Por ex-trabalhadora

Uma vez estávamos em uma formação da Campanha “De olho aberto pra não virar escravo”, na cidade de Araguaína, Tocantins. A proposta era pensar os rumos da campanha, as práticas e etc.
O subsídio para o debate era um texto escrito por uma agente da CPT que se propunha a discutir relações de trabalho que tem crescido atualmente, chamadas de “uberizadas”. Será que a precarização que esse fenômeno provoca não alarga mais a categoria “trabalho análogo à escravidão”, ampliando a tolerância que a sociedade tem sobre condições radicalmente precárias de trabalho?
Enquanto líamos trechos que descreviam algumas dessas condições uma outra agente interviu: “gente, olha aqui nós.. é a gente, os agentes da CPT, não temos horário de trabalho definido, qualquer hora é hora, passamos muitas vezes semanas sem folga e fazemos isso com espírito de sacrifício mobilizados pela missão pastoral. Exatamente como o empreendedorismo faz as pessoas agirem, trabalham mais se identificando com a sua auto-exploração.”
O clima ficou tenso, ela parecia ter rompido algum protocolo ao expressar o que muitos sentem mas que ninguém expõe, ainda que seja óbvio.

3 COMENTÁRIOS

  1. A realidade de exploração e contexto de violência no campo não cessam, assim como não cessam as vozes que tentam discredibilizar organizações como a CPT, das mais éticas e com pessoas tão comprometidas com a luta por mudanças sistêmicas, dedicando suas vidas à essa causa. As experiências que vivi no ambiente de trabalho, ao contrario da uberização, “empreendedoriamo” ou exploração capitalista foi de muita solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras do campo, entre os e as agentes e com as comunidades. Deveriam ter vergonha de protagonizar esses ataques a uma organização ética e séria como a CPT, virtudes que de longe se vê que lhes falta.

  2. Margarida Alves lutava pelo direito a terra e foi assassinato por quem dizia a amar, Dorothy Stang foi assassinada por Homens, a mando de Homens, em nome da luta pela terra, Deusiana Ventura Guajajara foi assassinada brutalmente por um Homem… Poderia citar milhares de outras mulheres que foram trituradas por homens, aqui, todas em contextos campesinos ou indígenas,ou quilombola, oi pescadoras… Não importa a origem da mulher, o que impor é somos mortas todos os dias, seja a morte física, ou a morte de nossas vozes, e qualquer coisa é justificava, a honra, a luta, o ideal, o amor irracional… Ler o comentário de mulher condenando outras que se rebelam contra o sistema de opressão e abusos é triste, e prova que a luta não fez nem cócegas no sistema machista que rege nossas vidas, não estou falando da lutas da denunciantes aqui, estou falando da lutas de mulheres que a séculos dão, literalmente se sangue, pra que você, Maria, possa ter a liberdade e os meios de vir aqui condenar sumariamente suas iguais. É triste que lutas tão dignas e imperativas como a reforma agrária, seja usada como justificativa pra que o sistema de carnificina da carne e dignidade da mulher continue. É muito triste…

  3. Maria Aparecida, por que ficou tão doída com o relato acima? Sua tentativa de criar uma divisão entre o trabalho solidário dos agentes pastorais com as comunidades e a crítica contra a precarização desse trabalho é curiosa, como se quem falasse a verdade sobre o que ocorre estivesse querendo protagonizar “ataques” à CPT. Isso porque está claro no relato que a pessoa que levantou tal questionamento é agente da CPT. E não há necessidade de buscar isso fora da CPT, basta conversar com agentes de base. No próprio congresso ouvi relatos de agentes falando coisas muito parecidas das que estão sendo faladas aqui, com exceção da comparação com a uberização, que não estava em questão. Então quer dizer que, segundo sua lógica, esses agentes que se dedicam nas comunidades e dão o sangue pela instituição não são nada, querem apenas queimar a instituição quando expressam suas opiniões? O que dizer das críticas da juventude, ou das críticas das mulheres que se apresentaram no congresso? Tome vergonha nessa cara e tenha mais responsabilidade! Respeite esses trabalhadores e trabalhadoras que são críticos e não engolem as coisas de forma tão leviana como se tudo fosse preto ou branco. Aliás, é esse pensamento estreito que você está trazendo aqui que vem rebaixando cada vez mais a instituição e que é responsável pela desmoralização que passamos. Vocês que preferem vendar os olhos, continuarão cegos até quando?

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