, que faz discussão sobre táticas de resistência e sobre a vida cotidiana num material construído pelos próprios terceirizados. Isso já é um ensaio de organização no local de trabalho, com o estímulo de um meio de publicação de denúncias anônimas e vindo de colegas dela ou de outras categorias. Com conflitos que podem estar interligados entre si, como tipos de assédios e calotes em pagamentos. Ou que simplesmente despertem solidariedade.
- JORNAL E MIDIA: A produção de publicações pode ser por jornal impresso e pelas redes sociais (página do Instagram, site). Essas são as formas mais constantes de publicação dos relatos. A medida que sejam publicizados, eles servem como material para promover conversas com terceirizados, para que promovam novas denúncias. Nessa crescente, é estabelecido um circuito de comunicação, que coloca o Invisíveis com seu jornal e redes sociais em contato com trabalhadores de várias categorias expondo relatos e vendo as publicações, que agitam a produção de novos relatos e materiais. Assim, promove-se uma discussão entre esses trabalhadores, sem violar seu anonimato. Isso pode promover uma queixa conjunta da empresa, da instituição e propostas para promover uma paralisação ou protesto. E nisso, com outras propostas de material, como cartazes e panfletos.
- ATUAÇÃO LOCAL: Tendo uma atuação conjunta envolvendo o Invisíveis, os meios de comunicação e os trabalhadores dos locais de trabalho (empresas terceirizadas, universidades, etc), o coletivo pode dividir e analisar seu espaço físico de militância. Um militante do coletivo analisa o que acontece nos conflitos e locais, nas discussões nas reuniões. E pensa em como a luta pode se potencializar na articulação com coletivos, partidos, movimentos e trabalhadores que queiram ajudar. Mas foca sua atuação no local em que acompanham, de preferência onde trabalham, estudam, vivem ou frequentam. Isso é parâmetro para o Invisíveis definir suas prioridades: é nesses locais onde pode aplicar a rede de apoio aos trabalhadores. Pois neles pode ocorrer a articulação para se pensar uma mobilização com protestos, eventos, paralisações ou greves.
- ATOS E MANIFESTAÇÕES: Podemos separar as ações de protestos e eventos públicos do Invisíveis em tipos. A tipo 1 são aquelas em que os trabalhadores ultrapassaram o anonimato e romperam o risco de segurança. Muitas vezes por uma luta onde a demissão, rescisão ou o emprego estão em jogo. Ou simplesmente gerou uma inquietação em que amplo número dos trabalhadores se mobilizou, como uma paralisação contra o atraso de salários. Cabe aí ao Invisíveis articular apoio para potencializar a luta. A do tipo 2 é quando os trabalhadores ainda precisam manter o anonimato, portanto o coletivo atua construindo um protagonismo que não passa por eles. Seja do Invisíveis, ou de outra organização. O que importa é manter a articulação com os trabalhadores, que se sintam apoiados e se fortaleça uma organização mais sólida.
- PRIORIDADES: Quando ocorre uma mobilização, os militantes do Invisíveis se direcionam temporariamente para apoiar essa atividade, mesmo que não seja de seu local. É preciso concentrar esforços e garantir o foco para isso. Caso mais de uma atividade seja realizada, os militantes se dividem. Isso vale também para atividades de solidariedade que deliberarmos como importantes, como greves e lutas de setores que o Invisíveis não atua diretamente: como luta de professores da rede municipal por exemplo.
- INDEPENDÊNCIA: O Invisíveis é uma organização independente: não se submete a outra e busca seus meios de se manter. Apartidária: não participa da disputa eleitoral ou se coloca a serviço de algum partido, mesmo que não negue a articulação ou participação de membros dele. É anticapitalista, por buscar a superação e destruição do sistema capitalista. E a solidariedade de classe como critério principal de atuação e articulação do coletivo, pois conta mais como podem contribuir com isso do que com ideologias e filiações partidárias.
- TRABALHO DE BASE: O foco do Invisíveis é o TRABALHO DE BASE, todo militante do coletivo deve estar envolvido em alguma atividade local. Seja acompanhando ou contribuindo com as demandas definidas em reunião. Caso não possa realizar essas atividades, é preciso discutir com o coletivo e propor que novas condições sejam feitas. Para que possamos saber com quem contar e como está o nosso contingente humano diante do conflito social que enfrentamos.
- DECISÃO COLETIVA: Essa não é uma tábula rasa. Ela obedece às demandas do nosso tempo e dos enfrentamentos da luta feito pelo Invisíveis. Ela deve ser atualizada e modificada conforme o tempo e as necessidades discutidas pelo coletivo.
Dezembro 2024, Rio de Janeiro