Por Rojava Report

A despeito das privações e sofrimentos causados pela guerra em curso, Rojava está se tornando rapidamente um centro de comércio e produção, de acordo com o um artigo publicado em Özgür Gündem.

O desenvolvimento econômico está ocorrendo de acordo com as linhas estabelecidas pela direção do Movimento de Libertação Curdo, e o crescimento econômico atual está sendo liderado pelas comunas, comitês, sindicatos e organizações civis fundadas recentemente como parte do modelo democrático de economia.

Só no cantão de Efrîn, onde durante o regime Baath [partido do presidente Bashar Al-Assad] dificilmente existiu sequer uma oficina, um novo parque industrial de 84 mil metros quadrados próximo ao bairro Eşefiyê agora abriga ao menos 800 postos de trabalho provendo a sobrevivência de 5 mil famílias.

Esse crescimento só foi possível devido ao trabalho das forças do YPG [Unidades de Defesa do Povo] e do YPJ [Unidades de Defesa das Mulheres] no cantão, que mantiveram a região de Efrîn em paz e segurança, apesar da guerra civil que arrasava o resto do país. Embora tivesse uma população pré-guerra de cerca de 200 mil habitantes, atualmente mais de 1 milhão residem no cantão. O novo parque industrial está ajudando a empregar milhares de pessoas.

Todo trabalho no parque industrial é organizado por comitês, sindicatos e organizações da sociedade civil ligados às comunas.

Apesar desse sucesso, muitos locais ainda reclamam dos altos preços das baterias de veículos, equipamentos agrícolas, certas máquinas e produtos de plástico. A falta de abastecimento causada pela guerra é a principal culpada pelo aumento dos preços.

Selah Misto, um dos administradores do sindicato industrial, explicou que procedimentos foram desenvolvidos a fim de assegurar que o trabalho prossiga de forma ordenada e que seja organizado por comitês ligados às comunas de produção. Ele acrescentou que já foram formadas comunas para produzir bens como produtos de ferro, baterias e peças de automóveis. A coordenação entre as comunas tem ajudado a superar problemas com a produção e os comitês fundados mais recentemente trabalham para prover expertise e fiscalização.

Ao mesmo tempo, essas comunas se tornaram um espaço para a organização da vida social – explicou Misto, contando como um torneio de futebol foi organizado entre os trabalhadores recentemente.

Ele acrescentou que o desenvolvimento econômico faz parte do projeto da Administração Autônoma Democrática e que um outro projeto está sendo encaminhado para encontrar um lugar para 150 novos locais de trabalho.

Traduzido do artigo em inglês publicado em Rojava Report.

8 COMENTÁRIOS

  1. Confesso, não entendi… O que significam: “desenvolvimento econômico”, “crescimento econômico”, “Unidades de Defesa do Povo”, “Unidades de Defesa das Mulheres”, “assegurar que o trabalho prossiga de forma ordenada”, ” comunas para produzir bens como produtos de ferro, baterias e peças de automóveis”… Fiquei muito confuso. Há unidades (o que significa “unidade (s)?) de defesa do povo (o que significa “povo”?) e unidades de defesa das mulheres…? Economia é algo bem complicado… Devo estudar Smith ou Marx?

  2. Isto é uma ótima notícia.
    Temos como “Desenvolvimento Sustentável” uma forma de vida baseada em 3 pilares: Econômico, Ambiental, e Social.
    Se trocarmos o conceito do dinheiro pelo seu real significado – Trabalho (tempo trabalhado) e Riquezas Naturais – creio que os transformamos nos pilares básicos de uma sociedade horizontal, anarquizada.
    Força aos companheiros!!

  3. Padaqui, as Unidades de Defesa do Povo (YPG) e sua divisão feminina, as Unidades de Defesa das Mulheres (YPJ), são as forças militares dirigidas pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que estão enfrentando o avanço do Estado Islâmico em Rojava, norte da Síria. Desde a primavera árabe, com a desaparição do Estado sírio nessa região, o movimento de libertação curdo tem construído essa experiência de autogoverno comunitário pluriétnico, que chamam de Auto-Administração Democrática.

    Neste site já saíram outras notícias e artigos sobre esse processo, o qual tem sido frenquentemente descrito como uma “revolução social”. Todavia – e é nesse ponto que imagino que você queria chegar -, do ponto de vista anticapitalista, é fundamental conhecer o que está se passando na base econômica para saber o que é isso que se tem chamado de “revolução” (ou melhor, se isso é mesmo uma revolução). A maior parte dos relatos passa longe do assunto. Esse é o segundo artigo que leio que entra na economia de Rojava, mas ainda não parece muito claro que tipo de relações sociais de produção tem sido desenvolvidas nesse misto de economia cooperativa e economia de guerra.

  4. Caro Caio,

    Você traduziu bem meus questionamentos. Admito, de minha parte, um ceticismo que, por vezes, pode levar a interpretações tendenciosas e negativas. Mas a história (pelo menos a história que conheço…) tem sido teimosa em mostrar (e, naturalmente, só mostra depois que o presente se tornou passado…) as sucessivas derrotas (por “placares” maiores ou menores…) que a classe trabalhadora vem “acumulando” no decorrer do capitalismo. Por isso as dúvidas quando dos discursos de esquerda em termos como “desenvolvimento econômico”, “crescimento econômico” (não que defendamos o socialismo da miséria, mas, muitas vezes, a abundância que defendemos é justamente a abundância da lógica do capital e, por consequência, sujeita às dinâmicas e aos efeitos capitalistas), “assegurar que o trabalho prossiga de forma ordenada” (essa “ordenação” do trabalho então…! Me remete à visão um tanto “stalinista” da produção) e, para mim, o entendimento mais difícil está na divisão entre “unidade de defesa do povo” e “unidade de defesa das mulheres”. Aqui neste site a polêmica tem sido grande, mas, entendo eu (e posso estar enganado… posso estar sendo dogmático e/ou arcaico), a luta de classes continua sendo o motor da história (ainda que os sujeitos não se reduzam tão somente à burguesia e ao proletariado) e a classe trabalhadora (como um todo) mantém seu papel histórico de sujeito revolucionário.

    Por isso meus questionamentos buscam esclarecimentos quanto à verdadeira (ou o mais próximo possível da) realidade de Rejova, não para confirmar meu ceticismo, mas para combate-lo!

    Lembrando os Engenheiros do Havaí:

    “A história se repete
    Mas a força deixa a história mal contada” (Toda a Forma de Poder)

    Obrigado!

  5. Só uma correção, Caio. As YPG e as YPJ são coordenadas pelo PYD, não pelo PKK. Os partidos são filiados, mas um não manda no outro. O PKK tem ideias separatistas em relação à Turquia, enquanto o PYD busca autonomia na Síria.

  6. Acho que a busca pelo desenvolvimento econômico, mesmo que capitalista, numa região que está sendo devastada pela guerra, é natural e até benéfica. Por outro lado, nas condições de Rojava, qualquer alternativa mais à esquerda, qualquer mesmo, é melhor do que os grupos fundamentalistas, um mais à direita que o outro. Enfim, qualquer coisa mais democrática e mais progressista, no sentido econômico, deve ser bem-vinda por lá. Se essa alternativa mais democrática e economicamente mais progressista vencer, aí talvez se possa avançar ainda mais. Por outro lado ainda, no contexto do Oriente Médio, um grupo exclusivo de mulheres, em armas contra o Estado Islâmico, é algo muito avançado.

  7. Os revolucionários do mundo hoje estão indo para Kobane lutar junto com os curdos. É a revolução dos nossos dias, é a luta do nosso tempo. Eu quero ir para Kobane. Não quero morrer nesse mundo burguês de colóquios Marx, simpósios Gramsci e entrevistas para a Folha de São Paulo.

    O fato de Kobane não ser o centro das atenções e de a gente não estar se organizando pra ir pra lá documenta nosso fracasso como esquerda. Ficaremos pra história apenas como um monte de sites e debates inúteis enquanto mulheres revolucionárias como Arin Mirkan estão morrendo na Síria.

  8. O Fred disse que o PKK é separatista. É uma posição alheia ao confederalismo democrático ou uma avaliação de que a longo prazo a autonomia das regiões curdas na Turquia é inviável?

    Alguém conhece e indica uma leitura boa sobre as tensões entre o nacionalismo curdo (p.ex., com Masoud Barzani no Iraque) e o autonomismo do PYD?

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