Expressões de racismo, preconceito social, homofobia e machismo durante a II Semana da Consciência Negra da Unifesp – Baixada Santista
Na terça-feira, dia 25 de novembro, foi realizado o ato “Caminhada QUEM MATOU RICARDO”¹ como parte da programação da II Semana da Consciência Negra do campus Baixada Santista, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tendo concentração no prédio central da instituição, marcha até o local do assassinato e encerramento no interior da universidade, especificamente, no Espaço Estudantil, com a cerimônia de nomeação do Centro Acadêmico de Serviço Social: Centro Acadêmico Livre de Serviço Social Ricardo Ferreira Gama (Carfg). Nesta manifestação houve participação de movimentos sociais e da comunidade local, estes vem ocupando a Unifesp desde essa data: contribuindo com as intervenções artísticas e políticas, participando da programação da II Semana, usando a biblioteca e sala de informática, dentre outras maneiras de apropriação desse espaço.
Já no primeiro momento, instalou-se um ar de perseguição no campus uma vez que, os seguranças se comunicavam entre si por meio dos rádios e olhares tendo como alvo principal os jovens moradores das redondezas da Unifesp. Logo depois um representante da direção abordou os jovens que contribuíam com a pintura dos muros, que vem sendo coloridos há mais de um mês, questionando se eles possuíam “ofício” para tal ação. Estudantes da universidade contra-argumentaram que desde o início das intervenções ninguém teve que apresentar qualquer tipo de autorização. Este representante alegou desconhecer essa informação e afirmou que levaria o caso à direção. Um segurança disse que já havia chamado a polícia, mas esta não apareceu no campus.
As perseguições se mantiveram até que, na quinta-feira, dia 27 de novembro, a Diretora Regina Spadari, acompanhada de dois seguranças, entroou na sala de informática exigindo a saída das pessoas que não fossem estudantes, técnicos ou docentes. Os jovens se retiraram, sem falar algo. Ainda sim, a diretora disse esbravejando que aquele espaço não era uma lan house.
Regina perguntou grosseiramente a duas mulheres negras se elas eram estudantes, estas responderam que sim e ela insistiu pedindo seus crachás da UNIFESP. Junto a essas estudantes havia uma terceira, branca, que não foi interpelada, bem como outros diversos estudantes brancos que estavam na sala. Uma das estudantes negras questionou se apenas as duas deveriam comprovar ser estudantes, haja vista que inicialmente Regina disse que todos teriam que se identificar. A diretora respondeu positivamente, de maneira rude, afirmando conhecer a estudante que acompanhava elas. Então uma outra estudante, branca, perguntou se ela a conhecia, com a resposta negativa da diretora se explicitou o direcionamento de sua ação apenas às duas únicas estudantes negras presentes na sala de informática.
Diante do posicionamento racista de Regina, estudantes e docentes que estavam próximo ao acontecimento questionaram a atitude, a diretora continuou afirmando seu posicionamento.
A partir da insistência de docentes, a diretora se rendeu a deixar o local e seguir em reunião com eles. As estudantes que sofreram a violência foram a delegacia com intuito de abertura de boletim de ocorrência por crime de racismo, mas a denúncia só foi aceita como injúria. Ao mesmo tempo, outros estudantes que se indignaram com a situação, com uso de microfone e caixa de som, tentaram denunciar aos estudantes presentes do prédio o ocorrido.
Neste momento, o estudante que protagonizou trote racista no início do ano e afirmou em assembleia que o caso “QUEM MATOU RICARDO” era passado voltou a desvelar seu racismo, rindo do ato de denúncia da ação racista da diretora. Uma estudante negra questionou se ele estava achando a situação engraçada e o estudante ironizando afirmou que sim, indo pra cima da estudante, intimidando-a. Outras estudantes se envolveram no conflito, em defesa da estudante que estava acoada pelo posicionamento machista do estudante e este mandou uma delas “chupar seu pau”. Essa estudante num momento de ira, pela violência que havia sofrido, revidou com três socos que, atingiu as costas do estudante, pois ela fora imediatamente impedida de continuar a reação. O estudante conclui dizendo que o racismo está na cabeça dos pretos, que tudo é racismo, que ele estava sofrendo racismo inverso. E satirizando, falava às pessoas que passavam por ele para não rirem, se não poderiam ser acusados de preconceituosas.
Ainda como enfrentamento a ação racista da diretora, estudantes picharam “DIREÇÃO RACISTA” na porta de sua sala. Em nenhum momento a direção procurou os estudantes para discutir tudo o que aconteceu, pelo contrário, pediu que os trabalhadores não limpassem a pichação, pois ela iria se utilizar disso.
¹ Na quarta-feira, 31/07/2013, Ricardo Ferreira Gama, funcionário terceirizado da Unifesp Baixada Santista, após responder a uma ofensa feita a ele, foi agredido por Policiais Militares em frente à Unidade Central, na Rua Silva Jardim. Na madrugada de quinta para sexta-feira (02/08) quatro homens encapuzados assassinaram Ricardo na frente de sua casa com oito tiros. Mais informações no blog http://quemmatouricardo.
DEMOCRATIZANDO A UNIFESP
PELA OCUPAÇÃO PÚBLICA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA
CONTRA O RACISMO, MACHISMO, HOMOFOBIA E OUTRAS QUAISQUER FORMAS DE OPRESSÕES
a vitimização do criminoso… e la vamos unifesp!
o dia que escreverem sem inverter os fatos eu serei a primeira a apoiar tuas causas
“Regina perguntou grosseiramente a duas mulheres negras se elas eram estudantes, estas responderam que sim e ela insistiu pedindo seus crachás da UNIFESP.”
Atos praticamente idênticos ocorreram na greves de 2007 da Unesp Araraquara, e de 2009 e 2012 da USP.
Talvez sejam bons argumentos a favor das “políticas” de cotas, mas ainda acho essa demanda por si mesma muito limitada e defensiva. Esse mês foi sancionada uma lei de cotas também para pós-graduação, aqui no RJ.
http://oglobo.globo.com/economia/emprego/pezao-sanciona-lei-que-institui-cotas-para-pos-graduacao-nas-universidades-estaduais-14528171
Pablo. As duas mulheres negras discentes não são cotistas. Eu sou uma delas. Não sou cotista: ingressei por ampla concorrência.
Eu não disse e muito menos quis insinuar que eram cotistas, até porque isso não muda em nada a agressão que sofreram. Mas você vir me esclarecer que não é cotista, como se fosse algo ruim o sê-lo, já diz muito. Um dos problemas das cotas é este, na medida em que refazem uma distinção de cor da pele na Seleção acabam reforçando as bases dessa “distinção”, e as cotas se tornam um disparador de reposição do preconceito étnico dentro da Universidade. Na minha opinião cotas para ensino público fazem muito mais sentido que cotas pra negros, até porque com elas já haveria maior entrada de negros oriundos da escola pública, sem que os brancos e seu racismo incrustado tivessem uma base material para reforçar a distinção étnica. Mas é só uma opinião, não tenho acúmulo de reflexão sobre o tema, e por isso me coloquei em dúvida no comentário anterior, quando falei que “talvez sejam bons argumentos a favor das cotas”, já que talvez, mas só talvez, a agressão que vocês sofreram não tivesse ocorrido se a Universidade tivesse mais alunos negros, ao invés de ser composta predominantemente pela burguesia, que é em sua maioria branca. Mas o problema da burguesia é ela ser burguesia e não sua cor de pele. Por essas e outras minha opinião é de que lutar por cotas não é uma bandeira adequada e sim a luta pela expansão das vagas e pelo fim do vestibular: bandeiras atuam de forma substitutiva. A gente assimilou até a alma a lógica da mercadoria, e junto vieram algumas sublógicas atreladas, como por exemplo a da meritocracia, que no caso do vestibular é uma meritocracia vazia: quem “mereceu mais” entrar na Universidade Pública, o negro e pobre cotista ou o branco burguês não-cotista? O negro burguês cotista ou o branco pobre não-cotista? E por quê se preocupar com quem mereceu ou não entrar na Universidade pública? A tragédia da esquerda multiculturalista está por todo lado e também aqui nas cotas, disfarçada de combate à discriminação, quando a reforça. Nossa tarefa enquanto esquerda é acabar com essas distinções que reconhecem e co-estabelecem hierarquias a partir de cor de pele, orientação sexual, gênero, ou região (nordestino, paulista, carioca etc) e não reforçá-las (na própria demanda ou forma de luta) sob o pretexto de estar a combatê-las. Neste site há um debate sobre os dois feminismos, o que inclui e o que exclui. Creio que a mesma lógica de argumentação crítica pode ser estendida ao anti-racismo “que inclui” e “que exclui”, e talvez até mesmo a todos os movimentos que lutam por pautas específicas no âmbito da garantia de direitos às minorias, dentro da lógica capitalista de “cidadania”. As próprias cotas tem ramificações para indígenas etc. Recentemente um coletivo “negro” da UERJ chamado “Denegrir” fez alguns atos fascistas contra um professor “branco” largamente conhecido por apoiar a “causa” anti-racista, para dizer o mínimo. Alguns dos membros desse coletivo se recusam a apertar a mão de um “branco”, o que equivale às feministas que não permitem a participação de homens em nenhuma instância dos movimentos “de gênero”. E assim vamos de tragédia em tragédia, enquanto a esquerda multiculturalista hegemonizar as lutas, reforçando categorias discriminatórias, em vez de praticar sua abolição na nossa própria luta, visando a superação da lógica que está por detrás dessas falsas hierarquias discriminalizantes, que é a lógica do capital.
Sobre “vitimização do criminoso”, alguém vitimou aqui os senhores Rafael (estudante) e Dra. Regina (diretora)? Ou você está insinuando que os adolescentes ou as estudantes negras são criminosas? Tem que ver essa zueira aí Dona Aline!