Fazendo nascer a cada vez a boca que desejo, a boca que minha mão elege e te desenha na cara, uma boca escolhida entre todas. Por Júlio Cortázar.
Toco tua boca, com um dedo toco a borda da tua boca, vou desenhando-a como se brotasse de minha mão, como se pela primeira vez tua boca se entreabrisse, e me basta fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar, fazendo nascer a cada vez a boca que desejo, a boca que minha mão elege e te desenha na cara, uma boca escolhida entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão na tua cara, e que por um azar que não tento compreender coincide exatamente com tua boca que sorri por debaixo da que minha mão desenha.
Olha-me, de perto me olha, cada vez mais de perto e então brincamos de ciclope, nos olhamos cada vez mais de perto e nossos olhos se agigantam, se aproximam um ao outro, se sobrepõem e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas se encontram e lutam calorosamente, mordendo-se com os lábios, apoiando apenas a língua nos dentes, brincando em seus espaços onde um ar pesado vai e vem com um perfume velho e um silêncio. Então minhas mãos buscam fundir-se no teu cabelo, acariciar lentamente a profundidade de teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos em um breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E há uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e te sinto tremular contra mim, como uma lua na água.
Capítulo 68
Apenas lhe roçava a nuca e acariciava o noema, sentia ela uma pontada no clêmiso e caíam ambos em humiduras, em arranhonios selvagens, em suestalos exasperantes. Cada vez que ele insistia em relamar as incopelusas, se emaranhava numa judiação contestada e tinha de subtragar-se de cara ao nóvalo, sentindo como pouco a pouco as cortinólias se espechunavam, se iam apertregando, reduplimindo, até ficar como satiestirado, vitisanado por um trimalciato de ergomanina no qual se tivesse deixado cair gotinhas de cariaconcia. E no entanto era apenas o começo, pois em um momento dado ela tordulequeava os hurgálios, consentindo que ele achegasse suavemente seus orfelúnios. Apenas se entreplumavam, algo como um ulucórdio os enclitoriava, os envoljustava e paramovia, e de repente o clinão, a esterfurosa convulcante das mordiardidas, a judinebriante embocachuva do orgúmido, os exploêmios dos delispasmos numa nuveumítica agopausa. Evoé! Evoé! Vôopousados na crista do murélio, se sentiam balparamar, complelinos e márulos. Tremulava o troque, se venciam as mariplumas, e tudo se resolvirava num profundo pínice, em riolamas de argutendidas gazes, em carícias quase cruéis que os ondavergavam até o limite das gúnfias.
Tradução de Pablo Polese
Nota do tradutor: o capítulo 68 é intraduzível, pois foi escrito em glíglico. O que fiz aí foi no máximo uma transtradução, como dizem os irmãos Campos.
Se “o capítulo 68 é intraduzível”, por que não preferiríamos o original?
Apenas él le amalaba el noema, a ella se le agolpaba el clémiso y caían en hidromurias, en salvajes ambonios, en sustalos exasperantes. Cada vez que él procuraba relamar las incopelusas, se enredaba en un grimado quejumbroso y tenía que envulsionarse de cara al nóvalo, sintiendo cómo poco a poco las arnillas se espejunaban, se iban apeltronando, reduplimiendo, hasta quedar tendido como el trimalciato de ergomanina al que se le han dejado caer unas fílulas de cariaconcia. Y sin embargo era apenas el principio, porque en un momento dado ella se tordulaba los hurgalios, consintiendo en que él aproximara suavemente su orfelunios. Apenas se entreplumaban, algo como un ulucordio los encrestoriaba, los extrayuxtaba y paramovía, de pronto era el clinón, las esterfurosa convulcante de las mátricas, la jadehollante embocapluvia del orgumio, los esproemios del merpasmo en una sobrehumítica agopausa. ¡Evohé! ¡Evohé! Volposados en la cresta del murelio, se sentía balparamar, perlinos y márulos. Temblaba el troc, se vencían las marioplumas, y todo se resolviraba en un profundo pínice, en niolamas de argutendidas gasas, en carinias casi crueles que los ordopenaban hasta el límite de las gunfias.
Não Ulisses, não adianta, eu não colocarei cera nos meus ouvidos. Deixe-me ouvir o canto da sereia em paz!
Caros,
Não entendo o incômodo. É claro que qualquer escrito, poesia ou não, é melhor no original, mas nem todos tem acesso à língua. No caso do 68 da amarelinha então, ainda mais necessária a tradução, pois as palavras inventadas só são minimamente compreensíveis para quem fala espanhol e consegue perceber e associar sons e ritmos e musicalidade e mesclas de palavras. Fiz essa tradução pq adoro esses capítulos e muitas vezes os mostrei em espanhol pras pessoas e a resposta, em vez da catarse, era: “não entendi nada”.
CON BROMA SIN BRONCA
Sem ferir conferir:
http://blogmorellianas.blogspot.com.br/2013/10/finalmente-uma-nova-traducao-de-rayuela.html
http://revistacult.uol.com.br/home/2014/02/o-velho-cronopio/