Povo de rua e a água
Carta do CATSO e da Pastoral do Povo de Rua
O relato que fazemos será escrito a partir da realidade daquilo que vivemos nas lutas com o povo de rua, lembrando de falas com eles e não como representantes de alguém, mas como participantes de uma luta coletiva que abrange uma diversidade.
A questão da água tem-se feito sentir de maneira cruel e desumana com o povo de rua e trabalhadores dos serviços da assistência social, tanto da prefeitura quanto do estado, e, sem dúvidas, de maneira mais dura com nossos amigos que moram nas ruas.
Quando a mídia começa a tornar público um problema, que entendemos que já era sabido de anos, mas que o governador por questões políticas ocultou até a crise chegar nas torneiras, o povo de rua começa a ser atingido no seu dia a dia de que forma:
• Os bares e comércios das regiões que possuem uma quantidade considerável de moradores de rua começam a negar água, com a desculpa da crise (como se os maiores culpados da crise fosse a população e não as empresas ou o governo).
• Nos serviços da assistência começa ocorrer racionamento o que dificulta a preparação dos alimentos (nos serviços que servem refeições), os banhos, a lavagem de roupas ou o consumo diário e necessário para a sobrevivência.
• Em reivindicações feitas a prefeitura de São Paulo promete medidas de emergência, medidas que até hoje não se tornam concretas.
• Nos braços abertos as pessoas que já vinham recebendo um trato vertical e regras rígidas agora sofrem com a água, pois como relatado em vídeos são 10 banhos de manhã e 10 a tarde para uma quantidade de mais 300 pessoas próximas aos serviços. Além do racionamento que eles sofrem nos hotéis que a prefeitura aluga.
• E a problemática tornam-se ainda maior quando grupos que se dizem representantes do povo de rua passam indiferente aos acontecimentos. Não se sabe de nenhuma ação de grupos como o comitê pop rua (que atua dentro da Secretaria de Direitos Humanos para uma real cobrança de ação do poder público.
• O problema quando os serviços fecham as pessoas ficam sem nenhum acesso a pouca água que resta, além que tanto a defesa civil quanto a sabesp nada fazem a respeito desta população, mostrando mais uma vez que quando se trata de pobres são os primeiros afetados pelas crises.
Poderíamos relatar muitos outros problemas, pois os relatos são diversos e além dos relatos existe o medo destas pessoas começarem a morrer de sede o que seria o cumulo de uma cidade que se diz a mais rica do país (e também a mais desigual) agora além de todos os problemas destinar o povo de rua a sede, sem nenhum tipo de ação emergencial. É preciso dizer que aqueles que estão em situação de rua em áreas mais periféricas como São Mateus e Guaianazes, na Zonas leste, sofrem também.
Além de todo o verticalismo e repressão que o povo de rua sofre nos programas que dizem ser para atende-los agora vemos o desespero de muitos por conta da água, água que não falta nas regiões nobres. Lembramos que além de todas as dificuldades que se enfrentam nas ruas temos a questão de que não há nem reservatórios para acumulo de água potável para o povo de rua e os ditos direitos humanos mais uma vez continuam mudos diante de problemas de sobrevivência.
Nos gabinetes discutem-se questões que já poderiam ter sido resolvidas com o povo de rua e trabalhadores, mas as diferenças e interesses políticos entre prefeitura e estado fazem um jogar a culpa no outro. Diante disto mais uma vez vemos que falta vontade política, pois quando se trata de água há demora, mas quando é repressão ai município e estado não demoram em agir com violência.
O município e o estado agora violentam mais uma vez o povo de rua, agora com a sede.
CATSO – Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais
Pastoral do Povo de Rua