Diversas organizações realizam ato em São Paulo para denunciar e cobrar medidas contra o racismo institucional. Entre 2008 e 2012, a PM paulista matou 9,5 vezes mais do que todas as polícias dos Estados Unidos juntas. Por Passa Palavra
As grandes manifestações que tomam as cidades dos Estados Unidos em protesto contra o assassinato de dois jovens negros pela polícia incrementaram-se com a solidariedade de organizações, movimentos e pessoas na tarde de quinta-feira, 18/12, numa marcha realizada na cidade de São Paulo.
Parte da população preta e branca, majoritariamente pobre, resolveu passar pelo belo centro paulistano e, entre os reluzentes enfeites natalinos, desfilaram outros símbolos – como cartazes e bandeiras – e cantorias para alegrar e multiplicar as cores na cidade.
Atrocidades e assassinatos específicos da polícia militar brasileira, especialmente paulista, foram cobrados, ao tempo em que se lembrou da universalidade de tais atos, como os ocorridos nos Estados Unidos, permitindo, com isso, desenvolver um sentimento de solidariedade com os oprimidos independentemente de nacionalidades. Contribui, assim, para superar falsas métricas e hierarquias pós-modernas, como se o oprimido e morto pela polícia no norte fosse menos morto ou oprimido do que ao sul da fronteira.
Como recordavam alegremente os manifestantes em coro:
Em cada periferia uma história diferente: de como a polícia mata gente inocente.
Ou em cartazes:
Como se soletra racismo? Polícia Militar.
Em novembro a área de estudos da violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) lançou a última versão do Mapa da Violência no Brasil de 2002-2012. O levantamento constatou que não houve grandes mudanças nas taxas de homicídio como um todo. Em 2002, a taxa nacional foi de 28,9 por 100 mil habitantes, e em 2012, de 29. Porém, ao olhar para a diferenciação de cor há um grande salto de homicídios da população negra. No início do período analisado, as taxas de homicídio dos brancos era de 21,7 por 100 mil brancos. A dos negros, de 37,5 por 100 mil negros. Em 2012, esse índice sobe para 146,5. A vitimização negra (diferença entre homicídios entre brancos e negros), no período de 2002 a 2012, cresceu significativamente: 100,7%, mais que duplicou.
E às vésperas do natal, não faltaram as tradicionais luzinhas piscando em vermelho e branco, sempre na iminência de nuvens de gás de fumaça lançadas pelos homens e mulheres, brancos e negros, majoritariamente pobres empunhando cassetetes e balas de borracha. Esses fardados agentes da ordem são os responsáveis por conquistar para o Brasil, sobretudo para o estado de São Paulo, o título de uma das polícias mais assassinas do mundo – como consta na carta oficial do ato Ferguson ao citar dados da reportagem da Ponte.
Entre 2008 e 2012, a PM paulista matou 9,5 vezes mais do que todas as polícias dos Estados Unidos juntas. Segundo o próprio Setor de Inteligência e da Corregedoria da Polícia Militar, órgãos oficiais da PM, policiais militares mataram 10.152 pessoas no estado de São Paulo nos últimos 19 anos (julho de 1995 a abril 2014) – o equivalente à população de uma cidade como São Luiz do Paraitinga, interior do estado de SP. O total de mortos por PMs no estado de SP subiu de 269 (primeiro semestre de 2013) para 434 (primeiro semestre de 2014).
Ato iniciou-se às 17h na Praça da República e encerrou por volta das 20h30 em frente ao prédio da Secretaria Pública de Segurança do Estado de São Paulo.
Fotos Passa Palavra
Ferguson in Brazil too
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